sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"E sorrindo promunciaste meu nome..."

(Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67/68; Hb 12,18-24; Lc 14,1.7-14)(29 de agosto 2010)
O hábito entrou na sociedade e na Igreja, e hoje repetimos a expressão quase inconscientemente: basta que uma pessoa exerça alguma função de autoridade e nós a tratamos como Excelência. E se a função for eclesiástica e alta, acrescentamos Revendíssima. A estas pessoas são reservados or primeiros lugares e todas as honras, não importando aquilo que realmente fazem ou são. E o pior acontece quando tais honoráveis excelências cobram respeito ao seu status e quando isso é ensinado como se fosse Evangelho de Jesus Cristo. Definitivamente, esta não é uma atitude inspirada no Evangelho. A catequese de Jesus passa longe disso. Continua válido, depois de 2200 anos, o ensinamento de Jesus Ben Sirac: “Para as chagas dos soberbos não há cura, pois a planta do pecado se enraíza neles e nem é percebida.”

“Jesus foi convidado a comer na casa de um dos chefes dos fariseus.”
Jesus não perde oportunidade na sua tarefa de catequista. Ele propõe uma inversão radical da escala dos valores da sociedade e da religião do seu tempo, e não se cala nem mesmo na casa de uma autoridade moral, em pleno jantar festivo para o qual havia sido convidado. Jesus desenvolve a lição de catequese cristã que acabamos de ouvir, logo depois de afirmar que as necessidades de uma pessoa estão acima das leis, num solene dia de sábado, na casa de um dos chefes dos fariseus.
Sua catequese é concreta e ligada aos fatos. Ele aproveita a presença de um homem doente para discutir o limite das leis e instituições. E quando vê que os convidados para uma refeição se apressam em ocupar os primeiros lugares, propõe uma reflexão sobre o orgulho e a humildade. Sua catequese não é sobre as regras de boas maneiras a serem observadas numa refeição solene, mas sobre um princípio nucleador da vida cristã. Como modelo de catequista, ele não fica na periferia das coisas.

“Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares.”
Como catequistas, devemos estar atentos e lúcidos diante dos privilégios que a sociedade concede e a própria tradição justifica e ensina. Já em 1965 Dom Helder Camara dizia que o maior perigo que nos ameaça é querer sempre vencer e jamais fracassar, sentir-se sempre querido e nunca sobrar. Com profunda delicadeza e sinceridade, ele mostrou a Dom Eugênio que, “mais grave ainda do que ser apanhado pela engrenagem do dinheiro, é ser apanhado pela engrenagem do prestígio”.
É ainda nosso pequeno Helder e grande profeta que lamenta que homens santos e corajosos como João XXIII e Paulo VI não tenham conseguido se livrar “do peso morto terrível e da pedra de escândalo das tradições do Vaticano”. E deabafa: “Não acreditem que Paulo VI não se sinta profundamente mal ao sentar-se no trono e ver um Monsenhor, ajoelhado, colocando-lhe um travesseiro debaixo dos pés enquanto dois outros acomodam-lhe a capa, como se ajeitassem uma velha rainha.”
É verdade que na Igreja nem sempre são as próprias pessoas constituídas em autoridade que buscam os privilégios, embora isso também ocorra. Mas precisamos superar uma certa tradição, que continua se reproduzindo com a ajuda da nossa passividade: sem perder o respeito devido às pessoas, é hora de erradicar o sagrado e pouco evangélico hábito de vincular as autoridades às engrenagens do dinheiro e do prestígio, de considerá-las acriticamente reverendas excelências.

“Quando ofereceres um almoço ou um jantar...”
Jesus avança na sua catequese e passa da crítica do orgulho e dos privilégios à questão dos beneficiários da nossa atividade . Ele parte de um costume doméstico que vigora também entre nós: quando organizamos uma festa, no topo da lista dos convidados estão os familiares, os parentes, os amigos e os vizinhos. Isso faz parte das boas maneiras e continua válido no nível interpessoal, mas este círculo é muito estreito quando se trata do horizonte da nossa missão enquanto comunidade eclesial.
Da mesma forma que o cristão rejeita resolutamente a busca de honras e vaidades e busca decididamente o lugar reservado aos servidores, assim também, como pessoa e como Igreja, precisamos superar a lógica da troca compensatória: servir, apoiar e defender aqueles que têm mais possibilidades de compensar em moeda e em honras o nosso serviço. A Igreja não pode ter outra prioridade senão amar e servir Jesus Cristo crucificado nos excluídos que se contam aos milhões e estão por todo lado.
No primeiro momento Jesus fala aos hóspedes que estavam com ele à mesa, ensinando que “todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. Depois se dirige ao próprio anfitrião que o acolhe, questionando sua expectativa de retribuição. Orgulho e a busca de retribuição não são posturas enraizadas no Evangelho. Não é o nome deste tipo de pessoas que Jesus diz sorrindo, e não é a elas que ele costuma confiar sua missão.

“Estes não têm como te retribuir!”
Precisamos nos convencer de que é profundamente desgastante e infantilizador viver de privilégios e depender de compensações. O caminho que dá acesso às honras e privilégios geralmente passa pela subserviência humilhante e é acompanhado por um medo aterrador e por um apego doentio aos bens e a toda sorte de títulos. Não é por nada que Francisco de Assis se encontra ao mesmo tempo a minoridade e com a pobreza. Abraçando uma ele acaba desposando também a outra.
Aproveitando a memória de sua morte de Dom Helder (27.08.1999), voltemos à sua sabedoria. “Não te diz a experiência que quando vem a morte em geral sucede o inverso do que se esperava: os que proclamam ausência de medo tremem, se inquietam, se assustam, ao passo que a recebem tranquilos os humildes que tremiam?...” Quem perdeu ou distribuiu tudo com generosidade, experimenta o que é ser livre e não teme perder nada. E se não espera nenhuma retribuição, alcançou a maturidade.
Jesus propõe a substituição dos grupos de pessoas que costumam aparecer no topo das nossas listas de festas: os pobres, aleijados, coxos e cegos devem ser os primeiros. É claro que Jesus não quer estragar nossa festa, mas questionar a estreiteza das fronteiras que traçamos entre os que são dos nossos e os outros e problematizar a busca de compensações que costuma reger nossas pequenas e grandes ações. A verdadeira felicidade consiste em dar generosamente, sem cobrar dividendos na terra ou no céu.

“Pelos humildes ele será exaltado.”
A motivação mais profunda desta inversão radical que Jesus nos propõe não tem a ver com ódio às pessoas bem-sucedidas ou às autoridades, nem com o apreço pelo que é feio e baixo. A motivação lança suas raízes no próprio Deus, cujo coração se move de compaixão pelos pobres e oprimidos. O salmo 67/68 celebra: “Pai dos órfãos e defensor das viúvas, assim é Deus na sua santa morada. Aos desprezados Deus dá uma casa para morar, faz sair com alegria os prisioneiros...”
A este propósito, a escritura ensina: “Sê misericordioso com os órfãos como um pai, e como um esposo para suas mães; e serás como um filho obediente do Altíssimo...” (Eclo 4,10-11). Por isso “quem oferece um sacrifício com os bens dos pobres é como quem imola um filho na presença do pai. A vida dos pobres é o pão que necessitam; quem dele os priva é um assassino. Quem subtrai o pão do suor é como quem mata o seu próximo; derrama sangue quem defrauda o assalariado” (Eclo 34,24-27).
Tanto Maria como Jesus nos ensinam que Deus humilha aqueles/as que se extaltam e exalta os/as humilhados/as. Mas não é só isso. São os humildes que realmente honram a Deus e penetram seus mistérios em profundidade. E nós honramos realmente a Deus quando nos tornamos semelhantes a ele no seu amor preferencial e solidário pelos últimos. E assassinamos os pobres quando, como pessoas, como Igreja ou como nação, ignoramos ou pisoteamos seus direitos.

“Amigo, vem para um lugar melhor!”
A recompensa para quem segue a via proposta e trilhada por Jesus é dada na ressurreição dos justos. Em outras palavras: a felicidade que ninguém pode roubar é esta que conquistamos – ou recebemos de graça! – entrando pela estreita porta da humildade e da generosidade. É a alegria profunda que experimentamos quando ouvimos da boca dos porta-vozes da vida o convite: “Amigo/a, vem para um lugar melhor!” Nestes momentos descobrimos que Deus pronuncia nosso nome sorrindo.
É bom acolher esta palavra forte e iluminadora de Deus no domingo dedicado às catequistas. Sorrindo, Jesus as chama pelo nome para esta missão. Oxalá possam ensinar com a vida e com a palavra a lição que Jesus nos dá neste domingo. E, depois de ocupar por anos e anos um lugar considerado por muitos como secundário, possam escutar o mestre dizendo: “Amiga, vem para um lugar melhor!”
Pe. Itacir Brassiani msf

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Senhor, tu olhastes em meus Olhos..."

(Ap 11,19.12,1-6; Sal 44/45; 1Cor 15,20-27; Lc 1,39-56)

A Assunção de Nossa Senhora é uma festa litúrgica mariana que, para as comunidades do Brasil, está ligada à semana dedicada à vocação à vida religiosa. Mas aquilo que cremos sobre Maria não se limita aos religiosos e religiosas: de alguma forma se refere a todos os homens e mulheres, à comunidade eclesial, ao povo de Deus. A glorificação de Nossa Senhora, sua realização plena em Deus, é uma vocação e uma promessa extensivas a toda a humanidade. Como Maria, todos nascemos para a glória e para o brilho e descobrimos que, olhando-nos nos olhos, Deus nos chama sorrindo pelo nome. Nela a pessoa humana em sua integridade – em corpo e alma! – é assumida e realizada em Deus. E esta é também uma proclamação clara e inequívoca da dignidade do corpo.


“Feliz aquela que acreditou!”
No Magnificat Maria aparece como uma pessoa humilde e humilhada. E Lucas a apresenta como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus e que está pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história. Isabel acrescenta que Maria é alguém que ousou acreditar na força da Palavra e na fidelidade daquele que a pronuncia. Obviamente, não se trata de uma palavra escrita na Bíblia, mas de uma mensagem eloquente escrita nos acontecimentos.
A humildade, a escuta e a fé estão intrinsecamente relacionadas e são as marcas fundamentais da personalidade de Maria. Se Deus pôde realizar grandes coisas nela e através dela é porque encontrou a base humana indispensável já preparada. Não fazemos bem quando idealizamos Maria a ponto de desumanizá-la completamente. Para fazer-se humano o Filho de Deus precisou de uma pessoa fundamentalmente humana, e não de criaturas angélicas!
Humildade, atitude de escuta e fé na ação misericordiosa e libertadora de Deus são os elementos que possibilitam uma vida feliz. É importante lembrar que o segredo da felicidade que todos buscamos não está na posse ou no consumo de bens, nem na fama ou no sucesso que alcançamos ou ainda no poder de atração que exercemos sobre os outros, mas na abertura humilde e profunda aos outros, ao futuro e a Deus. “Feliz aquela que acreditou...”


“Derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes”
O Evangelho diz que, depois da experiência de ser amada e de receber a tarefa de dar à luz aquele que é a Luz do mundo, Maria vai apressadamente à casa de Isabel. Busca um sinal que confirmasse a parceria de Deus com os humildes e sua aliança com os pobres. Ela havia dado sua palavra Àquele que é capaz de fazer grandes coisas em favor do povo humilhado, mas nem tudo estava claro. A discípula se faz serva, a serva se mostra peregrina e a peregrina experimenta a hospitalidade na casa de Isabel.
Na casa de Isabel, enquanto Zacarias permanece mudo e à margem de tudo, duas mulheres louvam a Deus e profetizam. A discípula, serva e peregrina se transforma em profetiza destemida. Contemplando sua própria história e a epopéia do seu povo, Maria percebe e proclama a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os soberbos, derruba os poderosos, eleva os humildes e oprimidos, socorre seu povo e estende sua misericórdia a todas as gerações.
É importante não esquecer que Maria, esta mulher assunta ao céu, não é apenas uma humilde trabalhadora do lar, uma pessoa discreta que acredita em Deus, uma doce e recatada esposa de um carpinteiro. Deus assume em corpo e alma e eleva à glória do céu uma mulher que rompe com os costumes que menosprezam a mulher e a mantém calada, que diz uma palavra profética na arena pública, que proclama uma revolucionária intervenção de Deus sobre a história.


“E bendito é o fruto do teu ventre!”
No encontro entre Maria e Isabel o corpo festeja e é festejado. É bendito o corpo feminino de Maria, assim como bendito é o corpo que ela carrega no ventre. Bendito é o corpo de Isabel, capaz de perceber a incontida alegria daquele que preparará a estrada para a chegada do Messias, e bendito é o corpo dos mártires de todos os tempos. Bendito é também o corpo dos humilhados e dispensados, destinados por Deus desde sempre ao brilho.
A festa da Assunção de Maria sublinha de forma contundente a dignidade do corpo, de todos os corpos. Mas é uma proclamação da dignidade especialmente dos corpos humilhados por uma cultura que os transforma em meios de produção, em objetos vendidos e comprados, em produtos expostos nas vitrines e passarelas, sem brilho e sem beleza. É também o reconhecimento da beleza e da nobreza dos corpos doentes e envelhecidos pelo tempo, assim como do corpo eclesial dos muitos e diferentes membros.


“Um grande sinal apareceu no céu...”
Mas é importante lembrar que Maria, sendo discípula e membro da Igreja, é também sinal e símbolo do povo de Deus, da imensa caravana dos homens e mulheres de boa vontade, sonhadores de um outro mundo. Sua assunção é um sinal e uma parábola da ressurreição que todos esperamos. O livro do Apocalipse sublinha este aspecto de sinal ou símbolo. Como ela, a humanidade está em trabalho de parto e, mesmo ameaçada por todos os lados, vai dando à luz um Homem Novo e construindo um Mundo Novo.
Mas não esqueçamos um outro aspecto também relevante: Maria simboliza uma Igreja com traços femininos. A Igreja é chamada a construir-se como corpo que acolhe, aquece, alimenta, ensina, respeita e favorece o crescimento e o amadurecimento dos filhos e filhas. Uma Igreja institucionalmente rígida, fechada, autoritária, legalista e doutrinária não tem pouca relação com a figura feminina de Maria. Seria uma Igreja fechada, que não crê, uma Igreja infeliz. Uma Igreja com nome feminino e corpo masculino...


“O menino pulou de alegria no meu ventre...”
A festa da Assunção de Maria recorda e proclama que a Igreja, esse povo de Deus sem fronteiras definidas, formado por todos os homens e mulheres de boa vontade, é assumido por Deus como seu corpo e meio de ação na história. A Igreja precisa se compreender como povo de Deus em marcha, que não pode construir aparatos pesados porque não tem aqui sua morada definitiva. E precisa superar todas os sinais de exclusivismo, esta tentação de traçar fronteiras entre cristãos e não-cristãos.
É verdade que não há oposição irreconciliável entre o Espírito e as estruturas. Deus assume as estruturas e leis limitadas da história e das instituições para pôr em movimento sua obra libertadora. Mas cabe à Igreja avaliar constantemente seus instrumentos e estruturas, subordinando-os à ação e aos interesses de Deus e não aos seus próprios interesses e medos. Fora disso seu corpo se enrijece, envelhece, perde vitalidade. E se torna incapaz de promover salvação e liberdade.
Inspirada em Maria, a Igreja precisa criar espaços e condições favoráveis ao desenvolvimento de homens e mulheres maduros, livres, despojados, solidários e comprometidos com a salvação do mundo. Um corpo que se impõe pelo medo e pela lei está condenado à esterilidade e nunca terá a graça de sentir os filhos e filhas saltarem de alegria no seu ventre. É um corpo que não conhece a felicidade, um túmulo de homens e mulheres que não chegam a nascer verdadeiramente.


“A mulher fugiu para o deserto...”
Com a celebração deste terceiro domingo do mês vocacional iniciamos a semana que propõe a reflexão sobre o chamado à vida religiosa e somos convidados a refletir sobre o lugar e o significado da vida consagrada na Igreja e na sociedade. Como a de Maria, esta vocação não é externa e nem superior à Igreja: ela nasce no seu coração e está a serviço da sua missão. Como carisma específico do corpo eclesial, a vida religiosa está a seu serviço. Nasce de um chamado gratuito para servir gratuitamente.
Na sua origem está a experiência mariana de um Deus que olha nos olhos e sorrindo nos chama pelo nome. Ou uma experiência como aquela de Isabel: o corpo estremece de alegria por receber inesperadamente Deus na própria casa. Não se trata primariamente de um caminho de purificação moral ou de desprezo do mundo, mas de plenitude de uma graça que não cobra méritos. Dá de graça aquilo que de graça recebeu.
Partindo daqui, a vida consagrada faz-se ouvinte da Palavra, cresce como servidora e amadurece como profecia. Como Maria, as pessoas consagradas são chamadas a proclamar com a vida e com a palavra que nada pode ser colocado acima do amor pessoal a Jesus Cristo e aos pobres nos quais ele vive. Inspirada pela mulher do Apocalipse, a vida religiosa é chamada a atuar nos desertos (onde tudo parece sem sentido), nas periferias (onde não há poder) e nas fronteiras (onde tudo precisa ser reinventado).
Pe. Itacir Brassiani msf

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

3º Seminário Estadual da Vida Religiosa Inserida e Solidária

Realizou-se na Casa Marista da Juventude (CAJU), no Bairro Vila Nova de Porto Alegre, RS, nos dias 6, 7 e 8 de agosto de 2010 o 3º Seminário Estadual da Vida Religiosa Inserida e Solidária. Esse teve como tema “Identidade e missão da Vida Religiosa Inserida e Solidária na atual conjuntura”.
Iniciou as 19 hs do dia 06, com a janta. Às 20 hs os e as participantes foram acolhidos (as) pela equipe organizadora, na capela da casa. O cenário apresentou a Tenda “schehiná”, o caminho, o pequeno Moíses na cesta de vime... O texto de Ex 2-3 iluminaram a introdução ao tema. A seguir, os integrantes do seminário se apresentaram. A luz de uma vela na forma de coração, cada um (a) foi dizendo seu nome, Congregação e algo da missão representado no símbolo que cada qual trouxe.
Na manhã do dia 07 iniciou-se a jornada às 7 h e 30mim com oração. A partir de Mateus 17, 14-20 fizemos preces e concluímos com o hino a Nossa Senhora e a benção junto a Tenda e a imagem Daquela que trouxe o Emanuel.
O dia foi dedicado a reflexão e estudo sobre Políticas Públicas. Tivemos uma asessoria competente de Padre Edson Da Cunha Thomassin e Fabiane Asquidamini que trouxeram valiosas contribuições através de filmes, textos e dinâmicas.
Às 18 h celebramos a Eucaristia, presidida pelo Padre Rogério Mosmann da Silva, um dos integrantes do grupo.
Um momento de destaque foi a confraternização. A Vida religiosa Inserida e Solidária é rica em talentos: teve um conjunto musical para ninguém bota defeito, o “canal improvisado da TV Sucata” filmou e sonorizou os momentos mais contrastantes da festa. Do baú das recordações vieram mágicas, poesias clássicas, piadas até em latim e músicas do tempo do “beijinho doce foi ele quem trouxe longe pra mim”. Quem participou sabe como foi legal. Tudo promete que o próximo, em agosto de 2011, será ainda melhor. Esperamos que ninguém falte.
Após uma noite encolhida, mas bem dormida, iniciamos o domingo, Dia dos Pais, com uma fervorosa oração e um reforçado café. Revisitamos o “caminho” da Vida Religiosa Inserida e Solidária trilhado

Conhecimento presença Aprofundamento
participação urgência esperança
Opção pelos empobrecidos mistica da compaixão persistência
proximidade partilha
igualdade escuta da palavra e do clamor
cuidadeo da vida


Olhando para esse cenário cantamos com o poeta, Nelson Toletino:
“Senhor, quanto mais caminho, mais vejo aumentar a estrada. Tropeço por entre espinhos, num campo onde foi calada: a voz da libertação. Mas me ergo, não vou sozinho, teus passos comigo vão. Na terra será plantada a paz que nos é doada, em cada fração do pão. Não posso ficar parado, teu corpo me dá coragem. Teu sangue me traz imagem de tantos irmãos deixados à margem da salvação. Teus passos irei seguindo/ a paz vou distribuindo. E o mundo evangelizado será, enfim, transformado em paz e salvação”.
No final, alguns amarramentos, previsão da programação 2011... E vem aí a 41ª Assembléia da Conferência dos Religiosos Sul 3, da qual somos parte. É preciso colocar também nossa contribuição para uma Vida religiosa Consagrada com os pés nas realidades dos empobrecido sem desviar o olhar de Jesus, o Filho de deus que se fez nosso Irmão.
Criativamente e fiéis ao horário, motivados (as) pela equipe da liturgia, rezamos o Pai-nosso, Ave-Maria e nos abençoamos mutuamente.
Um saboroso e substancial almoço preparado pelas dedicadas cozinheiras da casa, nos reanimou para voltar pra missão.
Irmã Nilza Maria Nicodem
Irmã Lizandra Inês Both
Irmãs Filha do Amor Divino

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"Tu minhas mãos Solicitas..."

(Sb 18,6-9; Sl 32/33; Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48)(08 de agosto 2010)
A proposta do mês vocacional nos convida a refletir, na segunda semana que ora iniciamos, sobre a vocação dos pais e da família. Mas é interessante lembrar também algumas figuras cuja memória é celebrada nestes dias: o religioso mendicante e fundador São Domingos (+06/08/1221); a filósofa judia e mártir carmelita Edith Stein (+09/08/1942); Frei Tito, religioso cearense, preso e torturado pela ditadura militar brasileira (+10/08/1974); Santa Clara (+11/081253), amiga de São Francisco e fundadora das clarissas; a agricultora e sindicalista nordestina Margarida Alves (+12/08/1983); a testemunha do amor de Deus entre os sofredores de rua, Pe. Alfredinho Kunz (+12/08/2000). Todos/as nos deixaram, cada um/a seu modo, o testemunho de uma vida vigilante, ativa e serviçal na espera do Reino de Deus.

“Não tenhas medo, pequeno rebanho.”
Podemos dizer que o cristianismo é hoje um pequeno rebanho? Os fiéis espalhados no mundo e vinculados às diferentes confissões cristãs são mais de um bilhão, e isso faz do cristianimo a maior religião da atualidade. Do ponto de vista estatístico, não somos um pequeno rebanho, mas uma grande multidão. Mesmo sendo verdade que estamos diminuindo na Europa, o crescimento nos continentes africano e asiático continua mantendo nosso sentimento de superioridade.
Mas esta hegemonia numérica pode não significar muito do ponto de vista da fidelidade ao evangelho. O próprio Jesus não se deixava impressionar com as pequenas multidões que o seguiam, despertadas pelos sinais que realizava. Os discípulos e discípulas que entenderam o que significava crer em Jesus e seguir seus passos eram poucos, e mesmo esta minoria acabou abandonando-o quando foi acusado, preso, torturado e crucificado. Tudo recomeçou a partir de um pequeno rebanho fiel e corajoso.

“Onde estiver o vosso tesouro, aí está também o vosso coração.”
Quem crê em Jesus Cristo e segue seus passos tem um tesouro pelo qual está disposto a relativizar tudo o mais: o Reino de Deus. Estamos ainda lembrados que, no evangelho do domingo passado, Jesus nos advertia contra a tentação da ganância: o entesouramento de riquezas calcado na indiferença para com a sorte dos oprimidos que nos interpelam com sua simples presença é uma burrice fenomenal e um erro fatal que compromete o sentido do presente e também o nosso futuro.
No trecho do Evangelho deste domingo Jesus continua convidando a procurar bolsas anti-furto, pois onde guardamos nosso tesouro também depositamos o sentido da vida. Para aqueles/as que expressaram no batismo o compromisso de pautar a vida pelos passos e práticas de Jesus, não há riqueza mais preciosa que o Reino de Deus, o tesouro que deu sentido à vida de Jesus. Contribuir para que todos tenham vida em abundância é um valor primário, impagável e inegociável.

“Sejam como pessoas que está esperando seu senhor voltar...”
Mesmo que o Reino de Deus seja um sonho que se realiza muito lentamente e só será pleno no futuro, a atitude cristã é a espera ativa. É isso que Jesus nos ensina no evangelho de hoje, lançando mão de três pequenas parábolas: os empregados que esperam a volta do patrão; o dono da casa que toma precauções contra os ladrões; os administradores que um proprietário encarrega para tomar conta da casa durante sua ausência. Deus solicita as mãos dos que nele crêem.
Diante da solidez das estruturas injustas e da força dos hábitos arraigados somos rondados pela tentação da passividade ou da fuga espiritualista. Como não sabemos se o Senhor da história chegará antes da meia-noite ou se o Reino de Deus só se fará ver na madrugada distante e incerta, entregamo-nos ao sono da passividade, da indiferença ou da deserção. ‘Já que o Reino é de Deus, que ele mesmo abra a porta quando resolver voltar... Já fazemos muito se nos entregamos à oração...’
Nossa condição na história é de espera de alguém que está para voltar. Temos que estar acordados para abrir a porta quando ele chega e bate. Infelizmente, absorvemos a perigosa ideologia que prega que nada temos a esperar, e que na história valem as leis do mercado: quem pode mais, chora menos. Cremos sim que Deus existe, mas ele está tranquilo no céu e não voltará. Nós é que devemos ir a ele, atravessando a história na ponta dos pés, sem olhar para os lados e para os rostos que nos interpelam.

“Felizes os que o Senhor encontrar acordados!”
Precisamos esperar o Reino de Deus colocando-nos a serviço do povo de Deus. “Ficai de prontidão, em traje de serviço, e com as lâmpadas acesas.” Os que apostamos no caminho alternativo proposto por Jesus somos sim um pequeno rebanho, mas existimos para ajudar no parto da nova humanidade. Não podemos dormir sobre os efêmeros louros de um passado numericamente glorioso. A Igreja é um depósito de sementes que devem ser jogadas na terra.
É triste quando uma Igreja esquece sua razão de ser e se preocupa unicamente com seus direitos, poderes e tradições. Onde fica a missão de cuidar da casa de Deus e abrir a ele as portas? Se o próprio Deus faz seu povo sentar-se à mesa e veste trajes de servo, não faz sentido esta anacrônica e mortal luta por privilégios diante dos Estados. Adiar indefinidamente as urgentes reformas da Igreja é uma atitude imprudente e perigosa, pois o Senhor pode vir como ladrão e tudo o que parece sólido será ruínas.
Missão do povo de Deus é empenhar-se para que a humanidade receba seu trigo na hora certa, seja atendida em seus direitos fundamentais. Festejar com os grandes do mundo, embriagar-se com as falsas liturgias do poder, bater com a vara da excomunhão os próprios irmãos – inclusive porque propõem uma teologia diferente ou reconhecem os carismas ministeriais também nas mulheres – é coisa que nos iguala às figuras mais execráveis da história. E nos faz merecer chicotadas sem número.

“Pela fé ele viveu como errante na terra prometida...”
A condição dos cristãos na história é aquela dos administradores aos quais se confia o cuidado da casa, se pede vigilância e serviço aos irmãos e irmãs. Temos o direito de festejar e celebrar os inúmeros pequenos avanços do Reino de Deus, mas sem deixar-se embriagar perigosamente pelas ideologias do poder e do sucesso. Nossa condição é a mesma de Abraão: vivemos na história como errantes que ainda buscam uma pátria definitiva, mas que, todos os dias, abrem as mãos no serviço aos irmãos e irmãs.
Quem vive no mundo como errante, não constrói moradas definitivas, mas apenas tendas leves que podem ser armadas e desarmadas conforme a necessidade. O que fazer com o peso e a imponência das basílicas que enchem a cidade de Roma, com a inócua guarda-suíça, com os imutáveis códigos canônicos e litúrgicos que só interessam aos especialistas? Onde entram Jesus Cristo crucificado e sua Boa Notícia aos pobres em tudo isso? As mãos que se entregam ao incensamento se fecham aos necessitados...
Quem vive no mundo como errante parte sem saber onde vai chegar e corre o risco de não desfrutar daquilo que o move e mantém na estrada. Mas, sentindo-se peregrino e hóspede, dá o melhor de si para não poluir nem destruir os lugares por onde passa. E faz o possível para que os que vêm atrás possam usufruir de um caminho mais sinalizado e de um ambiente mais agradável. Deus solicita nossas mãos generosas e criativas. Os vales por onde passamos deveriam se encher de flores e espigas.

“Deus não se envergonha deles...”
Deus não se envergonha destes homens e mulheres que, por não abrirem mão do tesouro do Reino de Deus, foram ou são considerados doidos, insignificantes ou perigosos. São pais de família que, além de serem uma peresença terna e firme ao lado e à frente dos filhos e filhas, não lhes sonegam a mais bela lição: neste mundo somos peregrinos e hóspedes, mas cabe-nos fazer o possível para que ele seja melhorado e os bens circulem e cheguem a todos os seres humanos. Eis a herança mais preciosa.
Clara de Assis encantou-se pela loucura de Francisco e deu à luz uma comunidade de irmãs pobres, livres e orantes que produz frutos ainda hoje. Edith Stein fez da filosofia um caminho de humanização e de indentificação com os destino das vítimas. Domingos de Gusmão fez-se pobre para libertar o Evangelho das contradições de uma Igreja rica. Frei Tito enamorou-se da liberdade do seu povo e por ela sofreu a tortura que o matou por dentro. Margarida Alves achou melhor morrer na luta que morrer de fome. E Alfredinho resgatou a irmandade e a dignidade dos sofredores.
São pessoas que fizeram bolsas que não se estragam e adquiriram tesouros que ninguém pode roubar. O medo não as impediu de lutar. Elas só puderem saudar de longe a utopia que orientou sua vida, mas nós sabemos que Deus não se envergonha delas quando o invocam como seu Deus.
Pe. Itacir Brassiani msf

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Seja Você...

Não espere um sorriso, para ser gentil...

Não espere ficar sozinho, para reconhecer o valor de quem está ao seu lado.

Não espere o melhor emprego, para começar a trabalhar.

Não espere a queda, para lembrar-se do conselho.

Não espere a enfermidade, para reconhecer quão é frágil a vida.

Não espere para ter dinheiro aos montes, para ser solidário.

Não espere ganhar um amigo, mas conquistá-lo

Não espere por pessoas perfeitas, para então se apaixonar.

Não espere a mágoa, para pedir ou dar o perdão.

Não espere a separação, para buscar a reconciliação.

Não espere elogios, para acreditar em si mesmo, no seu valor.

Não espere a dor, para acredita em oração.

Não espere o dia de sua morte sem antes...

Amar a vida.

Seja sempre você, autêntico e único.(Autor: Carlos N)