terça-feira, 30 de março de 2010

Em Jesus, Deus se Abaixa para servir a humanidade

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(Ex 12,1-8.11-14; Sl 115/116; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15)
Hoje nos reunimos para celebrar a Aliança nova e terna que Deus renova conosco, seu povo amado, filhas e filhos queridos, família na qual seu Filho se faz irmão. A mesa está pronta, a toalha está linda, as flores estão coloridas e o alimento é simples e saboroso. E há lugar para todos/as, inclusive para pecadores/as como nós. O próprio Jesus de Nazaré nos diz que preparou e desejou ardentemente celebrar esta ceia conosco (cf. Lc 22,15). E aqui a acorremos porque intuímos que não temos outra honra ou glória que esta de trazer em nossos sonhos, projetos, ações e relacionamentos as marcas da cruz de Cristo, do seu amor sem fronteiras. Aqui estamos para ouvir de novo as palavras do testamento do nosso irmão e filho de Deus, para provar mais uma vez como ele nos ama, para continuar o dinamismo da sua missão no mundo. Efetivamente, ele não baixa a cabeça diante de nenhum poder, mas se inclina diante do ser humano necessitado para servi-lo.
“Este dia será para vós uma festa memorável.”
Na mesa que reúne as pessoas que desejam ardentemente viver a fraternidade, fazemos memória, recordamos. Com o povo de Israel e todos os povos, trazemos de novo ao coração as inúmeras travessias já realizadas ou ainda em processo: travessias com avanços e retrocessos, quedas e recomeços, sonhos e traições; travessias marcadas por uma Presença que se mostra, ao mesmo tempo, como nuvem luminosa e como sombra acolhedora.
Esta celebração é também um memorial dos êxodos e travessias que somos convidados/as a empreender como indivíduos: travessias de um eu fechado em si mesmo para uma comunidade aberta e solidária; de uma mesa grande e vazia para uma mesa farta e partilhada; de projetos estreitos e ancorados no sucesso pessoal para utopias coletivas; da sedução indisfarçável que a riqueza exerce sobre nós ao despojamento livre e generoso em favor dos outros; de lutas empreendidas contando apenas conosco mesmos/as para alianças bem mais que estratégicas.
A ceia eucarística é a memória de Jesus e dos discípulos e discípulas que, tendo atrás as memoráveis experiências das refeições partilhadas com toda sorte de pecadores/as e à frente a ameaça dos poderes que não toleram mudanças, compartilham suor e sangue, vinho e pão, sonhos e esperanças. Memória de incompreensões, medos, distanciamentos e traições. Memória daquele que tendo nos amado, ama-nos até o fim e se oferece como perene alimento para a caminhada.
“Isto é meu corpo entregue por vós!”
A eucaristia é alimento para quem está a caminho. Celebramos esta ceia e aceitamos a aliança que Deus nos oferece ainda “na terra do Egito”. Faz escuro, mas cantamos para despertar a aurora que não demora. Celebramos esta refeição de comunhão prontos/as para realizar uma travessia urgente: com cintos que diminuem os embaraços; com sandálias que agilizam os passos; com cajados que nos sustentam nos vales escuros. “Quem comeu de pé a páscoa não tem lucros, nem tem medo”, poetiza o velho e lúcido Dom Casaldáliga.
Não um cordeiro, mas um corpo feito inteiramente dom. Corpo não é apenas uma carcaça, a metade exterior e mais desprezível da pessoa: é a totalidade concreta, é diferença e relação. Jesus Cristo oferece a concretude de sua vida como dom e partilha. É sua vida inteira – sonhos, ações, corpo e sangue – que ele nos dá sem reservas e sem impor condições. E o faz numa ceia ordinária, numa refeição marcada pelo afeto fraterno, num contexto de ameaça de morte, pedindo insistentemente que façamos o mesmo para manter viva sua memória. Ele nos dá um exemplo, para que nós façamos o mesmo.
A Eucaristia faz da Igreja uma comunidade aberta em dom àqueles/as que estão fora ou estão longe. O corpo de Cristo é a comunidade viva dos fiéis, o povo de Deus que ultrapassa as fronteiras eclesiásticas, o corpo dos pobres e marginalizados que ostentam suas chagas vivas. O corpo-Igreja é dado por nós, para que sejamos homens e mulheres emancipados, maiores, maduros e livres como Cristo. E isso significa encarnar a mesma atitude fundamental de amor e serviço vivida por Jesus Cristo, superando a tentação de anunciar Deus e servir ao dinheiro, de falar de amor e agir pelo temor.
“Tu vais lavar-me os pés?”
Jesus explicita sua oferta sem reservas no gesto de lavar os pés dos discípulos. Ele havia dito e repetido que viera para servir e não para ser servido, como Servo e não como Senhor, e demonstrara isso numa dedicação sem cansaço aos últimos. Depois de repartir pão e vinho, Jesus deixa a mesa e assume o serviço das mulheres e crianças, lavando os pés dos que estavam à mesa. É o próprio Deus que se inclina diante da humanidade e, de joelhos, lava nossos pés. E não o faz para demonstrar humildade, mas para desfazer as hierarquias e afirmar a absoluta igualdade de todos/as. Deus não se identifica com o soberano mas com o servo.
Entre os convivas estão Pedro e Judas. Pedro reage diante da lição de Jesus. Não lhe parece bem mudar as coisas assim tão radicalmente: para ele, senhores e superiores devem ser honrados; servos e inferiores devem ser desfrutados; esta é a ordem e nada deve ser mudado. Parece-lhe difícil aceitar que esta não é a ordem querida por Deus, que participar da Eucaristia implica em fazer-se memória viva da vida de Jesus Servo. Como custa à Igreja e a cada um/a de nós assimilar esta lição. Mas Jesus não ensaia uma cena teatral: ele é o Servo, e a missão que compartilha conosco é servir, na amizade e na solidariedade.
O evangelista não diz quem foi o primeiro e quem foi o último, e Jesus lava os pés também de Judas. Nossa tradição cultural propõe a prática de ‘malhar o Judas’, mas Jesus nos ensina a acolher também àqueles/as nos quais se condensa a resistência e o mistério da iniquidade. Não se trata de absolver os algozes e ignorar seus crimes, mas de ser capaz de ver mesmo nas pessoas contraditórias, resistentes e errantes um ser humano. E mais: precisamos acolher a possibilidade de resitência, fechamento e traição que está em de nós mesmos/as.
A lição é difícil e nada óbvia. É por isso que depois de cear e de lavar os pés dos discípulos, Jesus interroga os discípulos: “Vocês compreenderam o que eu acabei de fazer?” E para não deixar dúvidas, explica: “Eu lhes dei um exemplo... E vocês serão felizes se o puserem em prática...” Deus coloca tudo em suas mãos, e este tudo se mostra nas mãos que lavam os pés, nas mãos que serão pregadas na cruz, no serviço cordial e fraterno, na recusa das hierarquizações.
“Erguerei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor...”
O mandamento final é que passemos da memória verbal e ritual à realização histórica e vivencial: “Fazei isso em memória de mim”; “Se puserdes em prática, sereis felizes.” A Eucaristia é memorial da solidariedade de Jesus realizada efetivamente nos caminhos da Galiléia e no martírio da cruz. Sem isso a santa ceia será um rito vazio. Precisamos dar conteúdo e concretude à Eucaristia no dom cotidiano pelos outros, no serviço despojado a todos/as, mesmo àqueles/as que aparentemente não o merecem, mas carecem.
Jesus de Nazaré nos convida à Ceia que preparou com cuidado sincero e amigo e nos acolhe à sua mesa. Participemos dignamente desta ceia-aliança para alcançarmos um amor maduro e concreto. Sentados/as, como pessoas reconhecidas e dignas, ou em pé, como militantes prontos/as para a luta, descubramos que a vida de cada pessoa humana é muito preciosa aos olhos de Deus. Por isso, seguros/as do seu amor, tomemos o avental e lavemos os pés uns dos outros, no interior do templo e nos caminhos da história.
Não caiamos na tentação – tão forte e tão presente! – de deixar a bacia e o avental bem guardados no interior do templo para a próxima encenação. O gesto do lava-pés, complementar ao gesto da mesa e da doação total na cruz, é uma lição para ser praticada também no seio das nossas famílias, grupos, associações e no coração de uma sociedade habituada a bajular os que detém o poder e pisar violentamente sobre os empobrecidos. Jesus não nos pede para repetir um rito, mas para assimilar uma ética. Alcançamos a verdadeira liberdade quando renunciamos às hierarquias e honras vazias, vencemos a envolvente sedução do dinheiro e somos capazes de servir efetivamente.
Pe. Itacir Brassiani msf

sábado, 27 de março de 2010

Semana Santa

com o Domingo de Ramos os cristãos iniciam uma semana especial, diferente. É a Semana Santa. Neste Domingo a Igreja vive dois mistérios da vida de Jesus: o primeiro é representado pela procissão de ramos e relembra a entrada de Jesus em Jerusalém; o outro é a sua Paixão, que vai continuar sendo celebrada durante toda a Semana Santa.
Os acontecimentos vividos nesta semana santa não devem ser vistos apenas como históricos, mas com o sentido salvador que eles trazem. Por isso mesmo, a narração da paixão e morte de Jesus não basta ser lida ou escutada; deve ser rezada, meditada e vivida.

Para isso, cabe a cada um de nós santificar esta semana. Ela só será santa se nossa vida for santa.

Por isso, nesta semana, perdoemos se estamos com raiva de alguém; busquemos o perdão se ofendemos alguém; rezemos mais; sejamos solidário; valorizemos os gestos de amor na família, com nossos vizinhos e colegas de trabalho. Participemos das celebrações. Multipliquemos as atitudes de amor e de fraternidade a exemplo de Jesus. Acreditemos num mundo novo que só o amor é capaz de construir.

Ótimo início de Semana Santa.
Pe. Clair Favreto

terça-feira, 16 de março de 2010

PATER NOSTER: a urdidura da Fraternidade


Um só sopro de vida,
uma só urdidura e simetria,
um só ritmo e arfar,
um só fluxo de chama e de paixão,
uma só e santíssima alegria

a todos une e a todos perfilha,
natos do mesmo pai,
da mesma origem,
espelhos da mesma face,
como se gêmeos foram,

herdeiros e sinônimos de um nome –
e santo, santo, santo é esse nome –
que soa no universo e, eco do Verbo,
em cada um de nós é repetido,
como um coro de vozes à distância.

Desvendados os olhos da cegueira
que nos aflige – se Vos descobrimos,
rutilante de luz, em cada vida,
em cada olhar – rodeados estaremos
pelo luar de Vossa Formosura.

Serão então, franqueados os umbrais –
o advento do reino – do Teu reino –
e nele viveremos Tua paz!

Se tudo e todos nós somos Vós – mesmo,
imersos num só sangue, num só ciclo,
num só pulsar do mesmo coração,
no pastoreio de uma só vontade –
que seja feita essa Vossa ordenança.

assim na terra e em nós como nos céus
e que exultemos, então, no arrebato
da transcendência que unge o firmamento.
e ensimesmados nessa santidade
que a tudo banha e a todos exalta.

Roguemos possam todos florescer
e para tanto tenham nosso amparo
e o pão para seu corpo e sua alma
por nós lhe seja dado cada dia
lhes permitindo ser.

Oh ! que funda amargura nos consome,
ao se abrirem por fim os nossos olhos
e vermos que negamos a existência –
em espírito e em carne e identidade,
magnífica e diversa – a tantos seres.

Que dívida nos prende a todos eles,
nossos calados, pacientes amigos,
tão doadores, a quem tanto devemos!

A nossa ofensa seja perdoada,
irmãs e irmãos, pobres e humilhados
ao passo em que, por nós, for apagado
a marca vil de nosso desamor
e em Nós a Santa Face restauremos.

Do mesmo jeito, com que perdoamos,
tão amorosamente ao filho amado
e alegres acolhemos
a toda mansa ovelha desgarrada
que de nós se afastou e ao lar retorne,

que aqueles todos a quem magoamos
possam nos devolver à condição
de Vossa terna e humana semelhança
e em nós – até em nós! –
Vos reconheçam.

E o nosso andar avance jubiloso,
livre das incertezas e desvios
de quem vacila e olha para trás
e a sarça ardente fulja e nos afaste,
da tentação da fuga e da tristeza.

E ante nós resplandeça a Tua glória
e Tu estejas em nós – e nós em Ti -
livres de todo o mal,
Amén!

Escrito por Judith Cortesão em 16 de agosto de 1996,
para seu amigo Lauro Barcellos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Encontro de Espiritualidade da Vida Religiosa Inserida e Solidaria

CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL
REGIONAL DE PORTO ALEGRE/RS
Trav. Francisco de Leonardo Truda, 98 – 2º andar – S /23-25
90010-050 – PORTO ALEGRE/RS
Telefone: (51) 3221-0050/0277

Fax: (0xx51) 3212-0108



Porto Alegre, 10 de março de 2010.


Circular nº 05

Assunto: Encontro de Espiritualidade da Vida Religiosa Inserida e Solidária



Estimadas Irmãs e estimados Irmãos,

No Seminário Estadual da Vida Religiosa Inserida do RS, em agosto 2009, sentimos a necessidade de retomar a radicalidade do seguimento de Jesus de quem está e de quem pretende estar ao lado/junto dos empobrecidos. Não se trata de adquirir novas teorias ou aprender novas metodologias de trabalho; queremos “reavivar a chama desta opção” – pessoal e comunitariamente – na partilha, reflexão e oração, dando continuidade ao processo de revitalização e ressignificação da Vida Religiosa Inserida. Deste modo, CONVIDAMOS você para o ENCONTRO de ESPIRITUALIDADE da VIDA RELIGIOSA INSERIDA e SOLIDÁRIA.

Objetivo: Resgatar e aprofundar os fundamentos da espiritualidade da VRI.

Tema: “Seguimento de Jesus na opção pelos pobres”.

Assessor: Frei Wilson Dallagnol, OFMcap.

Data: 15 a 18/04/10
Início: dia 15, às 19 horas, com o jantar.


Término: dia 18, às 12 horas, com o almoço.

Local: Casa de Oração São João da Cruz (Padres Carmelitas)
Av. Oscar Pereira, 5199 – Bairro Cascata – Porto Alegre – RS
Fone: (51) 3318 5061

Como chegar ao local: do Centro de Porto Alegre, na Av. Borges de Medeiros: Ônibus – Embratel, Renascença, Belém Velho ou Lotação Glória. Descer na parada depois do Hospital Divina Providência. A parada fica bem na entrada da Casa.

Hospedagem:
Diária no valor de R$50,00 (a ser paga no local do Encontro), totalizando R$150,00 o Encontro todo.
Observações:
· É necessário cada participante levar roupa de cama e banho.
· Se alguém tiver dieta especial, favor levar o material; a Casa disponibiliza espaço para prepará-la, pois o Serviço de preparo da alimentação é terceirizado.
· Assuntos relacionados ao pagamento da Hospedagem são tratados diretamente com o pessoal da Casa do Encontro.

Inscrições:
Ficha preenchida: enviar pelo e-mail
secrepoa@terra.com.br (com pedido de confirmação do recebimento), pelo fax (51)3212-0108 ou entregar diretamente na Sede das CRB, até 30/03/10.

Taxa: R$ 20,00 (vinte reais), a ser paga:
- com cheque cruzado, em nome da Conferência dos Religiosos do Brasil/RS, enviado por correio,
- diretamente na Sede da CRB
- ou no local e dias do Encontro.

Observações:
· Mesmo que o pagamento da Taxa seja feito na data do Encontro, a Ficha de Inscrição deve estar na CRB até 30/03.
· Em caso de alguma dúvida ou dificuldade quanto à Ficha de Inscrição e/ou ao pagamento da Taxa, entrar em contato com a assessoria da CRB pelo e-mail
assescrb@terra.com.br ou pelo telefone (51) 3221 0050.

É bom que cada participante leve algum símbolo da sua Inserção para colaborar na ornamentação do ambiente e montagem do cenário do Encontro.

É importante que, desde agora, todos/as lembrem do nosso Seminário Estadual da VRI, que acontecerá do dia 06 (às 19 horas) ao dia 08 (às 12 horas) de agosto de 2010, na Casa Marista da Juventude - CAJU - P. Alegre. Maiores informações serão dadas posteriormente.


Agradecemos a todos/as pelo envolvimento na programação da CRB e, desde já, damos as boas-vindas aos/às participantes do Encontro.
Estaremos juntos/as, “com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a plenifica” (cf. Hb 12,1-3), mas também com os olhos voltados para a realidade em que vivemos, para nela nos inserirmos com coração solidário.
Que Deus nos acompanhe com seus dons e luzes para que sejamos felizes na Vida Religiosa e fiéis na Inserção Solidária.

Saudações, abraços e votos de Bem.

Pe. João Quirino Weber, SJ
Presidente da CRB/RS

Ir. Clarice Teresinha Heck, IDP

Coordenadora do Grupo de Reflexão VRI

terça-feira, 9 de março de 2010

Contágio do HIV de mãe para filho deve acabar

O Fundo Mundial para a Luta contra a Aids, a Malária e a Tuberculose calcula que até 2015 será possível erradicar a transmissão vertical – de mãe para filho – do vírus HIV.
A projeção é consequência do aumento dos programas financiados por órgãos internacionais em países subdesenvolvidos, especialmente no continente africano.
No último ano, por exemplo, o orçamento da África do Sul destinado ao tratamento da aids cresceu 33% e, entre 2007 e 2008, o número de pessoas que recebem os antirretrovirais (remédios que impedem a multiplicação do vírus) aumentou 53%, segundo a Unaids, a agência da ONU para o combate à aids.
45% das grávidas recebem antirretrovirais.
No Brasil, a política de profilaxia da transmissão vertical, que inclui dar antirretrovirais para gestante e bebê, foi implantada em 1996. Com o tratamento, a chance de contaminação, que era de 25%, hoje é de 1% ou menos.
Segundo dados apresentados pela Unaids, há 370 mil crianças no mundo com HIV, sendo que a maioria delas foi infectada por transmissão vertical. No entanto, esse número tem diminuído desde 2001.De acordo com a entidade, hoje 45% das mulheres grávidas HIV positivas de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento recebem os antirretrovirais. Ao todo, estima-se que 2,5 milhões dos 4 milhões de pessoas infectadas com HIV em todo o mundo façam tratamento com esses medicamentos.