quarta-feira, 27 de julho de 2011

QUE EM TODA AS MESAS DE POBRE HAJA FESTA E PÃO!

Há uma lei que entre nós é mais aplicada que a soma de todas as outras. É um preceito que não está escrito na Constituição nem na Bíblia, mas é ensinado em lições que vão do berço à sepultura. Esta lei diz, com algumas variações, que cada um deve viver pra si e só Deus se ocupa de todos. Um complemento mais violento afirma que quem pode mais sempre chora menos. Não é difícil perceber que este princípio vai sendo assimilado tranquilamente na arena política, no sistema econômico, na área cultural e até no âmbito da religião. Deus acaba sendo uma espécie de avalista ou financiador da nossa prosperidade social e econômica. Mas isso se opõe frontalmente ao seguimento de Jesus Cristo!

“Jesus partiu e foi de barca para um lugar afastado...”
Depois de provocar escândalo na sua terra e de saber da prisão e do subsequente martírio de João Batista, Jesus parte para uma região deserta e afastada. Resolutamente, toma distância dos lugares onde o poder mostra sua ferocidade. Ele se recusa a entrar no jogo de cartas marcadas e desposa a periferia. Jesus sente necessidade de respirar outros ares e busca inspiração em utopias mais divinamente enraizadas e mais humanamente concretizadas. Assim o fará durante toda sua curta vida.
Sabendo disso, as multidões cansadas e abatidas deixam as cidades e o seguem à pé. Intuem que é da periferia que pode nascer a novidade. Sabem que os centros de poder são como uma figueira estéril, ou pior, estão pavimentados com o trabalho dos pobres e pintadas com o sangue dos inocentes. Saindo da barca, Jesus vê a multidão e, movido pela compaixão, cura e emancipa muitos pessoas doentes que, poe causa disso, eram dependentes e marginalizadas.
A compaixão não costuma germinar no frio chão dos palácios. Sua força recriadora parece ser filha da fraqueza, e os palácios se sustentam sobre o poder, a prepotência e o medo. Quando as Igrejas aprenderão e levarão a sério esta verdade? O caminho da vida abundante para todos raramente passa pelos palácios. Para ver o povo e resgatar a compaixão ativa e redentora é preciso migrar para as periferias, sair do conforto e da segurança da própria barca, mesmo que seja “a barca de Pedro”...

“Despede as multidões...”
No fim da longa jornada, no entardecer das possibilidades de ajuda, os discípulos percebem a fome do povo e apelam para velhas e inócuas estratégias. Eles não conseguem ver solução para o drama do povo a não ser dentro da lógica do império. Sem um plano alternativo, pedem que Jesus disperse a multidão e cada um supra suas próprias necessidades. Entregam os famintos às frias leis do mercado. Nada mais adequado ao princípio que diz “cada um pra si e Deus por todos”.
A resposta de Jesus é direta e abate mortalmente tanto o espiritualismo escapista como o elitismo corrosivo dos discípulos. “Eles não precisam ir embora. Vocês é que têm de lhes dar de comer.” Longe de Jesus uma Igreja feita apenas de palavras e de ritos religiosos. Longe dele uma comunidade que se compraz em lavar as mãos diante das tragédias que se abatam sobre o povo. Basta de instituições que entregam seus membros à implacável lógica dos impérios!
Os discípulos reagem rapidamente e, tentando disfarçar o egoísmo elitista de quem pensa apenas nos seus direitos e privilégios, sublinham os limites dos recursos disponíveis frente a tão grande demanda. O que representariam cinco pães e dois peixes para uma multidão de dez mil famintos? “Tragam isso aqui”, determina o Mestre. “O pouco com Deus é muito; o muito sem Deus é nada”, ensina a sabedoria popular. O Reino dos céus é a universalização do acesso ao bem viver, a uma vida realmente boa.


“Só temos cinco pães e dois peixes...”
De repente o mundo parece ter acordado para a escassez de alimentos e a ONU convocou e realizou atravès da FAO (em 2008) uma conferência urgente para discutir a questão e traçar soluções. Mas os países do norte rico se recusam a tirar a venda dos olhos e reconhecer as verdadeiras causas da emergência. São eles mesmos que, por mecanismos diversos e perversos travestidos de leis e acordos, subtraem da mesa do povo dos países pobres o alimento por eles mesmo produzido.
É verdade que nos últimos 40 anos a população da humanidade duplicou. Mas a produção de alimentos triplicou!... E se a fome vem crescendo, onde foi parar o excedente? Soa como cínica, para não dizer diabólica, a proposta de resolver a fome dos pobres com a aprovação dos transgênicos. O resultado não seria o acesso aos alimentos, mas a subordinação da produção alimentar à padronização e às leis do mercado, o que impediria ou destruiria a soberania e a segurança alimentar dos povos.
É preciso denunciar, como o fez com coragem a Santa Sé, os pífios resultados e as inócuas propostas da referida conferência. Sem romper e reverter a lógica do lucro e do controle dos alimentos por algumas poucas empresas multinacionais não há solução viável para a fome no mundo. E é preciso reverter prioridades! Em 2007 o mundo gastou em armamento 1,34 bilhões de dólares ($ 202,00/habitante), 190 vezes o montante pedido pela FAO para combater a fome no mundo!

“Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama...”
A saída não é nem cada um pra si, nem considerar povo faminto um simples objeto de caridade. Do ponto de vista do Evangelho, povo é soberano e as autoridades estão a seu serviço. E não se trata de povos nacionais mas de um único povo, pois para os cristãos as nações modernas são realidades fictícias e, às vezes, violentas, cujos confins foram traçados com lanças e baionetas. Não é cristão um amor que se preocupa apenas com a vida dos conacionais.
A solução para esta crise sistêmica não está ao alcance de um país ou de uma Igreja particular. A ordem “dêem vocês mesmos de comer” começa com a adoção de um consumo moderado pelos povos ricos e com a erradicação da exploração comercial dos países ricos sobre os pobres. Eles não precisam dar de comer: basta que não expropriem dos países pobres aquilo que lhes pertence por direito e não lhes imponham receitas econômicas mortíferas e padrões de consumo insustentáveis.
Eis aqui uma missão irrenunciável das Igrejas cristãs e de cada discípula/o de Jesus: estabelecer e defender a soberania alimentar dos povos; exigir dos organismos multilaterais medidas concretas que possibilitem a toda a humanidade comer com dignidade, até à saciedade. Essa não é de modo algum uma tarefa estranha à fé. Que ninguém seja surpreendido pela declaração: “Afastem-se de mim, malditos, porque eu estava com fome e vocês não me deram de comer...”


“E ainda recolheram doze cestos...”
O profeta Isaías, com uma mensagem que muitos hoje chamariam de romântica e irresponsável, conclama todas as pessoas que têm sede e fome e não têm dinheiro a comer e beber sem pagar. E olha que não se trata de apenas pão e água: o convite se estende ao leite e ao vinho! Haverá alimento suficiente se a humanidade entender que o caminho é a aliança de povos livres e não a dominação do mais forte, e se compreender que viver bem não é ter ou consumir muito, mas limitar as necessidades.
O alimento suficiente para saciar os que têm fome – e para encher muitos cestos para os que ainda virão – aparece quando Jesus assume o protagonismo e os discípulos se associam à sua ação. Se ele deixasse a solução às leis do mercado teríamos assistido à catástrofe de um povo, ao cinismo da religião e ao enriquecimento dos astutos. Valeu a chamada dos discípulos à prática daquilo que haviam escutado com admiração no sermão da montanha e nas parábolas do Reino...
O Espírito nos conduz do pão eucarístico ao pão para os famintos; da mesa da comunhão com Jesus Cristo à aliança com os oprimidos; do pão recebido à vida doada. Nada poderá nos separar do amor de Cristo e impedir que colaboremos com sua missão de devolver a dingidade aos homens e mulheres. Se Deus abre a mão e sacia o desejo de todo ser vivo, quem somos nós para fechar egoísticamente as mãos ou mantê-las sempre unidas em oração, como cínica desculpa para fugir da ação transformadora?
Deus, pai justo e mãe compassiva, tu queres que ninguém fique fora da festa da vida, e que nossa felicidade não esteja no aumento de propriedades mas na redução das necessidades: suscita e sustenta em nós a mesma compaixão que moveu Jesus na cura dos doentes, na acolhida dos marginalizados, na libertação dos oprimidos e no socorro aos famintos. Ensina às nossas comunidades a responsabilidade de ensaiar formas de vida mais sóbrias e solidárias. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf

sexta-feira, 22 de julho de 2011

ONDE ETÁ NOSSO TESOURO TAMBÉM ESTÁ NOSSO CORAÇÃO

Quase todos/as já fizemos a experiência de risco. Dando por descontado que viver é em si mesmo um perigo, sabemos o risco de iniciar um curso superior, de investir numa atividade nova, de apostar todas as cartas num determinado relacionamento afetivo. Quanto mais precioso nos parece o objeto, maior é a disposição para o sacrifício e menores são ponderações e receios. Para Jesus de Nazaré, a alegria contagiante de um ser humano excluído que recupera a cidadania representa um tesouro precioso e impagável, diante do qual tudo o resto parece lixo. Realizar a vontade do Pai e proporcionar vida abundante a todas as criaturas é seu alimento e seu tesouro. Qual é o bem supremo pelo qual estaríamos dispostas/os a hipotecar tudo, inclusive o nosso sossego e a própria vida?

“Ensina-me ouvir para que eu possa governar...”
A escuta atenta, a compreensão profunda e a resposta engajada à Palavra de Deus é a base da sabedoria cristã. Sentindo-se limitado e incapaz de liderar seu povo, o contraditório rei Salomão pede a Deus que o ensine a ouvir, a fim de que aprenda a distinguir o bem do mal e possa governar seu povo com justiça. Ouvir os outros e ouvir a si mesmo/a com profundidade são atitudes que vão de mãos dadas, são os dois lados de uma mesma atitude.
Quem não experimenta dificuldades de orientar a própria vida e não se interroga sobre o rumo que deve tomar? A escuta responsável da Palavra de Deus é uma ajuda importante para bem conduzir tanto a vida pessoal como uma comunidade cristã. Trata-se, é claro, de uma Palavra que não está presa ao livro, mas que ressoa na vida e nos sinais dos tempos. E esta escuta não conduz de modo nehum à passividade: as pessoas que sabem escutar são também as mais capazes de iniciativa.

“O Reino do céu é como um tesouro escondido no campo...”
A Evangelho vem nos falando do mistério do Reino de Deus. Ele se parece com um semeador que, mesmo sabendo que parte da semente se perderá, não deixa de semear. É comparável também um plantador que, apesar de ter usado boa semente, é surpreendido pelo o capim que cresce junto com o trigo. É semelhante também à semente de mostarda: apesar de sua pequenez, está na origem de um apreciável arbusto. Seu dinamismo é comparável enfim ao fermento que desaparece na farinha.
Jesus nos apresenta hoje como modelo inspirador um trabalhador rural que encontra um precioso tesouro no campo do seu patrão. Ao encontrar o tesouro, o sujeito é tomado pela surpresa, pois não o procurava. Então ele o mantém escondido e, sem dizer nada a ninguém e cheio de alegria, se desfaz de tudo o que tem e compra o campo onde se escondia o tesouro. Para um simples empregado diarista, este é um negócio arriscado, e só se justifica pelo valor que o tesouro tem ao seus olhos.

“O Reino dos céus é como um negociante que procura pérolas...”
Um segundo personagem que Jesus nos apresenta como modelo é um comerciante de pérolas preciosas. Este sim está empenhado na procura de uma pérola de grande valor e, quando a encontra, vende todos os seus bens e compra tal pérola. Este parece um negócio um pouco mais seguro, mas é comparável ao anterior no que diz respeito à necessidade de vender tudo para realizá-lo. Em ambos os casos, a experiência de encontrar algo precioso desestabiliza e chama a arriscar.
Eis o desafio para os discípulos e discípulas de Jesus: tendo descoberto a preciosidade do Reino de Deus – o valor irredutível e impagável da liberdade e da vida digna de cada pessoa em sua singularidade, o horizonte deslumbrante de um mundo de irmãos e irmãs de fato – , hipotecar ou subordinar tudo o mais – reputação, carreira, bem-estar individual e até família e religião – em função desse bem maior. Deus não tem tempo para tratar de pequenos negócios conosco. É tudo ou nada. E já!

“O Reino do céu é como uma rede lançada ao mar...”
Nosso batismo pressupõe esta opção de risco. Parece que poucas prssoas têm clara consciência disso, pois se não, como explicar o descompromisso com que muitos o celebram? Dá vontade de aumentar as exigências de preparação ou até interditar o batismo às pessoas que não acordam para o compromisso que ele implica. Mas o próprio Jesus ensina que o Reino de Deus é também semelhante a uma rede lançada ao mar, que recolhe peixes bons e peixes de qualidade questionável...
Como agentes da evangelização, precisamos prestar atenção à sabedoria dos pescadores. Primeiro, eles costumam se encantar mais com o mar que com as redes. Depois, sabem que não é sensato esperar que a rede recolha apenas peixes bons e apropriados para o consumo e o comércio; ela apanha peixes de todo tipo. O trabalho árduo e criterioso de separar peixes bons e peixes ruins não pode ser feito durante a pesca e em alto mar, mas vem depois.


“Quando a rede está cheia...”
Mas não tiremos conclusões apressadas e superficiais. Estre trabalho judicial não é de nossa responsabilidade, nem mesmo das nossas Igrejas. Antes de sermos pescadores somos peixes, e ninguém pode estar segura/o de sua própria qualidade. Deixemos ao fim dos tempos e aos anjos de Deus esta difícil tarefa de separar. Da nossa parte, avaliemos permanentemente a profundidade e a concretude prática da nossa adesão ao tesouro do Reino de Deus e continuemos a semeadura e a fermentação.
Quem poderá avaliar e saldar o mal que faz uma Igreja que prega um Deus que se recusa sentar-se à mesa com as/os pecadoras/es e prefere o distanciamento frio e nem sempre imparcial do juiz? O mal é ainda maior quando a própria instituição eclesial, na pessoa daqueles que deveriam ser pastores, age como poder judiciário rigoroso e implacável. As nuvens tenebrosas da inquisição se apresentavam de toga, ostentavam cruzes e participavam dos harmoniosos coros de canto gregoriano...
Mais uma vez, não estou propondo a passividade e a inércia diante das vítimas dos poderes e relações injustas. Deixar a Deus o julgamento final não significa furtar-se ao imperativo de discernir evangelicamente os fatos e de dar voz ao grito profético. Enquanto caminhamos na história, é o corpo agredido ou desnutrido das vítimas que exerce o papel de julgar todas os projetos, instituições e poderes. No próprio corpo dos oprimidos está inscrita a sentença daquelas/es que os agridem.


“Como um pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas...”
Finalmente, não façamos deduções apressadas. As parábolas de Jesus não sustentam teses dualistas. Bem e mal não são dois princípios metafísicos ou substâncias equivalentes e em eterno confronto. Jesus não fala do mal enquanto substância, mas de pessoas que agem mal, ou seja: pessoas que se opõem à lógica do Reino de Deus. Em todos os casos, a última palavra é do amor de Deus e da justiça do Reino. Os peixes imprestáveis são jogados no lixo da história.
Jesus termina esta bela e exigente seção das parábolas do Reino perguntando-nos se compreendemos o que acaba de nos ensinar. A resposta afirmativa e voluntariosa dos discípulos não convence, como demonstrarão posteriormente os acontecimentos. O próprio fato de que tenha explicado as parábolas nesta meditação não me garante que as tenha compreendido existencialmente, que seu ensino esteja configurando realmente a minhas ações, relações e opções.
Jesus Cristo se compara a um doutor da lei que entrou na escola do Reino do céu: ele sabe vasculhar o baú da história e tirar dele coisas novas e velhas. E convida os discípulos e discípulas a fazerem o mesmo. Quem descobrir o tesouro do Reino e vendeu tudo para ficar com ele não pode se contentar com “aquela velha opinião formada sobre tudo”, com as “antigas lições, de morrer pela pátria e viver sem razões”. Repetir velhas verdades e princípios genéricos é muito pouco. E bastante perigoso.


“A minha porção é guardar tuas palavras...”
Deus Pai e Mãe, amante das criaturas e condutor da história: teu projeto de comunhão solidária de todas as criaturas é o presente mais precioso e a herança mais comprometedora que poderias nos entregar. Foram tantos os homens e mulheres que, no decorrer da história, venderam ou perderam tudo para ficar com este tesouro. Ezequiel Ramin (assassinado aos 24.07.1985) foi um deles. Dá-nos a alegre ousadia de investir tudo o que somos e temos neste sonho de igualdade e comunhão, de diversidade e libertação. Ajuda-nos a considerá-lo mais precioso que o ouro, mais delicioso que o mel, mais orientador que qualquer versão de GPS. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf

segunda-feira, 11 de julho de 2011

domingo, 10 de julho de 2011

3º Encontro Nacional de Irmãos Capuchinhos



De 03 a 08 de Julho de 2011 estiveram reunidos em Porto Seguro - Bahia, cerca de 40 frades vindos das várias províncias do Brasil, no 3º encontro nacional de irmãos leigos capuchinhos.



O encontro teve como tema “O perfil e a mística do irmão leigo na ordem capuchinha”. Ajudaram na reflexão frei Edson Matias da província do Brasil Central e o irmão Cristiano, FFDM. O encontro contou ainda com a presença dos definidores gerais frei José Gislon, e frei Mark Schenk.

Também esteve presente o presidente da CCB e provincial de São Paulo frei Airton Grigoleto. Os dias do encontro proporcionaram, além das reflexões momentos de reencontro e vivência fraterna.Perfil e Mística do Irmão Leigo na Ordem Capuchinha.

Na Reflexão surgiram elementos


Os irmãos leigos são cerca de 20% na Ordem, variando em cerca de 11% em 1980 e cerca de 30% em 1969. Citou a Província da Tanzânia que foi praticamente composta por irmãos leigos décadas atrás, porque os bispos lá não permitiam capuchinhos presbíteros. Com a abertura para a ordenação presbiteral dos frades, diminuiu fortemente o número de irmãos leigos. Atualmente, há maior número de irmãos leigos na Europa, Estados Unidos e América Latina. Em contrapartida, na África e Ásia o número é baixo, sendo estes com a presença do cristianismo e da Ordem ainda muito recentes.

Quanto à formação, a proposta é ser igual para todos. Contudo, por vezes, há desigualdades na formação para frades que querem ser presbíteros e os que querem ser irmãos leigos. É comum os provinciais exporem não se saber qual formação dar aos irmãos leigos, principalmente no Pós-Noviciado. Mas o problema é que não estão sabendo qual formação dar a todos os formandos, reduzindo o Pós-Noviciado ao estudo acadêmico. E dizem se um frade quiser ser um marceneiro isso não é formação, relata o definidor. Citou um exemplo de discriminação, favorecendo à formação dos frades que querem o presbiterato, mesmo que isso não aconteça abertamente, na prática acontece.

No tocante à Pastoral Vocacional, há Província que exige o vocacionado ter curso superior para seu ingresso nela. Isso não é compatível com as orientações da Ordem. Lembrando que muitos frades populares não tinham grande intelectualidade, mas possuíam grande capacidade de relacionamento humano.

A maioria dos irmãos leigos, segundo o definidor, se mostra contente com o trabalho que fazem. As oportunidades de trabalho hoje são muito variadas e abertas. Mas ele diz encontrar muitas lamentações de irmãos diante da centralização em Paróquias. Os irmãos, por vezes, ficam soltos nos trabalhos das Paróquias. Por um lado, pode significar certa liberdade, mas, por outro, mostra falta de valorização do mesmo. Disse ser importante o provincial valorizar e desafiar os irmãos com os trabalhos. Há até lugares em que o irmão tem de procurar o que fazer, porque a Província não oferece. De modo que ocorre também do irmão ter de trabalhar independente, ocasionando-lhe, às vezes, certo isolamento. Um desafio à Ordem é um espaço em que os frades possam trabalhar juntos.

Quanto ao serviço da autoridade na Ordem, para ser exercido pelos irmãos leigos, isso já foi pedido à Santa Sé muitas vezes, inclusive com a presença dos ministros gerais. Um passo é que a Santa Sé não se opõe que os guardiães sejam irmãos leigos. Uma esperança para um futuro breve é de irmãos leigos serem vigários provinciais, devido também à nova composição da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada. Relata que, talvez, um medo da Santa Sé seja de que com a possibilidade de irmãos leigos como superiores maiores, as religiosas reivindiquem o mesmo. Essa questão da autoridade deve continuar sendo trabalhada em nosso meio, revendo nossas estruturas clericais que dependem de nós.

Referente à figura do irmão leigo, são bem vistos nas Províncias, raramente são discriminados, mas, a sociedade ainda não entende bem essa nossa expressão laical. Depende também de cada cultura, havendo lugar onde se vê até como uma ofensa não ser padre e ter se tornado irmão leigo. Lembrou, por fim, de Frei John Corriveau que queria ser chamado simplesmente de “irmão”. Isso nos incentiva em nossa vocação, no desafio a sermos realmente irmãos do povo.

Após esta exposição, foi aberto espaço para comentários dos irmãos ao frei Mark. E ele comentou mais um pouco que nos Estados Unidos a maioria dos jovens cursam faculdade e sobre a dificuldade em se conciliar os irmãos leigos e frades presbíteros nos mesmos trabalhos. Frei Gislon enfatizou que na Itália os capuchinhos trabalhavam na roça com o povo, o que marcou profundamente às pessoas, lhes chamando de “frades do povo”, e tendo os irmãos leigos esmoleres realmente os grandes promotores vocacionais.




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