domingo, 29 de novembro de 2009

Para que serve o Horizonte?


Evandro chegou no céu e pediu pra falar com Deus porque, segundo o seu ponto de vista, havia uma coisa na criação que não tinha nenhum sentido...
Deus o atendeu de imediato, curioso por saber qual era a falha que havia na Criação.

- Senhor Deus, sua criação é muito bonita, muito funcional, cada coisa tem sua razão de ser...Mas no meu ponto de vista, tem uma coisa que não serve para nada disse Evandro para Deus.

- E que coisa é essa Evandro que não serve para nada? Perguntou Deus.
- É o horizonte. Para que serve o horizonte?

-Se eu caminho um passo em direção ao horizonte, ele se afasta um passo de mim.
-Se caminho dez passos, ele se afasta outros dez passos.
-Se caminho quilômetros em direção ao horizonte, ele se afasta os mesmos quilômetros de mim...

Isso não faz sentido!O horizonte não serve pra nada.
Deus olhou para Evandro, sorriu e disse:
- Mas é justamente para isso que serve o horizonte... " para fazê-lo caminhar “Pense nisso......
É a Esperança...Só a Esperança nos faz caminhar e nos afasta do passado...Vida Nova!!!!
Texto escrito pela Valéria Nabak Alves

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"Amadurece a cada instante uma esperança..."

(Jr 33,14-16; Sl 24/25; 1Ts 3,12-4,2; Lc 21,25-28.34-36)
Abre-se diante de nós um novo tempo, marcado pela pela abertura, pela esperança e pela vigilância. Somos convidados/as a compreender o núcleo central da esperança do porvo de Israel e das comunidades cristãs, mas também “afagar a terra, conhecer os desejos da terra – fecunda estação! – e fecundar o chão”. Serão quatro semanas que nos ajudarão a reviver os milênios de expectativa messiânica do povo de Israel e os nove meses de espera ativa da Família de Nazaré. É um tempo em que convergimos nossos esforços e faculdades no reconhecimento e na acolhida dAquele que vem na fragilidade humana e nas brechas da história. É um período caracterizado pela esperança inquieta e quase delirante: “Amadurece, a cada instante, uma esperança de um mundo novo, povoado de irmãos. Se você pode acreditar, comece agora, e não tenha medo de ser livre até o fim.”
“Aprendam de nós como comportar-se para agradar a Deus...”
O comércio tem pressa e não espera o Advento para insultar nossos ouvidos e agredir nossos olhos com suas mercadorias, quase convencendo-nos de que é preciso preparar o natal garantindo nossa quota de mercadorias. Ele insiste que aquilo que adquirimos no natal passado já está superado, e que precisamos estar em dia. Nossa casa está releta de coisas, mas acabamos criando a sensação de que nos falta algo essencial, que não podemos deixar de comprar.
Uma pesquisa realizada na Europa concluiu que uma família de classe média possui mais ou menos 10.000 objetos. E revelou que, na Itália, existem 75 automóveis e 122 celulares para cada 100 pessoas. A verdade é que as pessoas passam a viver em função das coisas que compram, seja trabalhando para reunir o dinheiro necessário para adquiri-las, seja investindo tempo e dinheito para mantê-las limpas e funcionando. Que sentido tem uma vida assim?
No Evangelho de hoje, embora num contexto um pouco diferente, Jesus nos adverte: “Tomem cuidado para que os corações de vocês não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida...” A verdadeira preparação para o natal não se faz adquirindo mais coisas e acrescentando atividades, mas reduzindo as posses, despojando-se do supérfluo, simplificando a vida, reconhecendo e priorizando o essencial. É assim que agraderemos a Deus e cresceremos como pessoas.
“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas...”
A finalidade da Palavra de Deus não é criar pânico, mas despertar uma lúcida esperança e convidar à vigilância. Sol, lua, estrelas e mar são símbolos dos poderes que se querem divinos, estáveis e inquiestonáveis. E quando tais poderes são enfrentados e abalados, muitas pessoas são assaltadas pela ansiedade e dominadas pelo pavor. Frequentemente, a crítica é vista como insulto, e o abalo das instituições como fim da ordem e da civlização.
A mesma sensação se estende às outras dimensões da vida. Para muitas pessoas, ter que baixar o nível de consumo ou diminuir a extensão das posses parece uma catástrofe que rouba ou abala o sentido da vida. A própria Igreja católica perde o sono e a serenidade diante do avanço das demais denominações cristãs, pois parecem estar questionando a verdade da qual sente-se proprietária absoluta. Tais experiências têm sabor de perda e de fim, e é difícil vislumbrar nelas um começo novo e promissor.
Jesus chama a atenção para a novidade alvissareira que se esconde e se revela no ventre destas experiências. “Então eles verão o filho do homem vindo sobre uma nuvem, com poder e grande glória.” É o novo Homem e a nova Mulher que começam a ser gerados no ventre das pessoas e movimentos que se esvaziam dos entulhos culturais e religiosos engolidos à força. É a Humanidade nova e verdadeira que nasce dos escombros de um mundo desigual e do vazio fecundo criado pela diminuição do consumo.
“Levantem-se e ergam a cabeça...”
Jesus convida à vigilância e à esperança: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima.” “Estas coisas” são a instabilidade dos grandes poderes e o consequente medo de muitos, mas é principalmente o renascimento da humanidade verdadeira, sustentada na aparente inconsistência das nuvens e não pela estabilidade do sol e da lua; aleitada no seio da compaixão e não na mamadeira das leis; assegurada pelas mãos que se estendem para construir e não pelas armas que arrasam.
Mas este nascimento não é evidente, nem se impõe à nossa percepção. Jeremias diz que direito e a justiça são como um broto no meio de grandes árvores. Novos Homens e Mulheres não costumam ganhar espaço no panteão dos meios de comunicação. Enquanto os olhos treinados para aplaudir poderes e grandezas continuam voltados a Jerusalém, não podem notar nada de novo em Belém. Então, o Advento é um necessário tempo de vigilância, pois Deus nos visita em fraldas, vem ao mundo como broto em terra seca. Para vê-lo e reconhecê-lo, precisamos pruificar nosso olhar!
“Esse dia cairá como armadilha...”
Atenção e vigilância são atitudes necessárias para que esse misterioso dia não nos surpreenda correndo atrás de comidas e de bebidas – de perus e de espumantes! – e preocupados/as com nossa conta que, corroída pelo insaciável desejo de consumir, está em vermelho. Este tempo vai sendo hoje, e o lugar está nas promissoras u-topias/não-lugares cotidianas. O dia é cada dia e o lugar é um pouco por todo lado. Não esperemos nada de imponente e ostensivo.
E atenção com a tentação dos calendários! Eles devoram nossa alma. É desesperador perceber que o dia 25 se aproxima e ainda não adquirimos aqueles bens que parecem ser o sumo bem. É desalentador dar-se de que o dia do natal passou e nada de novo e profundo aconteceu conosco. Vivamos o Advento esquecendo o calendário fixo, abandonando a ansiedade de multiplicar novenas e pedidos. Antes, afaguemos a terra para conhecer seus desejos e, reconhecendo a propícia estação, fecundando-a com o melhor de nós mesmos/as. “Se você pode acreditar, comece agora!”
“Confio em ti, meu Deus...”
O tempo de Advento nos convida também a rezar “todo tempo”. Trata-se de encontrar meios para manter e cultivar esta vital abertura ao Deus que veio, que vem e que virá. Sem esta abertura acabamos enclausurados em nós mesmos/as, avessoas a qualquer esperança e refratários a toda mudança. Sem esta janela para o amanhã, acabaremos cego/as às novidades emergentes e reféns do ontem, partes daquilo que já era, membros inertes de um corpo morto.
A verdadeira oração não consiste em apresentar a Deus uma lista de necessidades e caprichos. Antes, é exercício de presença fiel diante de Deus para conhecer seu mistério e acolher sua vontade. Enquanto abertura e confiança em Deus, a oração suscita e sustenta a força de que necessitamos para escapar da tentação do consumo irracional e das relações impessoais. E nos ajuda a permenacermos de pé diante do Filho do Homem, deste ser humano novo que vem sobre a vulnerabilidade das nuvens, envolto na fragilidade dos bebês.
“Continuem progredindo...”
Paulo nos pede carinhosamente que continuemos crescendo e progredindo em humanidade, que aumente nosso amor mútuo e para com todas as pessoas. Este é o modo de agradar a Deus e permanecer firme e irrepreensível. O que agrada a Deus não é consumo, nem triunfo ou o sucesso, mas o crescimento no serviço aos outros. Este é o caminho que Deus ensina aos pobres e mostra aos justos, respondendo à súplica do salmista.
Uma vez mais: a verdadeira preparação para o Natal do Senhor, assim como para nosso crescimento como pessoas humanas, consiste mais em diminuir as coisas e atividades, em simplificar a vida e dar prioridade ao que é essencial, em criar espaços vazios para acolher o que está para nascer ou para chegar, e menos em muliplicar preces e devoções, em comprar coisas que nos abarrotam e acabam criando um vazio que nos enche de tédio.
Gosto de repetir silenciosamente os versos do Ivo Fachini: “Amadurece, a cada instante, uma esperança de um mundo novo, povoado de irmãos.” E acolho como dirigida a mim a provocação: “Se você pode acreditar, comece agora, e não tenha medo de ser livre até o fim.” Aprendamos essa urgência com o místico Charles de Foucault (+01/12/1916) e com o missionário São Francisco Xavier (+03/12/1552).
Pe. Itacir Brassiani msf

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira. ..
Quando se vê, já terminou o ano..
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo,
a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.'
Mário Quintana

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

XV Assembléia Geral Ordinaria da Familia Franciscana do Brasil

Tema: Dimensão profética da missão
Lema: Não perca de vista seu ponto de partida


A Assembléia Nacional Eletiva da FFB para todos nós franciscanos e franciscanas foi um grande momento de graças e bênçãos, para reavivar em nós os sonhos de Francisco e Clara na continuidade a missão franciscana fundada no amor, de ser e servir. Fomos convocados/as a refazer o caminho bebendo do carisma franciscano com o ouvido atento a realidade comprometendo se em fazer “passos ligeiros e firmes”. Sendo assim, confiantes nesta força que nos impulsiona seremos capazes de continuar a viver o projeto de Deus semeando a paz e o bem, no qual devemos constantemente praticar em nosso cotidiano. Olhando para o seguimento de Jesus Cristo e nos passos de nosso seráfico Pai e de Santa Clara há de construímos uma nova alternativa fortalecendo a nossa missão de sermos profetas e profetisas nesse mundo de hoje em meio a tantos desafios.
As 18 Unidades prestadoras de serviços (Regionais) que compõe a grande Família Franciscana do Brasil, (FFB) relataram suas experiências e atividades diante de tantas realidades urgentes: meio ambiente reciclagem do lixo, presença juntos aos pobres, povos indígenas e outros. Percebe-se também a nossa falta de pertença profunda a família e ausência de engajamento de nossa vida franciscana com as causas sociais que envolvem o povo de Deus, o seja, sermos “sal da terra e luz do mundo”. No entanto, somos convocados/as a sermos presenças que marcam com alegria e simplicidade através do nosso testemunho de vida. Nesta assembléia vivenciamos muitos momentos de luzes, como eleição da nova Coordenação Nacional tendo como nossa Presidente Ir. Maria Petronila Souza Soares (Irmã Nila). A Ela, desejamos as bênçãos de Francisco e Clara e a nossa gratidão por sua alegre disponibilidade, neste serviço generoso em animar a Família Franciscana do Brasil.
É na vida franciscana e a partir de nossa espiritualidade que reconhecemos o rosto de Deus nos excluídos/as. Que esta assembléia realizada nos ensine a cada dia fortalecer nossa resposta de amor e doação, rumo à concretização das prioridades assumidas. Como diz o lema, “não perca de vista seu ponto de partida”!

Ir. Francilene Cavalcante, ICMR.
P/ Regional – PA/AP

Belém, PA, 31 de outubro de 2009.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

XV Assembléia Geral Ordinaria da Familia Franciscana do Brasil

Como o Tema: “Dimensão Profética da Missão” e o lema: “Não perca de vista seu ponto de partida”, Aconteceu a XV Assembléia Geral Ordinária da Família Franciscana do Brasil, na casa de Retiro São Francisco em Salvador/BA de 21 a 25 de outubro de 2009. Na Oportunidade foi eleito o novo conselho diretor:
Presidente:
Maria Petronila Souza Soares (Irmã Nila) – SMIC - PA
Vice Presidente:
Maura Lucinda Bichling (Ir. Jacinta) – Francisc. Dillingen – RJ
Conselheiros
Éderson Queiroz – OFMCap – MG
Vanderlei Suélio Gomes – OFS – GO
Francisca Mascilena de Brito (Ir. Maria Flávia) – Francisc. Dillingen – PB
Suplentes
Rubival Cabral Britto– OFMCap – BA
Tarcila Santina Polo (Ir. Carmem) – Franc. Ingolstadt – SP
Conselho Fiscal:
José Cavalcante Beserra OFS – DF
Nivaldo Moreira da Silva OFS – GO
Luzia Pereira Nunes FPCC – DF
Suplente do Conselho Fiscal:
Tereza Albanez – Filhas da Divina Providência - SP
Conselho Diretor da FFB(2009 - 2012)Regional da FFB-RS

Participantes da XV Assembleia da FFB



domingo, 1 de novembro de 2009

Os Santos são o rosto, as mãos e o coração de Deus

O último dia do mês dedicado às missões faz a passagem para a festa de todos os santos. Como esquecer que a verdadeira santidade é aquela que se manifesta na vida dos/as missionários/as, daquelas pessoas que ousam sair do estreito limite dos seus interesses e aproximar-se solidariamente dos últimos; que deixam sua casa, família e amigos para tecer pacientemente os fios que fazem do mundo inteiro uma única família; que vão aos rincões mais distantes para levar a bandeira da paz; que são movidos por uma insaciável sede de justiça; que choram as dores dos povos de todas as cores e provam o fel da violência da perseguição; que transformam a terra pela mansidão? Celebremos e festejemos a alegria de participar de uma imensa caravana de homens e mulheres de todas as raças, nações e línguas que nos precede, nos acompanha e nos segue. E renovemos nosso desejo – que é também resposta a um chamado – de levarmos em nosso corpo as marcas de Jesus Cristo.
“Gente de todas as nações, tribos, povos e línguas”
No último dia 30 recordávamos os 30 anos do assassinato de Santo Dias da Silva, líder cristão e operário, e 463 anos da páscoa de Martinho Lutero, ex-monge católico e reformador da Igreja. Dois homens do seu tempo que, em diferentes lugares e circunstâncias, e também com métodos diferentes, sonharam e lutaram por uma sociedade mais justa e uma Igreja mais fiel a Jesus Cristo. Dois cristãos que tinham fome e sede de justiça e sofreram perseguição. Será que eles não fazem parte da imensa multidão de servos de Deus, cujas frontes foram marcadas com o sinal do Cordeiro?
A festa de todos os santos é a festa que faz memória dos/as esquecidos/as, daqueles/as que não têm um dia especial, nem um nome conhecido; daqueles/as que gastaram a vida no anonimato e cujos milagres não podem ser contabilizados pelas estreitas regras instituídas; de gente como Sepé Tiarajú, Padre Cícero, Romero, Adelaide; e mesmo de que não rezou pelo nosso catecismo, como Lutero, Luther King, Gandhi e tantos outros. É a festa que celebra a memória daqueles/a que nos antecederam na fé e cujo testemunho mantém a Igreja no caminho certo, apesar das suas resistências e ambivalências.
“Desde agora já somos filhos de Deus...”
Mas a celebração de todos os santos não olha somente para o passado. Ela é oportunidade e provocação para refletir sobre a vocação fundamental de todos os cristãos. Se é verdade que a santidade é um caminho estreito e uma vocação exigente, isso não significa que seja reservada a alguns grupos especiais de cristãos. Há mais de 40 anos o Concílio Vaticano II proclamava de forma clara e contundente, contra a idéia predominante, que a santidade não é privilégio dos sacerdotes e religiosos/as. Muito antes, a história já havia comprovado o que foi proclamado solenemente.
Na passagem do milênio, o saudoso João Paulo II provocava os cristãos a não se contentarem com pequenas medidas, com vôos rasantes, com ideais nanicos, e pedia que aspiremos nada menos e nada mais que à santidade. A vocação de todos precisa se transformar em desejo pessoal e em decisões e ações concretas. Como diz São João, nós somos chamados filhos/as de Deus e já o somos desde agora, mas o desafio é crescer na identificação com Jesus Cristo, trazer no corpo e na mente as marcas de Jesus Cristo. “Seremos semelhantes a ele...” E isso não é um simples sentimento.
“Felizes os pobres em espírito...”
Jesus Cristo é o verdadeiro e perfeito santo de Deus e, ao mesmo tempo, o caminho para a santidade. Não há santidade à margem do seguimento de Jesus Cristo, mesmo que tal seguimento seja implícito. Trata-se então de refazer o caminho prático trilhado por Jesus: “amar como Jesus amou; sonhar como Jesus sonhou; pensar como Jesus pensou; viver como Jesus viveu; sentir como Jesus sentia...” Este é o caminho para que, no meio e no fim do dia, no meio e no fim da vida, sejamos felizes. E Jesus propõe nas bem-aventuranças o caminho de santidade que ele mesmo percorreu.
A bela mensagem de Jesus que denominamos bem-aventuranças apresenta as diversas placas que indicam claramente o caminho da santidade. Jesus não fala de oito grupos de pessoas, mas de oito características daqueles/as que percorrem este caminho. E o caminho começa com a pobreza e termina com a perseguição, mas isso não é obstáculo, pois o Reino de Deus é antes de tudo – e no presente! – dos pobres e dos perseguidos. A consolação para os aflitos, a herança para os mansos, a saciedade para os famintos, a misericórdia para os compassivos, a visão de Deus para os puros e a filiação divina para os promotores da paz é promessa para o futuro, mas a alegria sem fim do Reino é experiência concreta dos pobres em espírito e dos perseguidos já no tempo presente.
A santidade à qual todos/as somos chamados/as tem a cara de discípulo, de despojamento solidário; o coração dos/as que se afligem e choram compassivamente as dores dos outros; o ritmo inquieto dos/as que anseiam e pela justiça plena e universal; o olhar terno da misericórdia; a transparência de quem evita a duplicidade e as segundas intenções; a ousadia daqueles/as que promovem a paz; a inegociável alegria de quem assume o custo de ser livre e libertador.
“Felizes os que têm fome e sede de justiça...”
Embora o conceito não goze de muita estima entre nós, os/as santos/as são beatos/as. E isso significa fundamentalmente que o caminho da santidade e o caminho para a felicidade coincidem. Santidade não rima com tristeza e fechamento em si mesmo, mas com felicidade e abertura aos outros. O caminho de Jesus Cristo, a vida e a espiritualidade cristã são propostas de uma felicidade que coincide com a realização da mais profunda vocação humana e que, por isso, é duradoura.
Assim, o caminho que nos conduz à santidade feliz e à felicidade santa está longe de ter as características da passividade ou do afastamento do mundo. Pelo contrário, passa pelo empenhativo distanciamento dos interesses individuais ou dos pequenos grupos; pela partilha da dor e humilhação dos outros; pela mortificante e vivificante fome e sede de justiça; pela prática perseverante da atenção aos mais frágeis; pela superação das palavras e ações ambíguas; pela ativa semeadura da paz em todas as relações; pela firmeza serena nas perseguições.
Está longe do Evangelho uma santidade que se resume em práticas de piedade. Está distante da essência humana uma felicidade baseada no sucesso pessoal e na indiferença em relação à sorte dos semelhantes. Aqueles/as que se vestem de branco e trazem palmas nas mãos são os/as vieram da grande tribulação, que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, que recriaram sua ação libertadora, que encarnaram o Evangelho no mundo e na própria vida. Felicidade não significa ausência de dificuldades, mas realização plena da nossa vocação. Mais que perfeição, santidade é perseverança no amor e no serviço.
“Seremos semelhantes a ele...”
Jesus é o verdadeiro santo. A ele devemos o louvor, a glória, a sabedoria, a honra, o poder, a força e a ação de graças. A santidade que brilha no rosto, que atua nas mãos e pulsa no coração dessa multidão incontável que nos antecede e nos rodeia são frutos do Espírito de santidade e de verdade que Jesus Cristo derrama sobre a comunidade daqueles/as que o seguem. Se somos filhos/as e herdeiros/as, o somos por adoção e graça, e não por mérito pessoal ou direito adquirido.
A provocação pessoal de Jesus Cristo e o estímulo dessa multidão de vestes brancas que caminha alegre e jubilosa nos coloca e mantém no caminho da santidade. Que nossas roupas marcadas por griffes que diferenciam hierarquizam, sujas pela impureza do nosso pensar e pela ambigüidade do nosso agir, se igualem às do Cordeiro no talhe, na cor e no uso. Que nossas roupas sejam roupas de quem serve, sejam como as vestes de Jesus de Nazaré.
Peçamos a graça de estarmos sempre de pé diante do Cordeiro, rodeados por essa nuvem de testemunhas anônimas de todas as nações, tribos, raças e línguas. Superemos a maliciosa tentação de separar, catalogar e hierarquizar católicos e evangélicos, cristãos e não-cristãos. Que importância têm estas divisões para a eternidade? Permaneçamos de pé e com os rins cingidos, prontos/as para a travessia e para a luta. Que a nossa incrível capacidade de sofrer e nossa inexplicável alegria em meio às intermináveis lutas sejam nossas armas e nosso trunfo. E então estaremos viverendo em comunhão com os santos e santas de Deus.
Pe. Itacir Brassiani msf