Carta da Vida Religiosa do Brasil
Seminário Nacional da VRI e solidária
Sob a inspiração da matriarca Anna Roy e do patriarca Dom Helder, a Vida Inserida no Brasil esteve reunida em Carpina, PE., respigando a memória, celebrando o presente, sonhando profecia.
Iniciamos o encontro peneirando a vida através da partilha do nosso ser e agir, nas 20 Regionais da CRB. Nossos olhos maravilhados contemplaram a força renovadora da Ruah que perpassa a Vida Religiosa Inserida de Norte ao Sul, do Leste ao Oeste. Nosso rosto foi sendo tecido a partir da diversidade de presenças, confirmando que o nosso lugar é a periferia e a fronteira.
Fomos tomando consciência de que a VRI traçou uma identidade própria de Vida Consagrada, lá onde a vida é mais ameaçada. E mesmo assim fomos tocadas/os pela pergunta: será que não está faltando sedução na Vida Religiosa? Sedução é atração para o Mistério; é deixar-se cativar e encantar-se. A VRI é uma vida seduzida e mística por natureza. Vida de sedução pelos pobres, presença do Reino de Deus.
Algumas janelas se abriram diante de nós no contexto de crise que nosso mundo está vivendo. Crise tem a ver com espelho. Necessário se faz olhar o passado para recuperar a água da Fonte. Caminhos se abrem diante de nós: encruzilhada. Ou vamos ao berço ou às fronteiras. Nada é tão fértil como o deserto. É aí que maturam as sementes, debaixo da terra. A semente cresce para baixo antes de crescer para cima. É do chão que as mudanças nascem. É no deserto que se cultiva a esperança.
Em comunhão com todos os Povos Indígenas pudemos rezar e dançar. E continuando com a ciranda de nossas reflexões e conversas, também nos perguntamos: qual a esperança da nossa mãe Terra? A Gaia é um ser vivo: nasceu, se formou, se cansa, descansa, adoece, envelhece e morre. A reflexão ecológica nos desafia a repensar o nosso paradigma da Teologia da Criação.
A releitura Bíblica da vivência da Tribo de Levi traz luz para nós. Levi significa aderir à missão de irradiar a presença libertadora de Javé. Levi não recebe terra porque sua herança é Javé. Levi está presente em todas as tribos como fermento.
A referência às primeiras comunidades eclesiais nos levou ao questionamento: onde está a vocação fundamental em nós como Igreja? VRI tem a ver com a igreja doméstica das primeiras comunidades. Todas as vezes que ela volta aos pobres ela rejuvenesce porque na inserção aprendemos a misturar a Palavra e a vida. Nós redescobrimos no rosto dos pobres o rosto divino. Junto com eles nós redescobrimos a comunidade, lugar da interação, da escuta e do diálogo, do cuidado e do toque feminino.
Muita VIDA foi celebrada do começo ao final do nosso encontro. A Palavra, o pão e o vinho foram partidos e repartidos entre nós. Saímos movidas/os pelo dinamismo da utopia que é o “não lugar”. E esse é o melhor lugar para pensar o Novo Lugar: tráfico de seres humanos, trabalho escravo, biomas, políticas públicas, Povos negro e indígenas, mundo urbano, economia solidária, movimentos camponeses, itinerância e intercongregacionalidade...
Partimos com a certeza de que continuamos num processo permanente de gestação da vida em comunhão com toda a criação. E nós testemunhamos que Ele está no meio de nós.
Carpina, Pentecostes da VRI e solidária, 20 abril 2009