domingo, 28 de novembro de 2010

"VEM , Ó SENHOR, COM O TEU POVO CAMINHAR"

(Is 2,1-5; Sl 121/122; Rm 13,11-14; Mt 24,37-44) 1º dom Advento (Pe.Itacir Brassiani)
O Advento é um tempo que nos convida a mergulhar fundo na mística cristã. É tempo de espera e de esperança, de atenção e de vigilância, de alegre preparação da vinda do Senhor, de abertura profunda e de súplica insistente para que seu Reino de Deus se faça visível no meio de nós. Neste caminho feito em quatro etapas, somos acompanhados e guiados por algumas comapnheiras e companheiros muito significativos: os profetas Isaías e João Batista; o jovem casal Maria e José; os apóstolos Paulo e Tiago. Ao lado destas figuras, a comunidade dos pobres do Senhor alimentam nossa esperança com salmos belíssimos, nascidos no ventre de uma história fecundada pela certeza de que toda espera e todo ardor desabrocharão em plena alegria. Por isso, do início ao fim desta caminhada, cantamos: “Vem, ó Senhor, com o teu povo caminhar! Teu corpo e sangue vida e força vêm nos dar!”


“Vinde, vamos caminhar à luz do Senhor!”
As comunidades cristãs da América Latina canonizaram a caminhada como metáfora daquilo que fazem, crêem e esperam. Esta imagem lembra que Jesus é o Caminho, que crer nele significa caminhar com ele, seguir seus passos e reinventar sua compaixão. Esta imagem de caminho também repõe sempre de novo a epopéia daquele punhado de escravos que, sendo marcados a ferro o fogo pela opressão e pela morte, fazem seu êxodo em direção a uma terra e um projeto de sociedade sem males.
Entretanto, a imagem do caminho não se esgota na memória e na proposta de uma sempre necessária travessia. Ela nos faz lembrar também que o êxodo em direção a um novo céu e uma nova terra só é possível porque o próprio Deus desce e vem ao nosso encontro, escutando os surdos clamores dos oprimidos, assumindo a humana carne dos excluídos, restaurando a dignidade dos condenados. É o Advento de Deus na ambiguidade da história que possibilita o Êxodo em direção a uma nova história.
Por isso, no Advento somos convidados/as a caminhar alegres e expectantes ao encontro de Algo que está nascendo e de Alguém que está vindo ao nosso encontro. Caminhamos confiantes, pois o próprio Deus encurta a estrada e abrevia o tempo, vindo ao nosso encontro em Jesus de Nazaré, mostrando sua glória na nossa carne, armando sua tenda em nossos acampamentos. Porque Deus está sempre advindo a nós em seu reino, podemos empreender seguros o êxodo que ele nos pede.


“Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem.”
Damos por certo que “Aquele que vem” é o Filho de Deus. Mas não é exatamente isso que o evangelho de hoje nos diz! Quando se refere a si mesmo, Jesus escolhe conscientemente a expressão Filho do Homem. Enquanto nós preferimos afirmar que este profeta que nasceu em Belém, viveu em Nazaré, adquiriu fama na Galiléia e foi morto em Jerusalém é filho de Deus, ele mesmo insiste que o Messias compassivo e solidário, aquele que resgata a dgnidade dos últimos, é filho da humanidade.
Esta expressão, inspirada na visão do profeta Daniel (cf. Dn 7,13) aparece mais de 80 vezes nos evangelhos, o que demonstra sua importância. Na visão de Daniel, a imagem de “alguém semelhante a um filho de homem” expressa a expectativa do surgimento de uma comunidade radicalmente humana, diferente dos impérios e reis que oprimem e agem como monstros. Com esta imagem, Jesus sublinha sua condição humana (paixão e compaixão) e alude à nova humanidade que se reúne ao seu redor.


Nesta perspectiva, neste tempo de Advento a Palavra de Deus pede que purifiquemos nosso olhar e concentremos nossa atenção nos sinais e processos de humanização que estão em andamento e pedem passagem. Evitemos a piedosa ilusão de esperar que Deus entre no mundo de modo espetacular e miraculoso, ou então de uma forma intimista, limitada pela estreiteza e pela ambiguidade do nosso coração, ou ainda da tentação colorida de prendê-lo nas vitrines e encontrá-lo nos shopings centers.


“Já é hora de despertardes do sono!”
Jesus nos previne sobre os riscos de uma fé vivida sem responsabilidade histórica. Recordando o que acontecera no tempo de Noé, ele lembra que as rotinas e compromissos cotidianos, impostos pela ditadura da sobrevivência ou dos interesses estreitos e imediatos, pode nos levar a uma perigosa distração em relação ao que é essencial. Jesus não é um moralista interessado em condenar as festas, a gula ou a bebedeira, mas um profeta que chama a atenção àquilo que é definitivamente esencial.

Escrevendo aos Romanos e usando outras palavras, Paulo se refere ao mesmo risco. Vivemos numa cultura da distração. A oferta de uma quantidade estonteante de mercadorias, a possibilidade de infinitas e sempre novas experiências, o acesso facilitado aos lugares mais exóticos, têm um só objetivo: evitar que nos confrontemos com as questões fundamentais que nos interpelam como pessoas e como humanidade. A enxurrada de bens e possibilidades nos envolvem como uma noite, e nós dormimos.


“Nada de glutonerias e bebedeiras, nem de contendas e rivalidades!”
É aqui que a mística do Advento entra como um despertador e nos acorda do sono letárgico. Infelizmente, o tempo de espera vigilante foi transformado em tempo de comércio alucinante, e a única coisa que se espera é receber um bom presente ou conseguir pagar as despesas das festas. As milhares de luzes que piscam e seduzem os incautos não são mais que sinais da noite que nos envolve. “Já é hora de despertardes do sono. A noite está quase passando e o dia vem chegando.”
Paulo pede que evitemos brigas e rivalidades. Além dos sangrentos conflitos que contrapõem cidadãos e imigrantes, ocidentais e orientais, ricos e pobres, consumidores e excluídos, civilizados e bárbaros... há a competição pelo maior número de fiéis, pelo presente mais fabuloso, pela carreira mais fulgurante, pelo maior faturamento nas vendas natalinas, pelo menor preço e maior qualidade, pela conquista dos mercados emergentes... É uma noite plena de pesadelos e ameaças.

Paulo nos convida também à sobriedade no comprar, no comer e no beber. Não se trata da austeridade, característica de quem despreza o que dá prazer, mas da sobriedade de quem sabe que está no mundo como hóspede e se deixa guiar por um sonho que armará sua tenda na história. Comemos e bebemos sobriamente para celebrar o advento de Deus na humanidade, mas temos consciência de que o Reino de Deus não se resume em comer e beber. “Teu corpo e sangue vida e força vêm nos dar...”


“E nunca mais se treinarão para a guerra...”
Alcançamos e construímos o Reino de Deus seguindo a estrada sinalizada pelo profeta Isaías e percorrida responsavelmente por Jesus Cristo. E este via passa por uma radical inversão dos valores e prioridades que, via de regra, regem nossa vida e orientam as instituições. Isaías fala em destruir espadas e lanças e refundi-las em foices e arados. Em outras palavras: substituir a competição violenta e predatória pela produção e distribuição de comida, alicerce de uma vida realmente pacífica.

A violência não é exclusividade das guerras. O teólogo Raimon Panikkar não cansou de denunciar a instrínseca violência da razão ocidental moderna. A cultura que predominou no ocidente nos últimos séculos é uma cultura armada, que transforma a razão numa arma para convecer e vencer. Há uma continuidade entre a razão que quer controlar a verdade e a corrida armamentista. Acredita-se que a paz seja alcançada mediante a derrota e a destruição do adversários. Frutos desta razão belicosa são, entre outros, a competição predatória na economia e a criminalização social dos migrantes.

A preparação para o Natal, que é também preparação do advento de uma nova humanidade e um outro mundo, passa pelo desarmamento geral da cultura e das instituições. A suspeita que o ocidente lança sobre as utopias teocráticas deve ser completada com a crítica que o oriente faz aos impérios tecnocráticos. De qualquer modo, acolher o filho do homem que vem e percorrer seus caminhos implica em abandonar de vez todos os ‘sagrados’ valores da competição e do confronto.


“Revesti-vos do Senhor!”
Ó Pai, em Jesus, Maria e José destes à humanidade teu mais precioso presente. E através desta família recebeste a mais profunda e generosa resposta humana a este dom. Dá-nos a preciosa companhia desta família nestas semanas de espera vigilante, alegre e ativa. Que ela nos ajude a vencer a letárgica distração que nos oferecem como se fosse remédio, a escutar atentamente tua Palavra viva e a superar uma razão perigosamente violenta. E que possamos acolher teu Reino como nosso Sonho e teu Filho, que é também Filho do Homem, como mestre e companheiro neste caminho.
Pe. Itacir Brassiani msf

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Que toda a humanidade seja uma só família

(Eclo 31,15-17.20-22; Sl 33/34; 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14)(24.10.2010)Pe. Itacir Bassiani
Há mais de 80 anos, a Igreja católica dedica o penúltimo domingo do mês de outubro à oração pelas missões. No Brasil, todo o mês de outubro é dedicado especialmente à reflexão e à animação missionárias. Somos convidados/as a celebrar a memória do Senhor e a ouvir sua Palavra sintonizando o bater do nosso coração, o ritmo dos nossos passos e o olhar da fé com a missão. Que nossa oração evite a presunção da superioridade e brote da humilde consciência de que, infelizmente, o coração de nossas comunidades ainda não bate ao ritmo da missão. Mas, acima de tudo, confirmemos nosso engajamento no projeto de Deus que deseja, como diz Bento XVI, “que todo gênero humano constitua um só povo de Deus, se congregue num só corpo de Cristo e se edifique num só templo do Espírito Santo”.
“O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas.”
Por mais que se queira negar ou maquiar, nosso mundo está estruturalmente dividido. Não é necessário viajar pelo mundo a fora para perceber que, em termos gerais, os países do hemisfério norte, outrora denominados Primeiro Mundo, vivem na abundância de bens e oportunidades, enquanto que os países do hemisfério sul são condenados a digerir a miséria à qual a secular expropriação os condenou. Esta divisão se mantém hoje através das barreiras legais impostas aos migrantes que fogem do sul.
Existem também divisões entre pessoas e grupos sociais. Não se trata apenas de diferença – que é um valor e um direito a ser defendido – entre pessoas, etnias e grupos, mas de divisão que hierarquiza e exclui muita gente. Basta lembrar da primazia que a cultura e os meios de comunicação dão às pessoas e grupos ocidentais, brancos, masculinos, cultos e ricos. É evidente que os orientais, os negros e índios, as mulheres, os analfabetos e os pobres são tratados como inferiores.
Quando sublinhamos a evidência desta divisão, vozes se levantam acusando-nos de filo-marxistas, tendenciosos e interesseiros. Mas é preciso lembrar que a Palavra de Deus não faz olho grande frente a esta divisão. Ao contrário, a bíblia inteira, especialmente os escritos proféticos e os evangelhos, mostram que Deus denuncia essa divisão como inaceitável e toma partido em favor das pessoas e grupos mais fracos: os escravos e estrangeiros, as viúvas e os órfãos, os pobres e os excluídos.
“Dois homens subiram ao templo para rezar.”
Esta divisão entra também dentro das nossas igrejas? Infelizmente, devemos dizer que sim. Para confirmar, basta dar uma olhada atenta à primazia conferida às Igrejas européias – à teologia, ao direito e à liturgia por elas elaboradas – no confronto com as Igrejas do (mal dito) Terceiro Mundo. Não obstante a notável ajuda econômica que as primeiras versam nos cofres vazios das segundas, não é raro ouvir ainda hoje de altos hierarcas que todos os cristãos devem assimilar a fé na sua versão européia.
E tem ainda aquela profunda e dolorida divisão – que às vezes se transforma em oposição e em condenação recíproca – entre as próprias comunidades cristãs: ortodoxos e romanos, católicos e protestantes, igrejas clássicas (católicas e evangélicas) e igrejas pentecostais, etc. Como pode ser agradável a Deus um culto no qual membros desta ou daquela igreja se gloriam de não ser como os outros: idólatras, mal-intencionados, interesseiros, exploradores da fé do povo?
A este propósito é impressionante o testemunho do apóstolo Paulo. Ele combate com tenacidade a postura de superioridade dos judeus e dos novos cristãos de origem judaica em relação aos pagãos ou aos cristãos vindos do paganismo. Quando ele escreve, em forma de testamento, que combateu o bom combate, completou a corrida e guardou a fé, está se referindo à sua convição de que Cristo é nossa paz, pois de dois povos fez um só povo, derrubando o muro da inimizade que os separava (cf. Ef 2,14).
“A prece do humilde atravessa as nuvens...”
No centro do evangelho de hoje está a questão da correta atitude de quem reza. Se, no último domingo, Jesus nos pedia para não desistir de rezar, hoje ele nos pede atenção sobre como rezamos. Em forma de parábola, Jesus confronta a postura de dois personagens bem conhecidos: o fariseu, cioso de sua superioridade e perfeição, isolado das pessoas comuns, ostensiva e exteriormente piedoso; o publicano, cobrador de impostos, colaborador do poder estrangeiro, impuro e execrável aos olhos dos judeus nacionalistas, excluído da vida social e religiosa que gira em torno do templo.
Desejoso de ser visto e reconhecido, o fariseu reza de pé e olha os demais de cima para baixo; sua oração é uma espécie de auto-elogio e, ao mesmo tempo, desprezo e condenação dos demais; é como se fosse o próprio Deus que devesse agradecê-lo por ser tão bom e correto. O publicano praticamente não entra no templo e, sem coragem mesmo de levantar os olhos, bate no peito reconhecendo sua condição ambivalente e pedindo que Deus se compadeça.
É bem possível que estas diferentes posturas na oração não seja um problema somente do judaísmo. Se Lucas nos traz esta questão é porque ela estava presente também nas comunidades cristãs. A ostentação e a pretensão de superioridade, sempre acompanhadas de uma agressiva discriminação, contaminaram também os cristãos e infelizmente resistem, como erva daninha difícil de erradicar, até nossos dias. E quase sempre vêm revestidas com a atraente roupagem da piedade.
“O pobre clama a Deus e ele escuta...”
Desde a parábola de Abel e Caim , sentimo-nos incomodados diante da imagem de um Deus que não trata a todas as pessoas do mesmo modo. Imaginamos um deus com os olhos vedados, como a clássica imagem da justiça. Como diante da lei todos seriam iguais, a justiça não pode ter preferências. Mas Deus não é assim. “Ele não é parcial em prejuízo do pobres, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas.”
A humanidade que queremos única começa a ser gerada exatamente quando, em nome de Deus, evitamos a parcialidade que relega os fracos a um sofrimento contínuo e assumimos a luta pelos seus direitos não reconhecidos ou não atendidos. A sonhada humanidade chamada a ser única família não será uma realidade enquanto insistirmos numa igualdade apenas formal das pessoas, uma igualdade negada descaradamente pelas escandalosas desigualdades econômicas, sociais e culturais.
Voltemos a Abel e Caim (cf. Gn 4,1-16). Abel é pastor, não tem terra, vive como migrante, numa insegurança estrutural. Caim é agricultor, administra uma propriedade, goza de estabilidade. Não há porque estranhar quando o texto sagrado diz que “o Senhor olhou para Abel e sua oferta, mas não deu atenção a Caim com sua oferta”. O que Caim era realmente acaba vindo à tona logo em seguida: se mostra absolutamente indiferente e mortalmente violento com seu irmão.
“Ele fez com que a mensagem fosse anunciada integralmente...”
A humanidade está vocacionada a ser uma só família. A interdependência dos povos e nações é já um fato objetivo, mas é preciso lutar para que se torne um valor assimilado subjetivamente. Todos sabemos que um acontecimento econômico relevante nos EUA repercute positiva ou negativamente em todo o globo, e que uma crise política no Oriente Médio agita as bolsas de valores e, interferindo na cotação do petróleo, penaliza os produtores dos mais remotos rincões do mundo. A interdependência é um fato.
Mas o desafio – e nisso a missão dos cristãos pode contribuir enormemente! – é transformar esta solidariedade num valor a ser positivamente buscado e assegurado em favor de todos. A dignidade da pessoa humana independe de sua origem étnica, pertença religiosa, nacionalidade, convicção política, identidade sexual ou grau de instrução. Estas diferenças não dividem, nem hierarquizam; apenas distinguem, complementam e enriquecem.
“Combati o bom combate, completei a corrida...”
Voltemos ao início: quando rezamos não podemos querer consolidar nossa pretensa superioridade (pessoal ou eclesial), nem passar panos quentes ou até alimentar a divisão real que fere os filhos e filhas de Deus. Por isso, amável Deus Pai-Mãe, que fazes a prece do humilde atravessar as nuvens, despoja-nos de todo orgulho arrogante e de toda competição infantil. Ajuda-nos a anunciar teu Evangelho integralmente e contribuir eficazmente para a solidariedade fraterna entre pessoas, religiões e povos. Até que a humanidade seja de fato uma família, na qual todos os membros são queridos e respeitados.

Pe. Itacir Brassiani msf

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dia de Nª Srª Aparecida em São José do Norte

Na cidade de São José do Norte, no dia 12 de outubro - dia de Nossa Senhora Aparecida, a Casa Fonte Colombo e a Pastoral da Aids marcaram presença na homenagem a santa.

Segundo Frei Eduardo Pazinatto foi uma oportunidade para conhecer a realidade da região, conversar sobre HIV/DST/Aids e incentivar para realização do teste da Aids. Freis Eduardo Canali e Mauro da Rosa que trabalham da paraquia são José acolhram e insetivaram a ação de prevenção realizada.

Romaria de Nª. Senhora de Guadalupe - Pelotas

“Com Maria, solidários na caridade”. Este é o tema da 25ª Romaria Diocesana de Nossa Senhora de Guadalupe que ocorreu no dia 17 de outubro, no Santuário da Cascata em Pelotas.

Na oportunidade os agentes da pastoral da Aids informaram e orientaram os participantes da romaria e disponibilizaram materiais que as lideranças levaram para seus grupos e comunidades. Todos afirmaram a importância de ter subsídios informativos e educativos para os grupos e pastorais.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Romaria de Nossa Senhora de Fatima e Visita a São José do Norte



Aconteceu no segundo domingo,10 de Outubro, em Rio Grande a 36ª Romaria de Nossa Senhora de Fátima que teve como tema "Com Maria solidários na Caridade". Às 9h, teve início a Romaria que reuniu aproximadamente 10 mil fieis, com saída da frente do Santuário. Os fiéis acompanharão a imagem da santa por várias ruas da cidade, percorrendo em torno de três quilômetros até o Centro Municipal de Eventos. Centro de Eventos, local de chegada dos peregrinos onde houve a missa presidida pelo bispo diocesano dom José Mário Stroeher e concelebrada pelos bispos dom Gilio Felício, de Bagé, dom Jacinto Bergmann, de Pelotas, e dom Jayme Chemello (bispo emérito). E também por vários padres da Diocese do Rio Grande. Na oportunidane foi colocada uma stand com material informativo da Casa Fonte Colombo e da Pastoral da Aids onde os romeiros puderam obter informações sobre HIV, Aids e DST.

Neste mesmo final de semana, feriado de aparecida, tive a oportunidade de ficar em são José do Norte na casa dos Freis Eduardo Canali e Frei Mauro. tive a oportunidade de conhecer a realidade da Região e participar da Carreata de Nossa Senhora de Aparecida que culminou na celebração eucarística no locar onde será construída uma nova comunidade pertencente a paróquia.



















sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"São tantos os apelos que vêm dos oprimidos.."

(Am 6,1.4-7; Sl 145/146; 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31)(26.09.2010)
O calendário nos lembra que a primavera devagarinho vai chegando ao hemisfério sul, mas a virulência da grande imprensa verde-amarela deixa transparecer o medo e a falta de caráter dos setores arcaicos e cínicos da sociedade brasileira. Eles não conseguem engolir que o povo faça sua própria escolha política a não ser que seja a opção por aqueles que lhe tiram a pele. Efetivamente, aqueles que sempre se lucupletaram e banquetearam, ignorando olimpicamente os milhões de pobres de cujas feridas só os cães se ocupavam, lançam mão de todos os artifícios para mudar os rumos da eleição que se aproxima. Até a religião – tanto as declarações dos fiéis ingênuos como os discursos e documentos dos hierarcas amedrontados – se transforma em munição mortal nos veículos de comunicação. Mas entre entra estas elites mascaradas e o povo se cavou um abismo que nem as montanhas de jornais repletos de acusações e de desprezo pelo povo podem encher.

“Procura a justiça e a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão...”
Precisamos sempre de novo nos interrogar: o que estamos mesmo buscando na religião? Vários estudos sérios mostram como as pessoas simples, e não só elas, são atraídas pelos fenômenos fantásticos e miraculosos. A multiplicação de novenas e promessas, assim como o crescimento das peregrinações ao encontro do enésimo curandeiro ou milagreiro o comprovam. Por trás disso está a insegurança na qual vive boa parte do nosso povo, mas também a sedução exercida por tudo o que cheira a milagre.
E há também aqueles que buscam a religião como sustentação para interesses e projetos de dominação, desde os homens que buscam argumentos para seu machismo decadente até os políticos que caçam desesperadamente apoio para suas carreiras. Mas não esqueçamos também a erva daninha do sucesso que lança raízes em não poucas pessoas que se consagram a Deus e se apresentam para exercer o ministério em nome dele. (Nesse contexto os padres popstars prestam um péssimo serviço.)
Na carta a Tmóteo proposta pela liturgia de hoje Paulo pede bem outra coisa. “Tu que és um homem de Deus, procura a justiça e a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé...” Trata-se de juntar a piedade à prática da justiça, de unir a solidariedade à fé, de casar a mansidão com a perseverança no seguimento de Jesus Cristo, único e soberano líder que pode nos guiar a um mundo justo, fraterno e liberto.

“Ai dos que se deitam em camas de marfim, indiferentes ao sofrimento de José...”
No evangelho deste domingo, Jesus continua nos alertando em relação ao risco da aparência, do dinheiro e do poder. Ele polemiza com os fariseus, mas sua atenção está voltada aos discípulos/as. A fé na sua Palavra e a adesão aos seus ensinamentos deve mudar e qualificar nossa relação com os bens e com os pobres. Uma fé vivida unicamente como remédio para nossos males individuais ou como combustível para uma carreira de sucesso tem pouco a ver com Jesus Cristo.
O fato é que, tanto no tempo do evangelista como hoje, frequentemente há um abismo, tanto real quanto ignorado, que separa as pessoas que frequentam a mesma comunidade. É isso que aparece na parábola proposta por Jesus: há um rico que se veste rica e elegantemente e dá explêndidas festas todos os dias; e um pobre coberto de feridas, devorado pela fome, rodeado de cachorros e sentado na calçada, em frente à porta da casa do rico e absolutamente invisível a irrelevante para ele.
Esta é uma triste imagem de um Brasil ainda dividido pela miséria e pela injustiça, apesar dos esforços dos governos e outras instituições. É também um retrato de um mundo cínico e injusto, dividido entre um punhado de países opulentos e uma maioria de países empobrecidos. O profeta Amós dirige duras palavras aos primeiros: dormem em camas de marfim, comem manjares suculentos e bem vinhos finos, usam perfumes caros dedilham instrumentos musicais mas são indiferentes às dores do povo.

“Pai Abraão, tem compaixão de mim!...”
Mas no centro da vida cristã está deve estar a compaixão pelos pobres, e não a indiferença e a busca do próprio bem-estar. O caminho entre a porta e a mesa deve ser amplo e aberto. Não é possível cortar a relação entre a fé e a justiça. Jesus não aceita a indiferença dos ricos frente à (má) sorte dos pobres. Sua Palavra é clara e contundente: “Ai de vós, os ricos, porque já tendes vossa consolação!” (Lc 6,24). Ele insiste que os pobres e os sofredores devem ocupar os primeiros lugares na lista de convidados para as e celebrações (cf. Lc 14,13). Mas Lázaro nunca pode passar da porta do rico.
Soa estranho, para não dizer cínico, o pedido de compaixão do rico em meio aos tormentos. Mesmo na tragédia pessoal, ele continua achando que os pobres devem estar a seu serviço: bem que eles poderiam molhar sua língua para aliviar a sede ou avisar seus parentes para livrá-los a tempo dos males que os esperam... Não pode não ser cinismo este apelo para que os pobres tenham compaixão dos ricos que sempre se vestiram de indiferença e prepotência.

“Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento.”
O caminho para o céu é feito de terra. E aqui é preciso lembrar que indiferença corta a comunicação, destrói as pontes, cava abismos e fere de morte a colaboração solidária entre as pessoas. Será que a simples participação numa celebração religiosa, num comício político ou numa festa civil pode criar relações entre pessoas e grupos que, fora deste espaço, se ignoram, enfrentam ou exploram? Será que a água benta ou o cântico melodioso pode congregar aqueles que a indiferença separa?
É lamentável que muitos pregadores/as caiam na armadilha de uma leitura fácil e preconcebida e proponham esta parábola de Jesus como uma espécie fotografia da inversão que a morte provocaria na vida real. Jesus não está querendo falar da felicidade que espera os sofredores no paraíso ou do sofrimento destinado aos ricos depois da morte. O que ele quer enfatizar é o caráter decisivo e irreversível das opções que fazemos e das práticas que desenvolvemos no tempo presente.
É incrível como também hoje, imitando os fariseus do tempo de Jesus, tantas pessoas que se apresentam como piedosas queiram simplesmente irgnorar as palavras e ações proféticas que a Bíblia nos propõe. Muitas passam ao largo da fraqueza e da compaixão de Deus na cruz e buscam sinais milagrosos e piedosos. Mas não há outro sinal senão o de Jonas, ou seja: a conversão a um Deus despojado por amor (cf. Lc 11,29-32). Este é o único caminho digno de um discípulo de Jesus Cristo.

“Eles têm Moisés e os profetas. Que os escutem!”
Na vida cristã autêntica não há lugar para privilégios, nem para milagres. O caminho cristão é pavimentado pela escuta da Palavra de Deus e pela conversão. Jesus se demora na descrição das tentativas infrutíferas do homem rico para reverter uma situação irreversível: ignorar o abismo que ele mesmo cavou e pedir que lhe tragam água para amenizar a sede; e enviar um morto ressuscitado para convencer seus parentes da necessidade de mudar de comportamento.
Mas não há sinal poderoso ou milagre esplendoroso capaz de tocar o coração e a mente de quem se fechou em si mesmo/a e faz da indiferença uma couraça protetora. Nada pode curar aqueles/as que se fecharam hermeticamente à palavra e ao testemunho dos profetas, dos apóstolos e do próprio Jesus. Moisés soube escutar os clamores do seu povo, compartilhar suas dores e seus anseios de liberdade. Os profetas não fizeram outra coisa que lembrar e reivindicar o direito divino dos pobres. E Jesus se fez do pobre companheiro e servidor, situando-se no meio dos últimos, inclusive na cruz.
Não adianta apelar para privilégios. Deus desconhece qualquer privilégio fora da prioridade absoluta dos pobres. De nada serve protestar dizendo, ao modo de cobras venenosas e traiçoeiras: “Nosso pai é Abraão!” (Lc 3,8). Ou então: “Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças.” É preciso escutar a fundo a voz da consciência, na qual ressoa a Palavra de Deus escrita no livro sagrado: “Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça” (cf. Lc 13,22-30).
No final deste mês da Bíblia digamos com todo o nosso ser: “Fala, Senhor! Fala da Vida! Só tu tens palavras eternas, e nós queremos ouvir. São tantos os apelos que vêm dos oprimidos. Tu és quem liberta, o Deus dos esquecidos. Ajuda-nos a vencer a indiferença que abre abismos entre pessoas que nasceram para ser irmãos e irmãs. Ensina-nos a acolher aquilo que nos dizes através dos profetas e santos/as de todos os tempos. E que tua Palavra seja sempre a luz dos nossos passos. Amém!”
Pe. Itacir Brassiani msf

terça-feira, 21 de setembro de 2010

IV Retiro mensal da Familia Franciscana do RS




Estimad@s Irmãs, Irmãos, amig@s e simpatizantes
do Carisma e da Família Franciscana

PAZ E BEM!

A Equipe de Coordenação da FFB-RS vem convidar
você, suas Irmãs e seus Irmãos e amig@as para o

IV - QUARTO RETIRO MENSAL DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO RS

a realizar-se no domingo, dia 26 de setembro de 2010

TEMA: “CARISMA FRANCISCLARIANO”

ASSESSORIA: irmã Lenita - Irmãs Franciscanas Bernardinas

Data: 26 de setembro de 2010
Início: 08:30 h – Término: 12:00h

Local: Centro de Espiritualidade Franciscana
Convento São Lourenço de Brindisi
Rua Paulino Chaves, 291
Bairro Santo Antônio – Porto Alegre – RS
Fone: 51-3223.2800

Obs.: Todos os Retiros encerram com a Santa Missa às 11 horas.
Não há necessidade de inscrição anterior.
Haverá almoço no local.
Sejam tod@s bem-vind@s!!!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

" Palavras santas do Senhor eu Guardarei no Coração"

(Am 8,4-7; Sl 112/113; 1Tm 2,1-8; Lc 16,1-13)}(19.09.2010)
Palavras e imagens poderosas e sedutoras martelam em nossos ouvidos e solicitam nosso olhar. Críticas mordazes e suspeitas alimentadas por interesses escusos são repetidas como refrão de uma ladainha. É isso que vem dando o tom na campanha política que envolve o povo brasileiro. Como ouvir, guardar e entender a Palavra viva de Deus em meio a tantos rumores? Será que o mês dedicado à Bíblia não pode nos ajudar numa crítica mais profunda das nossas práticas e instituições e num olhar mais esperançoso e transformador destas realidades? De fato, a Palavra de Deus não é simplesmente uma palavra a mais em meio a tantas outras, mas o sentido profundo e transcendente de todos os anseios e palavras verdadeiramente humanas. A Palavra de Deus está encarnada nas palavras humanas, assim como a ação de Deus se conjuga com a ação humana que cria comunhão e promove a liberdade.


“Quando passará a lua nova, para vendermos bem a mercadoria?”
Vivemos numa sociedade de simulação e de consumo. Nada melhor que o tempo de campanha política para trazer a simulação à luz do dia. Todos os postulantes às funções públicas, legislativas ou executivas, fazem questão de se mostrarem devotados agentes públicos, amigos de todos, servidores dos pobres. É como se quisessem fazer da política um sacerdócio e dedicar a vida pelos oprimidos. A realidade é colorida ou reduzida a preto e branco, de acordo com os interesses partidários ou pessoais. As palavras mais encobrem do que revelam aquilo que se esconde no íntimo dos candidatos. Tudo é simulação.
Mas a política está inserida num contexto mais amplo que é a sociedade de consumo. Tudo é regido pela lei do mercado, tudo existe para ser consumido e substituído o mais rapidamente possível. O consumo é a alma deste mundo sem coração e a mina de onde é extraído o ouro da riqueza de poucos à custa da ruína de muitos. E esta tentação seduz até a religião e a política. Todos esperam impacientes o momento oportuno para alterar as regras e dominar os pobres com dinheiro e os humildes com promessas, óculos, camisetas, sandálias ou bênçãos e curas fáceis.
Que lugar têm os pobres e que sentido tem a vida deles nesta sociedade? Nenhum. Até pouco tempo eles serviam como combustível humano nas máquinas e processos industriais, como mercadoria humana no mercado onde se comercializava a mão de obra. Agora a automação tomou o lugar deles, com menos custo e sem o incômodo dos olhares famintos ou das greves desestabilizadoras. Os pobres não servem mais nem como consumidores, pois um só consumidor rico vale por noventa e nove consumidores miseráveis. Servem apenas como votantes, e isso enquanto o voto for obrigatório.


“Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar seus bens.”
Como iluminar esta realidade com a luz da Palavra de Deus? A parábola que Jesus apresenta hoje aos seus discípulos é muito complexa, mas pode nos ajudar. Temos ainda bem presente na memória e no coração as parábolas que Jesus nos propôs no último domingo como defesa da sua prática solidária com os pobres e excluídos. Como esquecer a figura daquele pai que esbanja atenção, dinheiro e compaixão na festa de acolhida do filho que chegara a disputar a ração dada aos porcos?
A parábola de hoje coloca em evidência um protagonista muito diferente: um administrador acusado de esbanjar os bens que não lhe pertenciam e, por isso, estava ameaçado de demissão. Ciente de que não estava preparado para outro trabalho e recusando-se a pedir esmolas ele agiu com esperteza e rapidez: alterou o montante da conta em favor de alguns devedores e prejudicando mais ainda seu patrão. Com isso, esperava que no futuro os devedores por ele beneficiados saberiam retribuir solidariamente seu gesto de bondade.
O que surpreende e desconcerta é que a esperteza do administrador recebe um elogio explícito do patrão (e do próprio Jesus). Há quem explique o elogio a esta ação aparentemente imoral levantando a hipótese de que o desconto de 50 e 20% corresponde aos juros iníquos cobrados pelo credor ou à comissão à qual o administrador tinha direito. Seria isso mesmo? Ou Jesus estaria propondo outra mensagem, semelhante àquela do pai que gasta sem critérios para acolher e restabelecer a dignidade do filho que havia descido ao inferno social?


Usai o dinheiro injusto para fazer amigos...”
A questão fundamental que Jesus nos apresenta com esta parábola é como usar adequadamente os bens, as honras e o prestígio. A palavra clara e corajosa de Amós traz à luz do dia as práticas de acúmulo que os ricos tentam esconder nas sombras da noite ou nas franjas de uma hipocrisia deslavada. Mas deixa claro que somos apenas administradores de bens que não nos pertencem e que, frente ao bem maior do Reino de Deus, o dinheiro é coisa de pouco valor e radicalmente injusta.
O administrador aparentemente desonesto é elogiado porque evita ser amigo do dinheiro (como os fariseus) e se mostra amigo das pessoas. Com ele nós aprendemos que o dinheiro que passa pelas nossas mãos, bolsas e contas não nos pertence e precisa ser usado corretamente: para beneficiar a pessoa humana, todas as pessoas, começando pelas mais necessitadas. A ação do administrador é claramente oposta àquilo que fazem os comerciantes denunciados pelo profeta Amós.
Aquilo que parece esbanjamento e desonestidade é pura sabedoria evangélica. Precisamos desenvolver nossas responsabilidades no mundo da economia – produção, administração, distribuição e consumo – com critérios evangélicos. E o critério fundamental é este: os bens estão a serviço de uma convivência humana sadia e solidária. Desviar para os bens econômicos o amor que devemos às pessoas é uma loucura que compromete nossa felicidade pessoal e destrói os laços sociais.


“Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.”
Precisamos fazer a escolha certa no tempo certo. O momento presente é decisivo em nossa vida. O passado se foi, o futuro ainda está para chegar, mas o presente urge e solicita nossa intervenção sábia. Existem cristãos que construíram sua moradia no passado, e dela não saem para nada. E outros se refugiam no futuro, onde vivem num mundo de fantasia. E quando este futuro é chamado de vida eterna e revestido com esfarrapadas roupas de piedade a mudança é quase impossível.
O uso esperto e sábio dos bens econômicos é que nos habilita a administrar o bem verdadeiro, o Reino de Deus. Esta é a lição que Jesus dá aos cristãos e à Igreja. É intolerável que uma instituição que se legitima unicamente como administradora do Reino de Deus siga impondo fardos aos mais pobres, beneficiando os poderosos, excluindo e criminalizando aqueles que não podem seguir estreitas regras morais, nem sempre evangélicas, enquanto que Paulo nos lembra que Deus quer que todos se salvem!...
O tempo é breve e os bens não nos pertencem! O próprio Jesus veio ao mundo como herdeiro e administrador das coisas do pai e não fez outra coisa que diminuir e cancelar os débitos das pessoas que os sistemas sempre criminalizaram. Mas a maioria das igrejas dá a impressão de que foram enviadas para aumentar estas contas ou cobrar comissão para renegociá-las... Em vez de fazer amigos, criar vínculos e construir espaços de liberdade eles engordam suas contas bancárias e aumentam o poder.


“E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza.”
É impossível amar Deus e viver em nome Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, dobrar os joelhos diante da riqueza, do poder e do prestígio. Ninguém pode adiar impunemente a necessidade de decidir entre Deus e o dinheiro. Precisamos aprender de Jesus o que significa ser esperto e sábio. A Palavra de Deus é penetrante como uma faca de fio duplo: vai até a medula e separa o que é bom e o que é ruim. Tomemos como orientação e guardemos estas palavras santas no coração, mesmo quando são duras, como as do profeta Amós.
Senhor, tua Palavra é santa e nos ensina a sabedoria. Queremos guardá-la e pô-la em prática em todas as circunstâncias da nossa vida. Ensina-nos a contar adequadamente o tempo e avaliar corretamente o valor das coisas. Concede-nos a coragem de desmascarar os males que nos são propostos em belas e sedutoras embalagens. Confirma-nos no serviço a ti, único e supremo bem, mantendo-nos no serviço àqueles/as que são excluídos/as da mesa de todos e recebem apenas as migalhas que sobram. Que nossa comunidade atualize tua ação de levantar o indigente da poeira, retirar os pobres do lixo e fazê-los sentar entre os nobres do teu povo.
Pe. Itacir Brassiani msf

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Assembléia da FFB-RS

A Família Franciscana do Rio Grande do Sul realizou no dia 13 de setembro 2010 sua Assembléia Regional Anual com a participação de 25 representantes de diversas entidades das três Ordens Franciscanas. A Assembléia teve um caráter celebrativo, reflexivo, de partilha dos diversos serviços, de comunicados e encaminhamentos para o próximo ano. Enriqueceu-nos, sobretudo, a rica reflexão temática das assessoras: a Abadessa Clarissa, Ir. Maria Francisca, desenvolvendo o tema “A Contemplação em Santa Clara de Assis”; a Irmã Franciscana Mônica Azevedo, das Irmãs Franciscanas PCC, partilhando o tema “As Relações Fraternas em Santa Clara de Assis, e, a Ir. Fabrisa Perusso, da OFS, dinamizando o tema “A Missão em Santa Clara de Assis”.
Meritório destaque foi a presença da representante nacional da Família Franciscana do Brasil, Ir. Jacinta Bischling; Jaime Tessari, Ministro Regional da OFS, e, a recém eleita, Madre Abadessa Clarissa, Ir. Maria Francisca.

A FFB-RS continuará fomentando em 2011 dois Cursos de Formação Permanente: O Curso de Franciscanismo em Daltro Filho (básico e informal) e o Curso de Franciscanismo na ESTEF (acadêmico com reconhecimento oficial).

Duas propostas foram assumidas para 2011:
- a realização de um Seminário com o tema da Economia Solidária, a realizar-se dias 27 a 29 de maio de 2011, com assessoria da Irmã Lenita Grippa; e,
- a realização de um Retiro de 5 dias para na Casa de Encontros São Bernardino, em Viamão (até 60 pessoas) – Data: 23 a 27 de setembro de 2011.

Com a presença do Isnar e da Saraí, representando o Instituto Cultural Padre Josimo e a Associação Madre Cristina, fomos desafiados a nos inserir mais profundamente na dimensão ecológica através da campanha de arrecadação de óleo de cozinha, bem como, a nos sensibilizarmos para o mundo da evangelização através da comunicação televisiva de mensagens franciscanas. Grandes desafios franciscanos hoje.
A próxima reunião da Equipe de Coordenação da FFB-RS será no dia 14 de outubro 2010; e, a Assembléia Regional Anual Eletiva da FFB-RS ocorrerá dia 12 de setembro de 2011.

sábado, 11 de setembro de 2010

"Só tu tens palavra eternas, queremos ouvir"

(Ex 32,7-14; Sl 50/51; 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32)(12.09.2010)
“Palavras de salvação somente o céu tem pra dar”, canta o Pe. Zezinho. “Só tu tens palavras eternas, queremos ouvir”, cantamos em nossas comunidades. Estas palavras de salvação e de eternidade são sempre boa notícia que desperta, sustenta, orienta. Mas são tudo, menos palavras fáceis e apaziguadoras. A Palavra de Deus, que se faz grito no clamor dos pobres e interpelação na boca dos profetas, nos chama ao essencial, nos leva ao encontro conosco mesmos, nos coloca nus diante da nossa vocação de cristãos. É palavra de vida eterna exatamente porque nos arranca da comodidade dos esconderijos que construímos com nossos interesses e desculpas. É palavra de salvação porque nos recorda que, aos olhos de Deus, não pode existir senão uma humanidade única e indivisa. E este desejo de Deus se transforma na utopia que move nossos passos.

“Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar.”
Jesus Cristo é a palavra de Deus feita carne defitivamente, o ‘sim’ irrevocável de Deus à humanidade. Nele todas as promessas de Deus se unificam e se deixam tocar. Nele o verbo deixa de ser conceito e se torna ação. Em Jesus Cristo Deus liberta falando e fala libertando. Sua ação libertadora se condensa no resgate da cidadania dos excluídos e a Palavra vivificante se resume no anúncio do início de um tempo regido pela gratuidade e pela compaixão.
Paulo escreve a Timóteo, recolhendo a experiência pessoal e das comunidades, e referindo-se à ação libertadora e gratuita de Deus em Jesus Cristo, diz: “É digna de fé e de ser acolhida por todos esta Palavra...” É isso que, não obstante as severas adevretências de Jesus que meditamos no último domingo, faz com que “todos os publicanos e pecadores” aproximem-se de Jesus para escutá-lo e se confraternizar com ele. Todos queriam ouvir Jesus, convictos de que só ele tinha “palavras eternas”.

“Os fariseus e escribas, porém, murmuravam contra ele.”
A Palavra e a ação de Jesus trazem à tona uma divisão tão real quanto inaceitável: de um lado – que é o lado de fora ou a parte de baixo da pirâmide social – estão os chamados ‘publicanos e pecadores’; e do outro – o lado de dentro ou o topo da pirâmide – estão os considerados justos, aqueles que se dispensam de qualquer movimento de conversão. Na ideologia religiosa de Israel, os primeiros eram da parte do mal, os ímpios ou impuros; os segundos, eram os piedosos e puros, gente de bem.
Com sua palavra e sua ação, Jesus não cria nem aprova esta divisão. Mas também não passa ao largo, não fecha os olhos como se nada existisse. Fiel à sua experiência de Deus, que coincide com a tradição profética, se aproxima e se coloca ao lado do grupo dos pecadores e impuros. E mais: afirma com todas as letras que os últimos são os primeiros, que a pedra rejeitada é a principal peça na construção do Reino de Deus, e que nenhum dos primeiros convidados provará do seu banquete.
É isso que Jesus ilustra com as três eloquentes parábolas do evangelho de hoje. As pessoas tachadas de pecadoras são como uma ovelha perdida, procurada com incomparável empenho pelo pastor. Ou como uma pequena moeda extraviada e procurada incansavelmente por uma dona de casa. O que importa não é o que levou ao extravio, mas a alegria do pastor e da dona de casa que as encontram. “Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida... Encontrei a modeda que tinha perdido!”

“E o pai dividiu os bens entre eles...”
Precisamos ser prudentes e inteligentes para não entrar por uma porta inadequada. A terceira parábola não quer focalizar a presumível culpa e o processo de conversão do filho mais jovem. Se fosse assim, a parábola poderia comelar dizendo “um homem tinha um filho desobediente...” Falando de dois filhos, Jesus estabelece uma clara correspondência com os dois grupos que se dividem em relação a ele: os pecadores, que se aproximavam para escutá-lo; os fariseus que murmuravam contra ele.
A parábola parte aparentemente dando razão aos fariseus e escribas. O filho mais novo pede sua parte da herança, vai embora e gasta tudo sem o menor controle. Mas todos os bens pertencem a Deus, que os divide igualmente entre seus filhos. A justiça de Deus porém não se resume nisso; não é uma formalidade fria e cega, indiferente às diferenças e sofrimentos concretos das pessoas.
A situação daquele personagem fictício, empregado na criação de porcos em terra estrangeira, faminto a ponto de desejar alimentar-se com a ração dada aos porcos, ressalta mais sua situação de miséria e exploração que sua culpa. O prostramento é tal que ele acaba se convencendo de que perdeu todos os direitos e se resigna a ser tratado como empregado na casa do próprio pai. Eis a experiência subjetiva dos doentes, estrangeiros, pecadores, mulheres e tantos outros no tempo de Jesus.

“Seu pai o avistou e foi tomado de compaixão.”
Esta palavra de Jesus sublinha que aos olhos de Deus não existe primeiro e terceiro mundos, gente de primeira classe e gente absolutamente desclassificada, filhos/as cheios/as de direitos e filhos/as deserdados/as. Para Deus a humanidade é indivisível. Tendo avistado de longe o filho miserável, antes de qualquer palavra de arrependeimento ou submissão, o pai vai ao seu encontro absolutamente comovido. E quando o filho recita o refrão da culpa introjetada, o pai nem lhe dá ouvidos.
Se há uma reviravolta nesta história, esta é representada pelo pai e não pelo filho. Deus se recusa a aceitar uma humanidade dividada entre uns poucos que se presumem irrepreensíveis, merecedores de todos os bens, e uma multidão que deve repetir o refrão das culpas que lhe atribuem e mendigar a simples sobrevivência. Deus rompe com as regras de uma justiça estreita e escancara as portas de sua casa aos necessitados e pecadores. E não está nem aí com a murmuração dos descontentes.
Infelizmente, por comodidade ou por maldade, continuamos a tolerar um mundo dividido, e raramente nos incomodamos com os 2/3 da humanidade que padece e sobra. E nos justificamos carimbando-os de indolentes e imprevidentes, imorais e impuros, infiéis e irresponsáveis (e tantos outros ‘i’). Na cabeça de muitos/as e na pregação de alguns, Deus é um promotor que acusa, um juíz que condena, um credor que cobra, um rei que não se interessa pela plebe, mesmo que viva pior que seus cães e porcos.

“Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés...”
A missão de Jesus Cristo consiste em abrir as relações sociais e instituições para que todos os seres humanos, a começar pelos últimos, tenham plena cidadania. Como as 100 ovelhas e as 10 moedas formam unidades que não podem ser divididas, para ele a humanidade é uma só, e não contam as diferenças de crença, de nacionalidade, de orientação sexual, de idade, de escolaridade. O que conta e precisa ser mudado é a divisão entre um grupo de privilegiados e uma maioria de excluídos.
Na parábola, as ações aparentemente exageradas do pai sublinham exatamente isso. Ele não se restringe a ajudar o filho a sobreviver: não lhe dá uma roupa qualquer, mas a melhor túnica; não mata um simples novilho, mas o mais gordo; e lhe dá o anel com o brasão da família, assegurando-lhe a dignidade de membro pleno da família. E uma ação de resgate da cidadania e inclusão social como essa precisa ser solenemente festejada, sem dar atenção aos que se recusam a participar.
Na postura e nas palavras do filho mais velho ressoam os protestos e a presunção dos fariseus e escribas de todos os tempos e latitudes. “Estou bem porque trabalhei, acumulei porque economizei. Os demais estão mal porque fizeram por merecer. Que se danem!” Mas, através de sua Palavra, Deus não se cansa de convidar também a estes a participar de sua alegria pelo acesso dos últimos a uma vida mais digna, pela reintegração dos que trazem na pele e na alma as marcas da exclusão.

“Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro...”
Não há santo sem passado, nem pecador sem futuro. Todos necessitamos e dependemos do amor para alcançar a maturidade e a liberdade, e este amor não vem de nós mesmos, mas de fora, dos outros, de Deus. Paulo faz questão de lembrar seu passado de ignorante, blasfemo e perseguidor. Foi pela graça abundante e imerecida de Deus que ele se tornou apóstolo. Jesus Cristo teve paciência com ele, não lhe negou sua misericórdia e fez dele um exemplo digno de ser imitado.
Dirigimo-nos com confiança a ti, Senhor. Tem paciência conosco, mas não permite que nos fechemos em nós mesmos e nos interesses do nosso grupo. Só tu tens palavras de vida, e nós precisamos ouvi-las. Vem ao nosso encontro, toma-nos pela mão e faz que entremos na tua casa e participemos da festa de acolhida daqueles que estavam perdidos e foram encontrados, estavam mortos e voltaram a viver.
Pe. Itacir Brassiani msf

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"E sorrindo promunciaste meu nome..."

(Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67/68; Hb 12,18-24; Lc 14,1.7-14)(29 de agosto 2010)
O hábito entrou na sociedade e na Igreja, e hoje repetimos a expressão quase inconscientemente: basta que uma pessoa exerça alguma função de autoridade e nós a tratamos como Excelência. E se a função for eclesiástica e alta, acrescentamos Revendíssima. A estas pessoas são reservados or primeiros lugares e todas as honras, não importando aquilo que realmente fazem ou são. E o pior acontece quando tais honoráveis excelências cobram respeito ao seu status e quando isso é ensinado como se fosse Evangelho de Jesus Cristo. Definitivamente, esta não é uma atitude inspirada no Evangelho. A catequese de Jesus passa longe disso. Continua válido, depois de 2200 anos, o ensinamento de Jesus Ben Sirac: “Para as chagas dos soberbos não há cura, pois a planta do pecado se enraíza neles e nem é percebida.”

“Jesus foi convidado a comer na casa de um dos chefes dos fariseus.”
Jesus não perde oportunidade na sua tarefa de catequista. Ele propõe uma inversão radical da escala dos valores da sociedade e da religião do seu tempo, e não se cala nem mesmo na casa de uma autoridade moral, em pleno jantar festivo para o qual havia sido convidado. Jesus desenvolve a lição de catequese cristã que acabamos de ouvir, logo depois de afirmar que as necessidades de uma pessoa estão acima das leis, num solene dia de sábado, na casa de um dos chefes dos fariseus.
Sua catequese é concreta e ligada aos fatos. Ele aproveita a presença de um homem doente para discutir o limite das leis e instituições. E quando vê que os convidados para uma refeição se apressam em ocupar os primeiros lugares, propõe uma reflexão sobre o orgulho e a humildade. Sua catequese não é sobre as regras de boas maneiras a serem observadas numa refeição solene, mas sobre um princípio nucleador da vida cristã. Como modelo de catequista, ele não fica na periferia das coisas.

“Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares.”
Como catequistas, devemos estar atentos e lúcidos diante dos privilégios que a sociedade concede e a própria tradição justifica e ensina. Já em 1965 Dom Helder Camara dizia que o maior perigo que nos ameaça é querer sempre vencer e jamais fracassar, sentir-se sempre querido e nunca sobrar. Com profunda delicadeza e sinceridade, ele mostrou a Dom Eugênio que, “mais grave ainda do que ser apanhado pela engrenagem do dinheiro, é ser apanhado pela engrenagem do prestígio”.
É ainda nosso pequeno Helder e grande profeta que lamenta que homens santos e corajosos como João XXIII e Paulo VI não tenham conseguido se livrar “do peso morto terrível e da pedra de escândalo das tradições do Vaticano”. E deabafa: “Não acreditem que Paulo VI não se sinta profundamente mal ao sentar-se no trono e ver um Monsenhor, ajoelhado, colocando-lhe um travesseiro debaixo dos pés enquanto dois outros acomodam-lhe a capa, como se ajeitassem uma velha rainha.”
É verdade que na Igreja nem sempre são as próprias pessoas constituídas em autoridade que buscam os privilégios, embora isso também ocorra. Mas precisamos superar uma certa tradição, que continua se reproduzindo com a ajuda da nossa passividade: sem perder o respeito devido às pessoas, é hora de erradicar o sagrado e pouco evangélico hábito de vincular as autoridades às engrenagens do dinheiro e do prestígio, de considerá-las acriticamente reverendas excelências.

“Quando ofereceres um almoço ou um jantar...”
Jesus avança na sua catequese e passa da crítica do orgulho e dos privilégios à questão dos beneficiários da nossa atividade . Ele parte de um costume doméstico que vigora também entre nós: quando organizamos uma festa, no topo da lista dos convidados estão os familiares, os parentes, os amigos e os vizinhos. Isso faz parte das boas maneiras e continua válido no nível interpessoal, mas este círculo é muito estreito quando se trata do horizonte da nossa missão enquanto comunidade eclesial.
Da mesma forma que o cristão rejeita resolutamente a busca de honras e vaidades e busca decididamente o lugar reservado aos servidores, assim também, como pessoa e como Igreja, precisamos superar a lógica da troca compensatória: servir, apoiar e defender aqueles que têm mais possibilidades de compensar em moeda e em honras o nosso serviço. A Igreja não pode ter outra prioridade senão amar e servir Jesus Cristo crucificado nos excluídos que se contam aos milhões e estão por todo lado.
No primeiro momento Jesus fala aos hóspedes que estavam com ele à mesa, ensinando que “todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. Depois se dirige ao próprio anfitrião que o acolhe, questionando sua expectativa de retribuição. Orgulho e a busca de retribuição não são posturas enraizadas no Evangelho. Não é o nome deste tipo de pessoas que Jesus diz sorrindo, e não é a elas que ele costuma confiar sua missão.

“Estes não têm como te retribuir!”
Precisamos nos convencer de que é profundamente desgastante e infantilizador viver de privilégios e depender de compensações. O caminho que dá acesso às honras e privilégios geralmente passa pela subserviência humilhante e é acompanhado por um medo aterrador e por um apego doentio aos bens e a toda sorte de títulos. Não é por nada que Francisco de Assis se encontra ao mesmo tempo a minoridade e com a pobreza. Abraçando uma ele acaba desposando também a outra.
Aproveitando a memória de sua morte de Dom Helder (27.08.1999), voltemos à sua sabedoria. “Não te diz a experiência que quando vem a morte em geral sucede o inverso do que se esperava: os que proclamam ausência de medo tremem, se inquietam, se assustam, ao passo que a recebem tranquilos os humildes que tremiam?...” Quem perdeu ou distribuiu tudo com generosidade, experimenta o que é ser livre e não teme perder nada. E se não espera nenhuma retribuição, alcançou a maturidade.
Jesus propõe a substituição dos grupos de pessoas que costumam aparecer no topo das nossas listas de festas: os pobres, aleijados, coxos e cegos devem ser os primeiros. É claro que Jesus não quer estragar nossa festa, mas questionar a estreiteza das fronteiras que traçamos entre os que são dos nossos e os outros e problematizar a busca de compensações que costuma reger nossas pequenas e grandes ações. A verdadeira felicidade consiste em dar generosamente, sem cobrar dividendos na terra ou no céu.

“Pelos humildes ele será exaltado.”
A motivação mais profunda desta inversão radical que Jesus nos propõe não tem a ver com ódio às pessoas bem-sucedidas ou às autoridades, nem com o apreço pelo que é feio e baixo. A motivação lança suas raízes no próprio Deus, cujo coração se move de compaixão pelos pobres e oprimidos. O salmo 67/68 celebra: “Pai dos órfãos e defensor das viúvas, assim é Deus na sua santa morada. Aos desprezados Deus dá uma casa para morar, faz sair com alegria os prisioneiros...”
A este propósito, a escritura ensina: “Sê misericordioso com os órfãos como um pai, e como um esposo para suas mães; e serás como um filho obediente do Altíssimo...” (Eclo 4,10-11). Por isso “quem oferece um sacrifício com os bens dos pobres é como quem imola um filho na presença do pai. A vida dos pobres é o pão que necessitam; quem dele os priva é um assassino. Quem subtrai o pão do suor é como quem mata o seu próximo; derrama sangue quem defrauda o assalariado” (Eclo 34,24-27).
Tanto Maria como Jesus nos ensinam que Deus humilha aqueles/as que se extaltam e exalta os/as humilhados/as. Mas não é só isso. São os humildes que realmente honram a Deus e penetram seus mistérios em profundidade. E nós honramos realmente a Deus quando nos tornamos semelhantes a ele no seu amor preferencial e solidário pelos últimos. E assassinamos os pobres quando, como pessoas, como Igreja ou como nação, ignoramos ou pisoteamos seus direitos.

“Amigo, vem para um lugar melhor!”
A recompensa para quem segue a via proposta e trilhada por Jesus é dada na ressurreição dos justos. Em outras palavras: a felicidade que ninguém pode roubar é esta que conquistamos – ou recebemos de graça! – entrando pela estreita porta da humildade e da generosidade. É a alegria profunda que experimentamos quando ouvimos da boca dos porta-vozes da vida o convite: “Amigo/a, vem para um lugar melhor!” Nestes momentos descobrimos que Deus pronuncia nosso nome sorrindo.
É bom acolher esta palavra forte e iluminadora de Deus no domingo dedicado às catequistas. Sorrindo, Jesus as chama pelo nome para esta missão. Oxalá possam ensinar com a vida e com a palavra a lição que Jesus nos dá neste domingo. E, depois de ocupar por anos e anos um lugar considerado por muitos como secundário, possam escutar o mestre dizendo: “Amiga, vem para um lugar melhor!”
Pe. Itacir Brassiani msf

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Senhor, tu olhastes em meus Olhos..."

(Ap 11,19.12,1-6; Sal 44/45; 1Cor 15,20-27; Lc 1,39-56)

A Assunção de Nossa Senhora é uma festa litúrgica mariana que, para as comunidades do Brasil, está ligada à semana dedicada à vocação à vida religiosa. Mas aquilo que cremos sobre Maria não se limita aos religiosos e religiosas: de alguma forma se refere a todos os homens e mulheres, à comunidade eclesial, ao povo de Deus. A glorificação de Nossa Senhora, sua realização plena em Deus, é uma vocação e uma promessa extensivas a toda a humanidade. Como Maria, todos nascemos para a glória e para o brilho e descobrimos que, olhando-nos nos olhos, Deus nos chama sorrindo pelo nome. Nela a pessoa humana em sua integridade – em corpo e alma! – é assumida e realizada em Deus. E esta é também uma proclamação clara e inequívoca da dignidade do corpo.


“Feliz aquela que acreditou!”
No Magnificat Maria aparece como uma pessoa humilde e humilhada. E Lucas a apresenta como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus e que está pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história. Isabel acrescenta que Maria é alguém que ousou acreditar na força da Palavra e na fidelidade daquele que a pronuncia. Obviamente, não se trata de uma palavra escrita na Bíblia, mas de uma mensagem eloquente escrita nos acontecimentos.
A humildade, a escuta e a fé estão intrinsecamente relacionadas e são as marcas fundamentais da personalidade de Maria. Se Deus pôde realizar grandes coisas nela e através dela é porque encontrou a base humana indispensável já preparada. Não fazemos bem quando idealizamos Maria a ponto de desumanizá-la completamente. Para fazer-se humano o Filho de Deus precisou de uma pessoa fundamentalmente humana, e não de criaturas angélicas!
Humildade, atitude de escuta e fé na ação misericordiosa e libertadora de Deus são os elementos que possibilitam uma vida feliz. É importante lembrar que o segredo da felicidade que todos buscamos não está na posse ou no consumo de bens, nem na fama ou no sucesso que alcançamos ou ainda no poder de atração que exercemos sobre os outros, mas na abertura humilde e profunda aos outros, ao futuro e a Deus. “Feliz aquela que acreditou...”


“Derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes”
O Evangelho diz que, depois da experiência de ser amada e de receber a tarefa de dar à luz aquele que é a Luz do mundo, Maria vai apressadamente à casa de Isabel. Busca um sinal que confirmasse a parceria de Deus com os humildes e sua aliança com os pobres. Ela havia dado sua palavra Àquele que é capaz de fazer grandes coisas em favor do povo humilhado, mas nem tudo estava claro. A discípula se faz serva, a serva se mostra peregrina e a peregrina experimenta a hospitalidade na casa de Isabel.
Na casa de Isabel, enquanto Zacarias permanece mudo e à margem de tudo, duas mulheres louvam a Deus e profetizam. A discípula, serva e peregrina se transforma em profetiza destemida. Contemplando sua própria história e a epopéia do seu povo, Maria percebe e proclama a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os soberbos, derruba os poderosos, eleva os humildes e oprimidos, socorre seu povo e estende sua misericórdia a todas as gerações.
É importante não esquecer que Maria, esta mulher assunta ao céu, não é apenas uma humilde trabalhadora do lar, uma pessoa discreta que acredita em Deus, uma doce e recatada esposa de um carpinteiro. Deus assume em corpo e alma e eleva à glória do céu uma mulher que rompe com os costumes que menosprezam a mulher e a mantém calada, que diz uma palavra profética na arena pública, que proclama uma revolucionária intervenção de Deus sobre a história.


“E bendito é o fruto do teu ventre!”
No encontro entre Maria e Isabel o corpo festeja e é festejado. É bendito o corpo feminino de Maria, assim como bendito é o corpo que ela carrega no ventre. Bendito é o corpo de Isabel, capaz de perceber a incontida alegria daquele que preparará a estrada para a chegada do Messias, e bendito é o corpo dos mártires de todos os tempos. Bendito é também o corpo dos humilhados e dispensados, destinados por Deus desde sempre ao brilho.
A festa da Assunção de Maria sublinha de forma contundente a dignidade do corpo, de todos os corpos. Mas é uma proclamação da dignidade especialmente dos corpos humilhados por uma cultura que os transforma em meios de produção, em objetos vendidos e comprados, em produtos expostos nas vitrines e passarelas, sem brilho e sem beleza. É também o reconhecimento da beleza e da nobreza dos corpos doentes e envelhecidos pelo tempo, assim como do corpo eclesial dos muitos e diferentes membros.


“Um grande sinal apareceu no céu...”
Mas é importante lembrar que Maria, sendo discípula e membro da Igreja, é também sinal e símbolo do povo de Deus, da imensa caravana dos homens e mulheres de boa vontade, sonhadores de um outro mundo. Sua assunção é um sinal e uma parábola da ressurreição que todos esperamos. O livro do Apocalipse sublinha este aspecto de sinal ou símbolo. Como ela, a humanidade está em trabalho de parto e, mesmo ameaçada por todos os lados, vai dando à luz um Homem Novo e construindo um Mundo Novo.
Mas não esqueçamos um outro aspecto também relevante: Maria simboliza uma Igreja com traços femininos. A Igreja é chamada a construir-se como corpo que acolhe, aquece, alimenta, ensina, respeita e favorece o crescimento e o amadurecimento dos filhos e filhas. Uma Igreja institucionalmente rígida, fechada, autoritária, legalista e doutrinária não tem pouca relação com a figura feminina de Maria. Seria uma Igreja fechada, que não crê, uma Igreja infeliz. Uma Igreja com nome feminino e corpo masculino...


“O menino pulou de alegria no meu ventre...”
A festa da Assunção de Maria recorda e proclama que a Igreja, esse povo de Deus sem fronteiras definidas, formado por todos os homens e mulheres de boa vontade, é assumido por Deus como seu corpo e meio de ação na história. A Igreja precisa se compreender como povo de Deus em marcha, que não pode construir aparatos pesados porque não tem aqui sua morada definitiva. E precisa superar todas os sinais de exclusivismo, esta tentação de traçar fronteiras entre cristãos e não-cristãos.
É verdade que não há oposição irreconciliável entre o Espírito e as estruturas. Deus assume as estruturas e leis limitadas da história e das instituições para pôr em movimento sua obra libertadora. Mas cabe à Igreja avaliar constantemente seus instrumentos e estruturas, subordinando-os à ação e aos interesses de Deus e não aos seus próprios interesses e medos. Fora disso seu corpo se enrijece, envelhece, perde vitalidade. E se torna incapaz de promover salvação e liberdade.
Inspirada em Maria, a Igreja precisa criar espaços e condições favoráveis ao desenvolvimento de homens e mulheres maduros, livres, despojados, solidários e comprometidos com a salvação do mundo. Um corpo que se impõe pelo medo e pela lei está condenado à esterilidade e nunca terá a graça de sentir os filhos e filhas saltarem de alegria no seu ventre. É um corpo que não conhece a felicidade, um túmulo de homens e mulheres que não chegam a nascer verdadeiramente.


“A mulher fugiu para o deserto...”
Com a celebração deste terceiro domingo do mês vocacional iniciamos a semana que propõe a reflexão sobre o chamado à vida religiosa e somos convidados a refletir sobre o lugar e o significado da vida consagrada na Igreja e na sociedade. Como a de Maria, esta vocação não é externa e nem superior à Igreja: ela nasce no seu coração e está a serviço da sua missão. Como carisma específico do corpo eclesial, a vida religiosa está a seu serviço. Nasce de um chamado gratuito para servir gratuitamente.
Na sua origem está a experiência mariana de um Deus que olha nos olhos e sorrindo nos chama pelo nome. Ou uma experiência como aquela de Isabel: o corpo estremece de alegria por receber inesperadamente Deus na própria casa. Não se trata primariamente de um caminho de purificação moral ou de desprezo do mundo, mas de plenitude de uma graça que não cobra méritos. Dá de graça aquilo que de graça recebeu.
Partindo daqui, a vida consagrada faz-se ouvinte da Palavra, cresce como servidora e amadurece como profecia. Como Maria, as pessoas consagradas são chamadas a proclamar com a vida e com a palavra que nada pode ser colocado acima do amor pessoal a Jesus Cristo e aos pobres nos quais ele vive. Inspirada pela mulher do Apocalipse, a vida religiosa é chamada a atuar nos desertos (onde tudo parece sem sentido), nas periferias (onde não há poder) e nas fronteiras (onde tudo precisa ser reinventado).
Pe. Itacir Brassiani msf

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

3º Seminário Estadual da Vida Religiosa Inserida e Solidária

Realizou-se na Casa Marista da Juventude (CAJU), no Bairro Vila Nova de Porto Alegre, RS, nos dias 6, 7 e 8 de agosto de 2010 o 3º Seminário Estadual da Vida Religiosa Inserida e Solidária. Esse teve como tema “Identidade e missão da Vida Religiosa Inserida e Solidária na atual conjuntura”.
Iniciou as 19 hs do dia 06, com a janta. Às 20 hs os e as participantes foram acolhidos (as) pela equipe organizadora, na capela da casa. O cenário apresentou a Tenda “schehiná”, o caminho, o pequeno Moíses na cesta de vime... O texto de Ex 2-3 iluminaram a introdução ao tema. A seguir, os integrantes do seminário se apresentaram. A luz de uma vela na forma de coração, cada um (a) foi dizendo seu nome, Congregação e algo da missão representado no símbolo que cada qual trouxe.
Na manhã do dia 07 iniciou-se a jornada às 7 h e 30mim com oração. A partir de Mateus 17, 14-20 fizemos preces e concluímos com o hino a Nossa Senhora e a benção junto a Tenda e a imagem Daquela que trouxe o Emanuel.
O dia foi dedicado a reflexão e estudo sobre Políticas Públicas. Tivemos uma asessoria competente de Padre Edson Da Cunha Thomassin e Fabiane Asquidamini que trouxeram valiosas contribuições através de filmes, textos e dinâmicas.
Às 18 h celebramos a Eucaristia, presidida pelo Padre Rogério Mosmann da Silva, um dos integrantes do grupo.
Um momento de destaque foi a confraternização. A Vida religiosa Inserida e Solidária é rica em talentos: teve um conjunto musical para ninguém bota defeito, o “canal improvisado da TV Sucata” filmou e sonorizou os momentos mais contrastantes da festa. Do baú das recordações vieram mágicas, poesias clássicas, piadas até em latim e músicas do tempo do “beijinho doce foi ele quem trouxe longe pra mim”. Quem participou sabe como foi legal. Tudo promete que o próximo, em agosto de 2011, será ainda melhor. Esperamos que ninguém falte.
Após uma noite encolhida, mas bem dormida, iniciamos o domingo, Dia dos Pais, com uma fervorosa oração e um reforçado café. Revisitamos o “caminho” da Vida Religiosa Inserida e Solidária trilhado

Conhecimento presença Aprofundamento
participação urgência esperança
Opção pelos empobrecidos mistica da compaixão persistência
proximidade partilha
igualdade escuta da palavra e do clamor
cuidadeo da vida


Olhando para esse cenário cantamos com o poeta, Nelson Toletino:
“Senhor, quanto mais caminho, mais vejo aumentar a estrada. Tropeço por entre espinhos, num campo onde foi calada: a voz da libertação. Mas me ergo, não vou sozinho, teus passos comigo vão. Na terra será plantada a paz que nos é doada, em cada fração do pão. Não posso ficar parado, teu corpo me dá coragem. Teu sangue me traz imagem de tantos irmãos deixados à margem da salvação. Teus passos irei seguindo/ a paz vou distribuindo. E o mundo evangelizado será, enfim, transformado em paz e salvação”.
No final, alguns amarramentos, previsão da programação 2011... E vem aí a 41ª Assembléia da Conferência dos Religiosos Sul 3, da qual somos parte. É preciso colocar também nossa contribuição para uma Vida religiosa Consagrada com os pés nas realidades dos empobrecido sem desviar o olhar de Jesus, o Filho de deus que se fez nosso Irmão.
Criativamente e fiéis ao horário, motivados (as) pela equipe da liturgia, rezamos o Pai-nosso, Ave-Maria e nos abençoamos mutuamente.
Um saboroso e substancial almoço preparado pelas dedicadas cozinheiras da casa, nos reanimou para voltar pra missão.
Irmã Nilza Maria Nicodem
Irmã Lizandra Inês Both
Irmãs Filha do Amor Divino

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"Tu minhas mãos Solicitas..."

(Sb 18,6-9; Sl 32/33; Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48)(08 de agosto 2010)
A proposta do mês vocacional nos convida a refletir, na segunda semana que ora iniciamos, sobre a vocação dos pais e da família. Mas é interessante lembrar também algumas figuras cuja memória é celebrada nestes dias: o religioso mendicante e fundador São Domingos (+06/08/1221); a filósofa judia e mártir carmelita Edith Stein (+09/08/1942); Frei Tito, religioso cearense, preso e torturado pela ditadura militar brasileira (+10/08/1974); Santa Clara (+11/081253), amiga de São Francisco e fundadora das clarissas; a agricultora e sindicalista nordestina Margarida Alves (+12/08/1983); a testemunha do amor de Deus entre os sofredores de rua, Pe. Alfredinho Kunz (+12/08/2000). Todos/as nos deixaram, cada um/a seu modo, o testemunho de uma vida vigilante, ativa e serviçal na espera do Reino de Deus.

“Não tenhas medo, pequeno rebanho.”
Podemos dizer que o cristianismo é hoje um pequeno rebanho? Os fiéis espalhados no mundo e vinculados às diferentes confissões cristãs são mais de um bilhão, e isso faz do cristianimo a maior religião da atualidade. Do ponto de vista estatístico, não somos um pequeno rebanho, mas uma grande multidão. Mesmo sendo verdade que estamos diminuindo na Europa, o crescimento nos continentes africano e asiático continua mantendo nosso sentimento de superioridade.
Mas esta hegemonia numérica pode não significar muito do ponto de vista da fidelidade ao evangelho. O próprio Jesus não se deixava impressionar com as pequenas multidões que o seguiam, despertadas pelos sinais que realizava. Os discípulos e discípulas que entenderam o que significava crer em Jesus e seguir seus passos eram poucos, e mesmo esta minoria acabou abandonando-o quando foi acusado, preso, torturado e crucificado. Tudo recomeçou a partir de um pequeno rebanho fiel e corajoso.

“Onde estiver o vosso tesouro, aí está também o vosso coração.”
Quem crê em Jesus Cristo e segue seus passos tem um tesouro pelo qual está disposto a relativizar tudo o mais: o Reino de Deus. Estamos ainda lembrados que, no evangelho do domingo passado, Jesus nos advertia contra a tentação da ganância: o entesouramento de riquezas calcado na indiferença para com a sorte dos oprimidos que nos interpelam com sua simples presença é uma burrice fenomenal e um erro fatal que compromete o sentido do presente e também o nosso futuro.
No trecho do Evangelho deste domingo Jesus continua convidando a procurar bolsas anti-furto, pois onde guardamos nosso tesouro também depositamos o sentido da vida. Para aqueles/as que expressaram no batismo o compromisso de pautar a vida pelos passos e práticas de Jesus, não há riqueza mais preciosa que o Reino de Deus, o tesouro que deu sentido à vida de Jesus. Contribuir para que todos tenham vida em abundância é um valor primário, impagável e inegociável.

“Sejam como pessoas que está esperando seu senhor voltar...”
Mesmo que o Reino de Deus seja um sonho que se realiza muito lentamente e só será pleno no futuro, a atitude cristã é a espera ativa. É isso que Jesus nos ensina no evangelho de hoje, lançando mão de três pequenas parábolas: os empregados que esperam a volta do patrão; o dono da casa que toma precauções contra os ladrões; os administradores que um proprietário encarrega para tomar conta da casa durante sua ausência. Deus solicita as mãos dos que nele crêem.
Diante da solidez das estruturas injustas e da força dos hábitos arraigados somos rondados pela tentação da passividade ou da fuga espiritualista. Como não sabemos se o Senhor da história chegará antes da meia-noite ou se o Reino de Deus só se fará ver na madrugada distante e incerta, entregamo-nos ao sono da passividade, da indiferença ou da deserção. ‘Já que o Reino é de Deus, que ele mesmo abra a porta quando resolver voltar... Já fazemos muito se nos entregamos à oração...’
Nossa condição na história é de espera de alguém que está para voltar. Temos que estar acordados para abrir a porta quando ele chega e bate. Infelizmente, absorvemos a perigosa ideologia que prega que nada temos a esperar, e que na história valem as leis do mercado: quem pode mais, chora menos. Cremos sim que Deus existe, mas ele está tranquilo no céu e não voltará. Nós é que devemos ir a ele, atravessando a história na ponta dos pés, sem olhar para os lados e para os rostos que nos interpelam.

“Felizes os que o Senhor encontrar acordados!”
Precisamos esperar o Reino de Deus colocando-nos a serviço do povo de Deus. “Ficai de prontidão, em traje de serviço, e com as lâmpadas acesas.” Os que apostamos no caminho alternativo proposto por Jesus somos sim um pequeno rebanho, mas existimos para ajudar no parto da nova humanidade. Não podemos dormir sobre os efêmeros louros de um passado numericamente glorioso. A Igreja é um depósito de sementes que devem ser jogadas na terra.
É triste quando uma Igreja esquece sua razão de ser e se preocupa unicamente com seus direitos, poderes e tradições. Onde fica a missão de cuidar da casa de Deus e abrir a ele as portas? Se o próprio Deus faz seu povo sentar-se à mesa e veste trajes de servo, não faz sentido esta anacrônica e mortal luta por privilégios diante dos Estados. Adiar indefinidamente as urgentes reformas da Igreja é uma atitude imprudente e perigosa, pois o Senhor pode vir como ladrão e tudo o que parece sólido será ruínas.
Missão do povo de Deus é empenhar-se para que a humanidade receba seu trigo na hora certa, seja atendida em seus direitos fundamentais. Festejar com os grandes do mundo, embriagar-se com as falsas liturgias do poder, bater com a vara da excomunhão os próprios irmãos – inclusive porque propõem uma teologia diferente ou reconhecem os carismas ministeriais também nas mulheres – é coisa que nos iguala às figuras mais execráveis da história. E nos faz merecer chicotadas sem número.

“Pela fé ele viveu como errante na terra prometida...”
A condição dos cristãos na história é aquela dos administradores aos quais se confia o cuidado da casa, se pede vigilância e serviço aos irmãos e irmãs. Temos o direito de festejar e celebrar os inúmeros pequenos avanços do Reino de Deus, mas sem deixar-se embriagar perigosamente pelas ideologias do poder e do sucesso. Nossa condição é a mesma de Abraão: vivemos na história como errantes que ainda buscam uma pátria definitiva, mas que, todos os dias, abrem as mãos no serviço aos irmãos e irmãs.
Quem vive no mundo como errante, não constrói moradas definitivas, mas apenas tendas leves que podem ser armadas e desarmadas conforme a necessidade. O que fazer com o peso e a imponência das basílicas que enchem a cidade de Roma, com a inócua guarda-suíça, com os imutáveis códigos canônicos e litúrgicos que só interessam aos especialistas? Onde entram Jesus Cristo crucificado e sua Boa Notícia aos pobres em tudo isso? As mãos que se entregam ao incensamento se fecham aos necessitados...
Quem vive no mundo como errante parte sem saber onde vai chegar e corre o risco de não desfrutar daquilo que o move e mantém na estrada. Mas, sentindo-se peregrino e hóspede, dá o melhor de si para não poluir nem destruir os lugares por onde passa. E faz o possível para que os que vêm atrás possam usufruir de um caminho mais sinalizado e de um ambiente mais agradável. Deus solicita nossas mãos generosas e criativas. Os vales por onde passamos deveriam se encher de flores e espigas.

“Deus não se envergonha deles...”
Deus não se envergonha destes homens e mulheres que, por não abrirem mão do tesouro do Reino de Deus, foram ou são considerados doidos, insignificantes ou perigosos. São pais de família que, além de serem uma peresença terna e firme ao lado e à frente dos filhos e filhas, não lhes sonegam a mais bela lição: neste mundo somos peregrinos e hóspedes, mas cabe-nos fazer o possível para que ele seja melhorado e os bens circulem e cheguem a todos os seres humanos. Eis a herança mais preciosa.
Clara de Assis encantou-se pela loucura de Francisco e deu à luz uma comunidade de irmãs pobres, livres e orantes que produz frutos ainda hoje. Edith Stein fez da filosofia um caminho de humanização e de indentificação com os destino das vítimas. Domingos de Gusmão fez-se pobre para libertar o Evangelho das contradições de uma Igreja rica. Frei Tito enamorou-se da liberdade do seu povo e por ela sofreu a tortura que o matou por dentro. Margarida Alves achou melhor morrer na luta que morrer de fome. E Alfredinho resgatou a irmandade e a dignidade dos sofredores.
São pessoas que fizeram bolsas que não se estragam e adquiriram tesouros que ninguém pode roubar. O medo não as impediu de lutar. Elas só puderem saudar de longe a utopia que orientou sua vida, mas nós sabemos que Deus não se envergonha delas quando o invocam como seu Deus.
Pe. Itacir Brassiani msf

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Seja Você...

Não espere um sorriso, para ser gentil...

Não espere ficar sozinho, para reconhecer o valor de quem está ao seu lado.

Não espere o melhor emprego, para começar a trabalhar.

Não espere a queda, para lembrar-se do conselho.

Não espere a enfermidade, para reconhecer quão é frágil a vida.

Não espere para ter dinheiro aos montes, para ser solidário.

Não espere ganhar um amigo, mas conquistá-lo

Não espere por pessoas perfeitas, para então se apaixonar.

Não espere a mágoa, para pedir ou dar o perdão.

Não espere a separação, para buscar a reconciliação.

Não espere elogios, para acreditar em si mesmo, no seu valor.

Não espere a dor, para acredita em oração.

Não espere o dia de sua morte sem antes...

Amar a vida.

Seja sempre você, autêntico e único.(Autor: Carlos N)

sábado, 31 de julho de 2010

"No meu barco não há ouro nem prata..."

(Ecl 1,2.2,21-23; Sl 89/90; Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21)
Com a celebração deste domingo, as comunidades católicas da Igreja do Brasil abrem o mês vocacional. E a primeira semana nos convida a recordar, aproveitando a memória de São João Maria Vianey (dia 03), a vocação presbiteral. Mas por que não lembrar aqui também a vida-semente de Dom Enrique Angelelli, bispo e profeta argentino, morto no dia 04 de agosto de 1976? Ele dizia que no coração do bispo (e do padre) as alegrias e dores do povo devem encontrar guarida. E escreveu poeticamente um quase-testamento: “Minha vida foi como um riacho... Anunciar o Aleluia aos pobres e aliviar-se no interior. Cantos partilhados com o povo e silênciosos encontros contigo, Senhor...” Uma vida assim esbanjada é loucura ou sabedoria? Precisamos aprender sempre de novo o que significa ser rico aos olhos de Deus.



“Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.”
Qual é a intenção deste anônimo personagem que chama Jesus de ‘mestre’? Depois da discussão sobre a autoridade de Jesus para expulsar demônios, da sua advertência sobre a busca obsessiva de sinais grandiosos e da crítica dura aos fariseus e doutores da lei, “alguém do meio da multidão” pede a Jesus, sem esconder um tom de quem está dando ordens: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.” Este sujeito sem nome faria parte do grupo dos fariseus ou doutores da lei?
De fato, no evangelho de Lucas são sempre as pessoas estranhas a Jesus ou seus adversários declarados que costumam chamá-lo ironicamente ‘mestre’: o fariseu que criticou Jesus por deixar-se beijar pela mulher pecadora (7,40); os familiares de Jairo, cuja filha estava doente (8,49); o pai de um rapaz endomoniado (9,38); o doutor da lei criticado por Jesus (11,45); um homem da elite judaica (18,18); os fariseus (19,39); os espias que queriam denunciá-lo (20,21); os saduceus (29,28); os escribas (20,39).




“Guardai-vos de todo tipo de ganância.”
Parece que, chamando Jesus de mestre, este sujeito não está expressando sua concordância e sua adesão a ele. E Jesus precebe claramente a ironia da saudação e as contradições do demandante, tanto que responde dando a entender que se não é aceito como mestre, também não pode ser buscado como juiz. No fundo, Jesus percebe que esta pessoa, longe de ser alguém necessitado ou um candidato a discípulo, está sendo devorada pela ganância.
E é essa constatação que abre a Jesus a oportunidade para falar da relação com os bens. “Atenção! Guardai-vos contra todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens.” A palavra grega ‘pleonexia’, que a bíblia traduz por ganância, significa literalmente querer sempre mais. Por trás da demanda não está uma necessidade, nem um princípio de justiça, mas a fome insaciável de bens. O desejo é encher o próprio barco de ouro e prata...
Para ilustrar e sublinhar a seriedade da sua afirmação, Jesus propõe uma parábola. O protagonista da história é uma pessoa profundamente ensimesmada. Ele pensa, fala e decide sempre sozinho. Não se interessa por mais ninguém. A linguagem é clara: meus celeiros, meu trigo, meus bens. E diz a si mesmo: “Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe e goza da vida.” Como não lembrar aqui a parábola do rico que festejava indiferente à miséria de Lázaro (Lc 16,19-31)?




“Tolo! Para quem ficará o que acumulaste?”
Nossa cultura considera sábia, prudente inteligente a pessoa que poupa e acumula. Há até quem faça campanha para não dar esmolas, como se o problema do país fossem os pedintes e não os exploradores. Pensar nos outros, lutar com eles, defender seus direitos, parece coisa de doido, de quem não tem o que fazer ou de quem está mal intencionado. É verdade que alguns milionários hoje até ousam fazer caridade e têm suas fundações, mas o modelo seguido é mesmo o homem da parábola.
Jesus diz aos olhos de Deus as que pessoas que agem assim são absolutamente tolas, desprovidas de qualquer resquício de razão, vazias de qualquer valor humano, modelos que devem ser descartados como dignos de riso. São pessoas que, com suas decisões, cavam abismos que os separam dos simples humanos. E acabam cavando também a própria ruína, pois são humanamente tão pobres que só tém dinheiro... Perderam ou venderam barato tudo o mais.




“Buscai as coisas do alto...”
Mas se o acúmulo indiscriminado de bens é doidice e pobreza humana, o que significa ‘ser rico diante de Deus’? Está claro que para Jesus o problema não está nos bens em si mesmos. Ele não é um asceta que acha que as coisas materiais são intrinsecamente más. Ele mesmo gostava de gastar uns trocados com boas festas para se confraternizar com os marginalizados. O mal dos bens está no obstáculo que eles podem representar para a liberdade radical e para o engajamento no movimento do Reino de Deus.
Se não colocamos o ensinamento de Jesus no devido lugar, podemos resvalar para a ironia e para o cinismo daqueles que pregam moral de calça curta, que ensinam aos pobres a não se preocuparem com comida e roupas. Os pobres não podem ficar olhando os corvos e os lírios, pois não lhes resta senão trabalhar, mesmo percebendo que são outros os que ficam com os bens que produzem. A questão fundamental está em reconhecer o que realmente vale e tem prioridade sobre tudo: o Reino de Deus.
O Reino de Deus é a pérola preciosa e o tesouro valioso que vale tudo o que temos e o que sonhamos, pois não é o armazém que falta aos que aumentaram a produção, nem a aplicação vantajosa oferecida àqueles que têm mais do que necessitam: é o terreno no qual brota o trigo abundante que vai para a mesa dos pobres e não para os armazéns privados; é a carta constitucional que garante todos os direitos humanos a todas as pessoas; é o ventre no qual é gerada uma nova humanidade.




“Vos revestistes do homem novo.”
Podemos simplesmente apresentar os padres como modelo imitável daqueles que, vencendo a irrascível ganância, fizeram a escolha certa e tecera bolsas que não se estragam, ou, para usar a expressão de Paulo, se tornaram homens novos? A memória dos episódios evangélicos dos dois últimos domingos pede precaução e nos ensina a não responder apressadamente que sim. Marta representa os ministros que se sentem chefes, se preocupam com muitas coisas e querem mandar inclusive em Jesus.
O que é certo é que o ministério presbiteral parte da descoberta de um chamado, e isso supõe uma abertura que não encontramos no protagonista da parábola: este só escuta a voz dos próprios interesses e ambições, dialoga apenas consigo mesmo; é literalmente um homem fechado a qualquer chamado que venha de fora e, especialmente, daqueles que estão nas bases da história e fora do clube dos bem-sucedidos. O padre é chamado a ser um ministro, servo dos outros, e não senhor de si mesmo.
Tanto São João Maria Vianey como Enrique Angeleli mostram com a vida o que significa escolher a melhor parte, ser rico aos olhos de Deus, fazer bolsas que não se estragam, buscar apenas e sempre o Reino de Deus e sua justiça. Lutando permanentemente contra a ambição que pode corroer por dentro, eles colaboram para que os bens circulassem e servissem ao bem de todos, abriram o coração para acolher as alegrias e tristezas de todos os humanos seres e assim revelaram onde estava seu coração.




“Ensina-nos a contar os nossos dias...”
Assim, a vocação presbiteral, quando vivida com empenho e pessoal e com autenticidade, presta um grande serviço a todo o povo de Deus: revela que todas as formas de vida cristã – a vida clerical, a vida consagrada e a vida laical – têm uma irrenunciável dimensão de serviço aos irmãos e irmãs. Mas esta vocação específica só conseguirá cumprir bem sua missão se souber confrontar-se permanentemente com a pessoa de Jesus e seu Evangelho, se se deixar revestir do novo homem revelado em Jesus.
Esta é também a sabedoria que todos desejamos e necessitamos: a capacidade de avaliar corretamente o valor de todas as coisas, tanto os bens econômicos como os cargos e as funções, assim como o tempo histórico que vivemos. O salmista lembra que aos olhos de Deus mil anos podem representar menos que o dia de ontem, e que o aparente vigor da nossa vida é enganoso e nós podemos murchar e desaparecer na tarde que se aproxima. Precisamos aprender a contar bem os nossos dias!
E contar bem os nossos dias significa também colocar os bens econômicos no seu devido lugar. Um projeto de vida fundamentado no acúmulo sem limites não tem fundamento. A ganância desmedida pode nos levar a devorar a natureza, a sacrificar amigos/as e familiares, a desorientar ou esterilizar a fé e, enfim, a perder a dimensão de gratuidade e solidariedade. É uma bolsa roída pelas traças...
Pe. Itacir Brassiani msf