sábado, 29 de agosto de 2009

“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus!”

“Todos/as nós, de diversos modos, procuramos uma vida pura e imaculada diante de Deus e dos irmãos e irmãs. Para realizar este desejo ou obrigação que nos impomos, recorremos às práticas religiosas, aos terapeutas, aos médicos, aos guias espirituais, e assim por diante. Mas nem sempre conseguimos nos livrar da tentação de construir somente uma aparência de integridade ou de garantir uma pureza que é mais distanciamento dos/as nossos/as semelhantes que amor e compaixão. Como se o mais característico em Deus fosse o medo que leva ao distanciamento e a não se misturar com as misérias e contradições humanas. O papel das religiões não pode ser esse de nos afastar hipocritamente das lutas e necessidades dos nossos irmãos. Tiago contundente: “Religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso Pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em aflição e manter-se livre da corrupção do mundo.”
“Seguem a tradição que receberam dos antigos...”
Escrevo estas linhas – sacramento de partilha e comunhão na fé e na esperança – no silêncio eloqüente e sugestivo dos Alpes franceses, neste lugar abençoado no qual Nossa Senhora se manifestou a duas crianças. Aqui nas montanhas de La Salette Maria nos revela, em seu próprio rosto lavado por lágrimas de compaixão, a beleza e a bondade de Deus. Sus lágrimas lembram as lágrimas de Jesus diante da morte de seu amigo Lázaro ou diante de uma Jerusalém que recusa se converter.
Por mais que uma certa mentalidade tenha interpretado a mensagem de Nossa Senhora da Salette como ameaça de castigo, o brilho que se nasce e se expande a partir da cruz que ela traz no peito nos lembra da fidelidade de Deus, o qual mantém sua compaixão de geração em geração e não abandona seu povo, apesar dos seus pecados. Mas é propriamente esta fidelidade de Deus que também nos interpela a assumir nossa responsabilidade pelos males que ferem a humanidade e a mudar nossos pensamentos, opções e prioridades de vida.
E um dos primeiros passos neste caminho é romper com algumas tradições: a ilusão de que a fé pode ser vivida sem ligação com a vida concreta; a mania de ‘tirar o corpo fora’ e pedir que Deus mude o mundo milagrosamente, sem nosso empenho; a hipocrisia de ostentar publicamente uma correção e uma autenticidade que não vão além da própria pele; o mito que afirma que a única saída é cada um/a cuidar de si mesmo/a.
“Ele nos gerou por meio da Palavra da verdade...”
São Tiago nos recorda que todo bem nos vem do Pai das luzes, e ele não tem fases ou períodos de mudança. O amor manifestado em Jesus crucificado não muda, mas não muda também o amor como único caminho possível para um outro mundo. “Ele nos gerou por meio da Palavra da verdade para que nos tornássemos as primeiras dentre as suas criaturas.” O batismo expressa este novo nascimento, esta vocação de sermos os/as primeiros/as que vivem o amor como princípio, como meio e como fim.
Quando falamos de amor não estamos nos referindo a um vago sentimento interior, mas a um dinamismo que encontra em Jesus sua máxima expressão e concretude: trata-se de reconhecer os outros em sua dignidade, de valorizar sua verdade e atender suas necessidades. E isso comporta decisões e ações concretas que passam longe do medo de não sujar as mãos, de envolver-se em lutas, de compartilhar sofrimentos e humilhações.
É lamentável ver que inda hoje alguns cristãos, inclusive religiosos/as e padres, estejam preocupados com a limpeza das mãos ou com a roupa adequada daqueles que se aproximam da eucaristia e sequer se incomodam com as fraturas, divisões e injustiças que ferem o corpo de Cristo no corpo dos homens e mulheres humilhados/as e excluídos/as da mesa da vida. Priorizam a limpeza das toalhas, patenas e cálices e não se importam com as atitudes verdadeiramente anti-evangélicas.
“Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos?”
Não se trata de acrescentar leis e doutrinas aos muitos fardos que os filhos e filhas de Deus já carregam sobre as costas. Deus não se compraz em escrever doutrinas e tratados jurídicos ou morais mas quer propor uma via que garanta a todos/as liberdade e vida plena. Ele propõe uma prática concreta para que todos/as vivam bem na terra que criou para eles/as. Ele faz questão de mostrar-se um Deus próximo e defensor dos últimos. “De fato, que grande nação tem um Deus tão próximo, como Javé nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?”
O problema está na tendência de transformar as propostas que conduzem a uma vida livre em leis que garantem privilégios. A aliança tinha mandamentos sim, mas seu objetivo era evitar posturas egoístas e fechadas. “Que grande nação tem estatutos e normas tão justas como toda esta lei que eu lhes proponho hoje?” Eram justas porque tinham como objetivo ajudar a conquistar a terra e a viver nela de forma solidária.
Mas a lei que os legistas e fariseus defendem diante da liberdade de Jesus e dos discípulos era bem outra coisa. “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, pois comem o pão sem lavar as mãos?” Não lhes interessava a partilha dos pães e peixes que alimentara uma multidão, mas o fato de que os discípulos e todo o povo tinham comido sem lavar as mãos.
“Vocês abandonam a lei de Deus para seguir a tradição dos homens.”
A verdade é que alguns costumes irrelevantes vão conquistando uma importância cada vez maior e acabam aparecendo à consciência como expressões da vontade de Deus. Quanta discussão sobre se é permitido receber a hóstia na mão ou não. E quanta polêmica em torno da prática de leigos e leigas proclamar o Evangelho numa celebração eucarística. E sem falar na questão da comunhão aos casais separados ou recasados...
Quanto esforço para filtrar um mosquito sem perceber que estamos engolindo dezenas de camelos. Quanto esforço para limpar as coisas por fora sem olhar para o que é mais importante. Quantos costumes pouco importantes são alçados ao patamar de lei de Deus. “Vocês abandonam a lei de Deus para seguir a tradição dos homens.”
Jesus estabelece um princípio que orienta nosso discernimento: “O que vem de fora e entra na pessoa não a torna impura; as coisas que saem de dentro da pessoa é que a tornam impura.” O que nos diminui ou torna sujos não é nossa condição social, nosso pouco estudo ou nossos poucos recursos, mas as ações e decisões que tomamos.
“É de dentro do coração das pessoas que saem as más intenções...”
Então não se trata de maquiar a realidade ou de manter as aparências, mas de purificar nossa percepção e nossos interesses. “Pois é de dentro do coração das pessoas que saem as más intenções, como a imoralidade, roubos, crimes, adultério, ambições sem limites, maldades, malícia, devassidão, inveja, cobiça, orgulho, falta de juízo...” E poderíamos completar a lista por nossa própria conta. É aqui que deve se concentrar toda nossa atenção.
Como não lembrar aqui a figura grandiosa e delicada de Dom Helder Câmara, cujos 10 anos de morte recordamos na ultima quinta-feira? Poucas pessoas conseguiram descer ao fundo dos labirintos do coração humano e compreender seus mistérios como ele. Poucas figuras religiosas conseguiram conjugar tão bem quanto ele doçura e firmeza. Poucas autoridades eclesiásticas conseguiram relativizar com tanta liberdade as tradições humanas em nome do Evangelho como fez este santo. Oxalá consigamos viver como ele a religião pura e verdadeira: socorrer os pobres e oprimidos em suas necessidades.
Pe. Itacir Brassiani msf

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A BELEZA DA ORLA DO GUAÍBA NÃO COMPORTA “ESPIGÕES"

Volta e meia ouvimos alguém falar assim: “As praias do Rio Grande do Sul começam em Santa Catarina”. Ou então outros mais sarcásticos - um deles é um notável articulista de jornal - todos os anos, por ocasião da enxurrada dos “hermanos” argentinos rumo ao norte do Mampituba, saem com essa: “As praias de Santa Catarina dão de goleada nas praias do Rio Grande do Sul”. Ledo engano!... A realidade é que nosso Rio Grande tem dois mares, o de dentro, também apelidado de Costa Doce, e o de fora. Santa Catarina só tem um, o de fora.
Um pescador de Tramandaí, provocado pelo estranhamento de um banhista pela linha reta sem reentrância de espécie alguma, em nosso litoral, começando a norte, no Mampituba, limite com Santa Catarina, e se estendendo até o Chuí, na fronteira-sul com o Uruguai, retruca assim
“Famílias da roça, quando realizam o sonho da casa própria, costumam convidar amigos e vizinhos para a “festa da cumieira”. A colocação do telhado significa que a façanha está chegando ao “gran finale”. Aliás o provérbio dos antigos também confirma esse comportamento quando diz: “o coroamento da obra acontece no fim!”. Em bom latim: “finis coronat opus!”
Quem por primeiro assim procedeu, foi o próprio Deus, o supremo arquiteto do universo. Ele fez o mundo em sete dias. O último contorno de praias que criou foi no litoral brasileiro. Um grande mutirão: Deus com os seus anjos.
Na manhã do sexto dia começaram na costa norte da Terra de Santa Cruz, hoje Brasil, com a Amazônia. Vieram descendo rumo ao sul, num capricho só: praias cheias de recortes com enseadas, penínsulas, cabos, golfos, promontórios, baías, montanhas, estuários, etc. etc. Parecia mesmo um artesanato de mulher rendeira à beira d’água. Pelas 12 horas desse último dia de trabalho, tinham chegado à foz do Mampituba, divisa com o nosso Estado.
Deus Pai Criador se voltou então para os anjos e falou: “Vou me recolher ao seio da Trindade a fim de decidir como e quem vamos colocar para habitar a casa que está ficando pronta”. Deixou um “trabalho de casa” para ocupar os anjos: fazer as praias do Rio Grande do Sul que ainda faltavam.
A confabulação entre Pai, Filho e Espírito Santo concluiu que as criaturas humanas – homem e mulher – seriam feitos à “imagem e semelhança” das três divinas pessoas que, de tanto se amarem formam a melhor Comunidade.
Nesse meio tempo, os anjos arregaçaram as mangas e fizeram esse “retão” de praia a contrastar com tudo que haviam feito antes em companhia do Criador do mundo.
Pelo meio da tarde Deus-Pai, depois de ter resolvido com as duas outras divinas pessoas, o jeito que teriam os moradores da Casa Terra, veio para junto de seus anjos para ver o serviço. Quando deparou com a imensa linha reta da costa, o Criador levou um susto.
- “Então toda uma semana em que trabalhamos juntos não foi suficiente para vocês aprenderem?!”
Os anjos ficaram tristes e até um deles ensaiou uma lágrima, mas Deus que é Amor, imediatamente atalhou: “Nada, nada grave! Agora, retomando nosso mutirão, vamos mostrar as maravilhas que somos capazes de fazer no interior do continente. Vamos fazer o mar de dentro.” Falou e imediatamente espalmou a mão sobre o “continente que é o Rio Grande”. A palma da mão divina é o Guaíba. Cada um dos cinco dedos são os cinco rios: Jacuí, Caí, Sinos, Gravataí e Taquari. Isso tudo, naturalmente ao lado de inúmeros arroios, cascatas, lagos, lagunas, a Lagoa dos índios Patos que é a maior da América, etc. etc.
Dizem até que Jerônimo de Ornellas, o primeiro habitante, do alto do morro Santana em que morava, contemplava, lá de cima o Delta do Jacuí e repetia sempre: Eu VI-A-MÃO de Deus. Expressão que depois passou a ser o nome do município lindeiro de Porto Alegre. .
Estava terminada a obra da Criação e a marca de Deus, - sua assinatura – é o Guaíba com os cinco dedos da mão se espraiando Rio Grande acima, em cujas margens vivem os dois terços de toda a população da nossa Terra querida, “defendida por Sepé”.
Será que saberemos preservar, a 23 de agosto, com o primeiro plebiscito de caráter ecológico de nossa história, as maravilhas da natureza com que Deus nos presenteou?...
Por Irmão Antônio Cechin

sábado, 22 de agosto de 2009

Encontro VR das aréas Navegantes e Floresta

Aconteceu neste sabado, 22 de agosto de 2009, das 14 as 17 hs, o Encontro da Vida Religiosa das Aréas navegantes e floresta com a participação de aproximandamente 40 religiosos(as). Como estamos no mês de agosto, mês vocacional fizemos uma longa partilha, onde cada participante foi motivado a contar um pouco de sua historia vocacional, realmente foi uma riquiza muito bonita. Dentre estes religiosos havia as novas gerações onde a comunicação e o acompanhamento vocacional se fez através de meios virtuais, e-mails e internet e as gerações onde a vocação nascia através da religiosidade da familia e da fé, o acompanhamento era feito através de cartas manuscritras e a visita pessoal de promotores vocacionais. Após a partilha, tivemos um momento de reflexão e concluimos o encontro com a celebração Eucaristica e uma confraternização partilhada e momento de convivência.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Carta da Vida Religiosa Inserida em Meios Populares do RS

"É tempo de acender uma lâmpada, varrer cuidadosamente a casa e procurar a moeda perdida até encontrá-la. É tempo de reunir amigas e vizinhas para dizer: alegrem-se comigo. Eu encontrei a moeda que tinha perdido” (cf. Lc 15,8-9).

De diversas partes do RS chegamos para um Seminário Estadual, nos dias 7 a 9 de agosto, na CAJU – Casa da Juventude, Porto Alegre. Na alegria do encontro nos acolhemos mutuamente. Éramos 65 participantes de 18 Congregações e uma leiga. Iniciamos com a partilha da riqueza de toda Vida Religiosa Inserida do Brasil, pela memória do Seminário Nacional que aconteceu em Carpina/PE, em abril deste ano. Foi ponto culminante do processo de revitalização da VRI no Brasil, na partilha de experiências, celebrações e reflexões que nos confirmam e desafiam a permanecer na inserção e a avançar em novos espaços e novas práticas transformadoras.
Situando-nos no contexto amplo do momento atual, no nível sócio-político-econômico e eclesial, nos detivemos em alguns aspectos relevantes da Igreja e da VR no RS. Constatamos os dois grandes paradigmas que definem, hoje, as posturas políticas, econômicas e sociais diferenciadas: o paradigma do desenvolvimento econômico, oriundo da revolução industrial e o paradigma sócio-ecológico. E como Igreja nos percebemos com práticas decontextualizadas, incapazes de responder às perguntas do momento atual, distantes dos pobres e das questões sociais.
Retomamos o itinerário da VRI nos Meios Populares no RS. Nos alegramos com os caminhos feitos; constatamos os limites e desafios e reafirmamos a importância da proximidade com o pobre como questão de fidelidade ao seguimento de Jesus. O testemunho de pessoa leiga nos confirma no assumir de uma VR que visita, acolhe, anima e faz, junto com o povo, processos de libertação. Teologicamente resgatamos fundamentos básicos para nossa inserção: mística, profecia e testemunho, pautado na certeza da presença de um Deus que é amor, que cuida da vida, sobretudo da vida mais ameaçada. Na inserção, os pobres são profecia para nós e a comunidade inserida é profecia para as instituições e o mundo.
Das reflexões e partilhas que aconteceram neste Seminário, assumimos alguns compromissos:
- Radicalidade na opção pelos pobres;
- Proclamação da prioridade da missão acima da instituição;
- Presença e animação nas CEBs, sobretudo na formação de novas lideranças;
- Participação nos espaços de elaboração e controle das Políticas Públicas;
- Articulação e partilha de posturas e de práticas, buscando maior representatividade da VR nos diferentes espaços públicos;
- Maior sensibilidade e novas posturas ecológicas;
- Apoio e defesa da permanência das duas Romarias: da Terra e do Trabalhador.
Animadas/os pela certeza de um Deus que está no meio de nós e nos acompanha, e pelo reencontro, pela vida partilhada, rezada e iluminada, retornamos na convicção que a VRI está atuante no RS e tem o desafio de avançar em novas formas e espaços de presença solidária.

Porto Alegre, 09 de agosto de 2009.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Visita de Religisos(as) do curso de Especialização em Franciscanismo

Na última sexta-feira, 31 de Junho, religiosos(as) participante do curso de Especialização em Franciscanismo estiveram na Casa Fonte Colombo onde conheceram o trabalho realizados pelos freis com pessoas portadora o HIV/aids. Após conhecer a casa houve uma pequena confraternização entre os visitante e os freis da casa.



















terça-feira, 4 de agosto de 2009

SEMINÁRIO ESTADUAL DA VIDA RELIGIOSA INSERIDA

07 à 09 de agosto – CAJU

Programação:

Dia 07
18:30 - Início com o jantar;
19:30 - Acolhida e apresentação ( Ir. Clarice);
- Proposta de organização e programação (formação das equipes);
- Mística inicial incluída na apresentação do Seminário Nacional (Pe. Rogério e Frei Eduardo).

Dia 08
Secretaria – Ir. Clarice
08:00 - Oração da manhã (Ir. Eurides – Ir. Inês fala com ela);
Coordenação do Painel – Ir. Miguel
08:45 – 10:00 – Conjuntura Social, política, econômica, ecológica (Pe. Inácio Neutzling);
10:00 – 10:15 – Lanche
10:15 – 11:15 – Conjuntura Eclesial do RS (Frei Wilson Dallagnol)
10:15 – Reações e interação com o plenário.
12:00 – almoço.

Coordenação do Painel – Frei Orestes
14:00 – 15:00 – Iluminação Bíblico-teológica (Ir. Cleusa Andreata);
15:00 – 15:45 – Resgate Histórico da Inserção (Ir. Inês Pretto);
15:45 – Lanche
16:10 – 16:30 – “Eu testemunhei a Inserção da Vida Religiosa” (Adelaide Klein);
16:30 – Interação com o Plenário;
18:00 – Celebração Eucarística (formar a equipe na sexta de noite);
19:00 – Jantar.
20:15 – Noite de convivência, partilha (dança, pipoca, quentão...)

Dia 09
08:00 – Oração da manhã (formar equipe 6ª de noite);
08:30 – Aprofundamento e retomada do dia anterior (Ir. Clarice);
09:00 – Trabalho em grupo – Avaliação e encaminhamento para o futuro, para a continuidade – (Ir. Inês);
09:45 – Lanche;
10:00 – Plenário;
Encerramento – Bênção final (Frei Orestes, ou Pe. Rogério)