quinta-feira, 16 de junho de 2011

SANTÍSSIMA TRINDADE: MISTÉRIO DE COMUNHÃO, AMOR E COMPAIXÃO



Quando dizemos que Deus é mistério estamos nos referindo a um Aonde e a um Alguém que faz com que nos sintamos em casa, estáveis e seguros; que nos supera, envolve e protege de um modo absolutamente gratuito e acolhedor; que nos arranca de nós mesmos nos abre ao outro; que nos rouba a passividade e nos põe a caminho. Ele é mistério porque, em sua profundidade, nos espanta e, ao mesmo tempo, nos seduz e nos leva além de nos mesmos e além do tempo presente. Bendito seja o Pai, o Filho e o Espírito Santo, porque é grande seu amor por nós. Glorifiquemos o Deus que é, que era e que vem, porque nele está a fonte da vida e de todo bem. Deixemo-nos abraçar e envolver pelo Deus que se revela como comunidade de amor. Deus amou de tal forma o mundo que, no seu Filho e no Espírito, nos deu o melhor de si mesmo.
“Deus misericordioso e clemente...”
Que as palavras não nos assustem nem escondam o que há de mais precioso em Deus. Que a consciência de que ele é mistério inexplicável não nos impeça de pensar, imaginar e avançar. Se a noção mistério não tem força de sedução e não impulsiona a ultrapassar as fronteiras da compreensão, não serve para nada e, portanto, não pode ser aplicada a Deus. Dizendo que Deus é mistério, afirmanos a necessidade de não ficar nas palavras, a insuficiência dos conceitos, e não o vazio de sentido.
Não podemos agir como pescadores que se encantam mais com as próprias redes que com o mar! O mistério da Trindade não é uma questão numérica. O que importa não é a quantidade – três, quatro ou cinco! Deus não é uma equação a ser resolvida mas uma experiência de profundidade e de profundidade que nos é possibilitada. Deus é uma experiência de um Amor gratuíto que nos envolve por todos os lados, desde sempre, em todas as situações, com todos os nomes.
Quando intuiu este mistério inominável e inapreensível, Moisés “curvou-se até o chão”, prostrado pelo espanto de um abraço assim imerecido e desproporcional: descobriu que Aquele que dá sentido e substância ao nosso ser é “misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel”, lento e vazio de cólera e punição. Moisés imaginava encontrar Deus subindo a montanha e conservá-lo na lei escrita na pedra fria, mas eis que Ele se manifestou descendo e e caminhando no meio do povo.
“Pois Deus enviou seu Filho ao mundo não para condenar o mundo...”
Um Deus que assim se revela e se esconde não tem prazer em limitar a liberdade e as possibilidades de vida das suas criaturas. Pelo contrário, cria e recria tudo permanentemente para que a vida seja sempre mais exuberante, para que todos possam viver bem, como nos lembram os povos originários. Ele é Pai e Mãe, ou vida que está na origem. Ele é Filho, ou vida que se entrega. Ele é Espírito, ou sopro vital e permanente que suscita e sustenta.
É insuficiente e falsa a imagem de um Deus pronto a punir o menor dos desvios daqueles/as que chamou à vida. É uma parcialidade culpável e mal-intencionada ensinar que Deus “não deixa nada impune, castigando a culpa dos pais nos filhos e netos, até a terceira e quarta geração” e, ao mesmo tempo, omitir que “ele conserva a misericórdia por mil gerações, e perdoa as culpas, rebeldias e pecados”. O próprio e original na revelação judaico-cristã é o perdão e a compaixão, e não a punição.
Deus é Pai e Mãe, ou vida e amor que nos antecede, Deus antes de nós. Deus é Filho, ou vida e amor compartilhados, Deus conosco. Deus é Espírito, ou vida e amor em nós, ou Deus em nós e em todas as criaturas, ao ritmo da história. E o amor se caracteriza por chamar à vida e dar proteção, e nunca por limitar ou diminuir a vida. “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu filho único, para que todo aquele que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna...”
“Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho Unico...”
Proclamando que nosso Deus é “tri-uno” estamos querendo dizer que ele não é solidão ou hierarquia, mas reciprocidade, paridade e comunhão no amor: Amante, Amado e Amor. Na Trindade se revela um Amor com rosto de pai-mãe, amor-fonte de vida; um Amor-dom com rosto de filho-filha, que é amor compartilhado e agradecido; um Amor-comunhão, com a força e o dinamismo de ambos. O Pai da tudo o de si ao Filho, no Espírito, menos sua paternidade; o Filho devolve tudo ao Pai e às criaturas, menos a sua filialidade; e o Espírito é o dinamismo vivo que suscita e sustenta este dom infinito e ininterrupto.
É verdade que dizer que Deus é Amor não ajuda muito. Esta palavra anda tão inflacionada como desgastada. Em nome dele se cometem loucuras e são feitas promessas que não duram mais que uma curta noite de verão. O amor é mais um verbo que um substantivo, e para falr responsavelmente dele devemos ter diante dos olhos o percurso histórico de Jesus de Nazaré: “sabemos o que é o amor, porque Jesus deu a sua vida por nos” (1Jo 3,16).
Suspiros românticos ou gestos de cortezia estão longe de expressar o significado do amor cristão. Amar é potencializar a vida, dar da vida pessoal e, em certos casos, dar a própria vida, como nos enisnou Dom Oscar Romero, São Luís Gonzaga (+ 21.06.1591). É isso que os evangelhos ressaltam na história de Jesus. Assim é Deus: um amor que envia; um amor que se deixa enviar e se entrega; um amor que é a comunhão entre aquele que envia e aquele que vem.
“Para que o mundo seja salvo por ele...”
No coração da melhor teologia desenvolvida pelo cristianismo está a convicção de que Deus não é um conceito a ser compreendido mais ou menos exaustivamente ou uma doutrina a ser aceita mais ou menos resignadamente, mas um mistério a ser adorado. A teologia, pelo menos a boa teologia, está a serviço da evangelização. Ou seja: a questão substancial não é compreender uma teoria mas salvar ou transformar as pessoas e o mundo.
Em Jesus Cristo, Deus se revela não apenas dizendo e ensinando algo sobre si mesmo, mas principalmente agindo, salvando: acolhendo pecadores, alimentando famintos, curando doentes, resgatando a cidadania dos excluídos. Assim, Jesus Cristo revela um Deus que não pode ser aprisionado na fria lei dos códigos de pedra ou de papel, que não assume a postura de um juiz distante e imparcial, mas um Deus que ama, que afirma o direito dos sem-direito, que age e julga em favor dos oprimidos.
Eis o caminho da Igreja, nascida para prosseguir a ação de Jesus Cristo: ser mais pastora que cuida da vida das ovelhas mais frágris e menos professora que ensina leis e doutrinas; sair do limbo dos princípios gerais e vazios e comprometer sua honra e sua influência na defesa dos grupos humanos ameaçados e explorados; engajar-se na urgente missão de salvar o mundo com a força do Evangelho e com os recursos do próprio mundo e evitar uma postura autosuficiente de julgamento e condenação.
“Sejas louvado e exaltado para sempre!”
Ao Deus Uno e Trino servimos eticamente, permanecendo no seu amor e prolongando-o criativamente. Na gratuidade despojada da oração e da celebração, vislumbramos os horizontes intocáveis da sua grandeza e dobramos os joelhos, tomados de espanto e gratidão. E então nosso louvor brota livre, belo e profundo, como uma forma estética do serviço a Deus. O verdadeiro ofício divino ou opus Dei está longe de se resumir ao recital cadenciado de velhos textos.
Daniel nos ensina a manter este louvor agradecido. Ele puxa a ladainha e pede que o acompanhemos num louvor que sabe repassar, como as contas do terço, as manifestações da bondade de Deus: na história dos nossos antepassados; nos homens e mulheres que mantêm a luta nos dias de hoje; na harmonia e na beleza do culto celebrado nos templos; na ousadia daqueles que governam e legislam com o povo e em seu nome; na grandeza do firmamento e na obscuridade misteriosa dos abismos...
“Bendito és tu, Senhor, Deus dos nossos pais!”
Deus querido e amável, Compaixão que não conhece ocaso, Abraço que não conhece limites, Comunhão que acolhe as diferenças, Amor que brilha no esvaziamento: glória a ti nas alturas celestes; glória a ti nos caminhos da história; glória a ti na intimidade das criaturas. Em ti somos, nos movemos e existimos. Tu és o ventre de onde viemos, o caminho que percorremos na companhia de tantos/as e a pátria pela qual anelamos. Ensina-nos a compartilhar o sentir e o pulsar dos irmãos e irmãs de todos os gêneros, gerações e rfeligiões. Que tua graça, teu amor e tua comunhão corram soltas nas veias das Igrejas e vençam as ameaças e punições, as leis e conceitos vazios, as hierarquizações e poderes. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Santo Antônio de Pádua

Santo Antônio de Pádua é tão conhecido por seu nome de ordenação que chamá-lo pelo nome que recebeu no batismo parece estranho: Fernando de Bulhões e Taveira de Azevedo. Além disso, ele era português: nasceu em 1195, em Lisboa. De família muito rica e da nobreza, ingressou muito jovem na Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Fez seus estudos filosóficos e teológicos em Coimbra e foi lá também que se ordenou sacerdote. Nesse tempo, ainda estava vivo Francisco de Assis, e os primeiros frades dirigidos por ele chegavam a Portugal, instalando ali um mosteiro.

Os franciscanos eram conhecidos por percorrer caminhos e estradas, de povoado em povoado, de cidade em cidade, vestidos com seus hábitos simples e vivendo em total pobreza. Esse trabalho já produzia mártires. No Marrocos, por exemplo, vários deles perderam a vida por causa da fé e seus corpos foram levados para Portugal, fato que impressionou muito o jovem Fernando. Empolgado com o estilo de vida e de trabalho dos franciscanos, que, diversamente dos outros frades, não viviam como eremitas, mas saiam pelo mundo pregando e evangelizando, resolveu também ir pregar no Marrocos. Entrou para a Ordem, vestiu o hábito dos franciscanos e tomou o nome de Antônio.

Entretanto seu destino não parecia ser o Marrocos. Mal chegou ao país, contraiu uma doença que o obrigou a voltar para Portugal. Aconteceu, porém, que o navio em que viajava foi envolvido por um tremendo vendaval, que empurrou a nave em direção à Itália. Antônio desembarcou na ilha da Sicília e de lá rumou para Assis, a fim de encontrar-se com seu inspirador e fundador da Ordem, Francisco. Com pouco tempo de convivência, transmitiu tanta segurança a ele que foi designado para lecionar teologia aos frades de Bolonha.

Com apenas vinte e seis anos de idade, foi eleito provincial dos franciscanos do norte da Itália. Antônio aceitou o cargo, mas não ficou nele por muito tempo. Seu desejo era pregar, e rumou pelos caminhos da Itália setentrional, praticando a caridade, catequizando o povo simples, dando assistência espiritual aos enfermos e excluídos e até mesmo organizando socialmente essas comunidades. Pregava contra as novas formas de corrupção nascidas do luxo e da avareza dos ricos e poderosos das cidades, onde se disseminaram filosofias heréticas. Ele viajou por muitas regiões da Itália e, por três anos, andou pelo Sul da França, principal foco dessas heresias.

Continuou vivendo para a pregação da palavra de Cristo até morrer, em 13 de junho de 1231, nas cercanias de Pádua, na Itália, com apenas trinta e seis anos de idade. Ali, foi sepultado numa magnífica basílica romana. Sua popularidade era tamanha que imediatamente seu sepulcro tornou-se meta de peregrinações que duram até nossos dias. São milhares os relatos de milagres e graças alcançadas rogando seu nome. Ele foi canonizado no ano seguinte ao de sua morte pelo papa Gregório IX.

Na Itália e no Brasil, por exemplo, ele é venerado por ajudar a arranjar casamentos e encontrar coisas perdidas. Há também uma forma de caridade denominada "Pão de Santo Antonio", que copia as atitudes do santo em favor dos pobres e famintos. No Brasil, ele é comemorado numa das festas mais alegres e populares, estando entre as três maiores das chamadas festas juninas. No ano de 1946, foi proclamado doutor da Igreja pelo papa Pio XII

quinta-feira, 2 de junho de 2011

ASCENSÃO: RECONHECIMENTO DA HUMANIDADE E DIVINDADE DE JESUS

Em geral, ascensão lembra um movimento de subida, de elevação, de distanciamento e superioridade a um nível comum e geral. Seria isso o que pretendemos dizer quando proclamamos a ascensão de Jesus Cristo? Ele teria subido ao céu, afastando-se da terra e distanciado-se do comum dos mortais? Mas a ascensão é também uma metáfora que ajuda a expressar a idéia e a experiência de ser destacado, promovido, e reconhecido. Parece ser este o sentido original e mais profundo da boa notícia pregada pelos cristãos a respeito de Jesus: a ascensão é uma outra forma de proclamar a ressurreição de Jesus de Nazaré, de afirmar que a pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra principal, de renovar nossa adesão a ele e nosso engajamento na sua missão.

“Para que conheçam a esperança à qual ele vos chama...”
Conhecemos pessoas que perderam a esperança própria do cristanismo: repetem ritos e mais ritos, movidas pelo medo e desejosas de aplacar a ira de um deus feito à imagem e semelhança dos ditadores sanguinários; somam terços, novenas e missas tentando fugir das armadilhas do mundo e ganhar uma suspeita eternidade; multiplicam rezas e devoções para evitar o compromisso com uma libertação que se realiza na história. Uma vida assim desventurada pode ser chamada de cristã?
São Paulo deseja que o Espírito Santo nos revele Deus em sua amável nudez e nos ajude a conhecê-lo em sua profundidade. Conhecer Deus assim como ele se revelou em Jesus de Nazaré significa reconhecer e assimilar a esperança para a qual nos chamou e a herança gloriosa que nos deixou: a de ser seu corpo vivo na história, corpo sob o qual tudo o mais foi colocado e acima do qual nada de significativo existe, fora o próprio mistério de Deus.
Este Jesus Cristo no qual cremos e em nome do qual vivemos não é um espírito que se compraz em esvoaçar acima do mundo. Ele compartilhou conosco a corporeidade e sentiu fome; experimentou conosco a busca e a sede; dividiu conosco a angústia e a ternura; provou como nós o mel do amor e o fel da traição; abriu conosco e para nós um caminho de vida no frio corredor da morte; espalhou sementes de liberdade nas terras infectadas pela erva daninha da indiferença.

“Por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?”
É mesquinha a visão que diz que a vida cristã se resume na aceitação resignada de uma doutrina, na harmonia simples e sedutora do cântico gregoriano, na beleza simbólica e profunda dos sacramentos, no suspiro pelo descanso eterno depois de uma vida atribulada. A vida cristã é muito mais que a contemplação extática da plenitude celeste. Os cristãos somos chamados a ser membros do corpo de Cristo, irmãos e irmãs na fraterna comunidade, sacramento da sua liberdade e profecia.
Os discípulos e discípulas de Jesus Cristo não podem resumir sua vida na simples contemplação de alguém que subiu ao céu, mesmo que este alguém seja o próprio Jesus Cristo. “Por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” Professando a ascensão de Jesus, a comunidade cristã quer ressaltar mais uma vez que aquele corpo humano e marcado pelo trabalho, este homem constestado e condenado é assumido e reconhecido pelo próprio Deus como a expressão plena e cabal de si mesmo.
Mas a ascensão não é algo que tem a ver apenas com Jesus de Nazaré. Ele é o primogênito de muitos irmãos e irmãs. Ele é a cabeça de um corpo composto de muitos e variados membros. À glorificação do primogênito segue a honra dos seus irmãos e irmãs, começando pelos considerados menores. À elevação da cabeça segue o reconhecimento da dignidade daqueles que realizam sua vontade. E isso não vale só para um futuro incerto: é fato e convicção já agora.

“Recebereis o poder do Espírito Santo para serdes minhas testemunhas...”
Isso significa também que a ascensão de Jesus Cristo não é apenas o fim de sua presença no meio de nós: é também o início de nossa missão em seu nome. A liturgia da ascensão está inteiramente focada nesta responsabilidade intransferível e inadiável da comunidade cristã. Profundamente convictos de que o Crucificado foi exaltado, os cristãos vencem o medo de tudo e se tornam testemunhas de Jesus Cristo no coração do mundo e nos pulmões da história. E, nesta missão, se recusam a reconhecer fronteiras políticas e culturais e não se intimidam diante da própria fraqueza.
Este testemunho, sendo uma forma de manter viva a memória de Jesus de Nazaré, tem força de transformação. Trata-se de ostentar em nosso corpo as marcas de Jesus Cristo: sentir o que ele sentiu; amar como ele amou; sonhar como ele sonhou; viver como ele viveu; servir os últimos e desafiar os poderes como ele fez. Ser testemunha é anunciar Jesus Cristo e defender aqueles por quem ele deu a vida, é atestar a veracidade do seu caminho e a beleza do seu projeto de vida.
Mas este testemunho não é apenas uma questão de vontade ou de mera imposição. É o próprio Sopro de Deus que nos faz testemunhas: aquele mesmo Espírito que cria tudo a partir da massa informe e vazia; que transforma um monte de ossos secos num povo que caminha e luta; que gera vida no ventre virgem de uma mulher; que une num mesmo objetivo os diferentes membros do corpo; que suscita a profecia num grupo de medrosos e torna ativa e frutuosa uma comunidade antes dependente.

“Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos.”
Como comunidade de irmãos e irmãs, este povo novo que chamamos Igreja, é constituído testemunha “em Jerusalém, na Judéia, na Samaria e até os confins do mundo”. Aqui e em todos os cantos da terra. A missão não tem fronteiras, o testemunho não conhece limites. Ser missionário é sair de si, apenas sair de si, mas sempre sair de si. E isso supõe deixar de pensar que somos maiores e melhores que os outros. E ter presente que o que temos a oferecer é um caminho de discipulado, de busca de Deus e seu Reino.
A referência da missão não somos nós individualmente, nem simplesmente a Igreja. Somente em Jesus Cristo repousa a autoridade no céu e na terra, e diante dele todos dobramos os joelhos. E não esquecemos que esta autoridade lhe vem da fidelidade até à cruz, e não da submissão à lógica do mundo, como lhe fora proposto pelo tentador (cf. Mt 4,8). É dele que recebemos a ordem de partir mundo como ovelhas entre lobos, como embaixadores de um novo céu e uma nova terra.
A palavra de Jesus Cristo atesta que sua ascensão não é um movimento de distanciamento em relação aos seus discípulos e discípulas, nem uma fuga do mundo e das suas tensões e disputas. “Estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos...” Todos os dias! E até que este mundo, graças à ação suscitada e sustentada nos cristãos pelo Espírito Santo, dê lugar a um outro mundo, àquele mundo sonhado e desejado por Deus desde sempre, ao Mundo Novo que é a finalidade da criação.

“Aclamem a Deus com gritos de alegria”
A ascensão de Jesus é a realização do cântico de Maria: Deus mostrou a força do seu braço elevando os humildes e derrubando os poderosos. É a confirmação da ensino de Jesus: os últimos para o mundo são os primeiros no Reino de Deus. É a validação da nossa esperança: a justiça e o amor são mais fortes do que a morte. É a mais nobre proclamação da dignidade dos sem-dignidade. É a descoberta da continuidade da missão de Jesus mediante o engajamento generoso daqueles/as que nele acreditam.
Que o Espirito Santo nos ajude a conhecer Deus em profundidade e nos liberte da tentação de reduzí-lo à pequena dimensão dos nossos medos e interesses pessoais e eclesiais (tão em moda ultimamente!). Movidos pelo Espírito, aclamemos com alegria jubilosa a manifestação de Deus na humanidade de Jesus de Nazaré e na comunidade dos discípulos e discípulas que ousam viver e agir em seu nome. Que ele ajude a Igreja a descobrir sua condição de corpo de Cristo, subordinada e obediente somente a ele.
Deus Pai e Mãe, mistério de amor que acolhe e envia, que gera comunhão e dispersa em missão, que une compaixão e justiça: aqui estamos reunidos/as para pedir que em nós se cumpra tua promessa. Envia à tua Igreja e a cada fiel o fogo do teu Espírito. Faze de nós uma comunidade em missão, um povo que congregue no seu seio todos os homens e mulheres de boa vontade, que seja uma imensa caravana empenhada no resgate da cidadania e da dignidade dos teus filhso e filhos, em todos os quadrantes da terra. Ajuda as Igrejas que nasceram do lado aberto do teu Filho crucificado a buscarem a unidade, sem superficilismos e sem desculpas. E não nos deixes cair na tentação do cinismo imperialista, da violência terrorista, da intolerância punitiva, da concorrência odiosa, da acomodação esterilizante. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf