sábado, 26 de março de 2011
sexta-feira, 25 de março de 2011
DEUS É ADORADO EM ESPIRITO E VERDADE, AÇÃO E FIDELIDADE
No primeiro domingo da quaresma fomos convidados a vencer o pecado na força da Palavra de Deus. No último domingo, o convite foi para escutar o Filho amado de Deus e Servo da humanidade. Neste terceiro domingo da quaresma somos convidados a descobrir a presença de Jesus no meio de nós. Ele vem ao nosso encontro como pedinte, mas desce às profundezas do nosso ser, derruba os muros que separam, liberta-nos de uma rotina de estéril dependência, desperta nossa Sede de Vida, relativiza as ideologias religiosas e nos torna capazes de missão. O vida é dom de Deus e não conhece limites nem fronteiras, diferente do poço de Jacó, fonte de divisões entre judeus e samaritanos.
“O povo, sedento de água, murmurava...”
Em plena travessia do deserto, no seu êxodo para a terra prometida, o povo de Deus se pergunta, cansado e quase devorado pela fome e pela sede: “Deus está ou não no meio de nós?” Da mesma forma, para muitas pessoas que hoje sofrem e suspiram por uma vida melhor e um mundo mais justo, a pergunta fundamental não é se Deus existe, mas se ele está mesmo presente na história, se ele se importa realmente com a sorte das suas criaturas.
Na pergunta do povo cansado de caminhar o que transparece não é somente uma dúvida de fé, mas também o medo de traçar o próprio destino e de avançar. Está patente o desejo de voltar atrás, mesmo que isso signifique voltar a uma forma vida controlada, minguada e explorada. A Igreja católica conhece bem este medo: arrastado por ele, vem abandonando sistematicamente os avanços conciliares e restaurando estruturas e práticas aparentemente mais seguras.
Moisés toca na rocha e a água brota abundante, um sinal credível da presença de Deus no meio do seu povo. O foco central do acontecimento rememorado não é um prodígio que estaria revelando um pretenso poder de Deus, mas a presença palpável de Deus na caminhada do seu povo escolhido, rumo à própria liberdade e autonomia. A narração proclama a presença libertadora de Deus em meio a todas as lutas humanas, por mais contraditórias que pareçam ser.
“Dá-me de beber...”
No evangelho de hoje, João nos apresenta Jesus como sacramento de Deus que vem ao nosso encontro. Ele se aproxima cansado, sedento, necessitado, pedinte. O mesmo Deus que fez surgir água no deserto aparece trilhando nossas estradas e pedindo nossa ajuda. E assim faz para provocar uma troca de dons, para nos ajudar a descobrir nossas próprias sedes, nosso Desejo mais profundo: conhecê-lo e viver plenamente. “Dá-me desta Agua Viva!”
Como aquela mulher da Samaria, às vezes imaginamos que somos poderosos, prendemo-nos às regras, doutrinas, instituições, tradições e leis, e não esperamos nada de novo. Inventamos muros que separam povos, religiões e culturas e esquecemos nossa própria Sede. Fazemos de conta que elas nos bastam e garantem a vida, e que fora delas não há vida possível e desejável. “Tu não tens balde e o poço é fundo... Como vais tirar esta água viva?”
Jesus nos lembra que as religiões, culturas, instituições, tradições e leis não estão em condiçõesde saciar as mais profundas sedes humanas. A função da religião não é estancar mas manter viva aquela Sede que dinamiza a vida de cada ser humano, que convida a trilhar caminhos não conhecidos, que fez descobrir novas possibilidades de organizar o mundo e a sociedade, que revela possibilidades alternativas de comunhão e solidariedade entre os povos.
“Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, mas...”
Como aquela mulher da Samaria, às vezes buscamos maridos ou uma sorte de muletas que possam sustentar nossos projetos pequenos e esgoístas: a pátria, a cultura cristã ocidental, a raça, a religião, a igreja, o partido ou, nos últimos tempos, o livre mercado. Pensamos que eles nos ajudam a viver e crer de modo correto: “Os nossos pais adoraram Deus sobre este monte, mas vocês dizem que é em Jerusalém que se deve adorá-lo...” Fora disso, no máximo, aderimos a alguma campanha ambiental bem localizada.
Mas com isso acabamos provocando apenas divisões e pobreza. A saída para os vazios e carências da vida e da história não é fabricar deuses à imagem e medida dos nossos medos e interesses. Agarrar-se e submeter-se a esta espécie de maridos ou senhores que encarnam ideologias tão totalitárias quanto frágeis só nos leva a esquecer nossa verdade mais verdadeira. A pretensão de aprisionar o Deus de Jesus Cristo em lugares e fórmulas não leva a lugar nenhum.
Precisamos compreender urgentemente que Deus procura verdadeiros/as adoradores/as, pessoas que adoram o Pai em espírito e verdade, ou em ação e fidelidade. Estes são os discípulos e discípulas que, como o Mestre, têm como alimento o desejo de fazer a vontade de Deus, completando e participando da sua obra: produzir vida abundante para seu povo, gerar mais solidariedade que divisão, exercitar mais acolhida que doutrina, propor mais ações do que palavras.
“Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz...”
O jeito de se aproximar, a acolhida sem limites por parte de Jesus leva aquela mulher da Samaria a descobrir sua própria verdade, inclusive seus erros. Assim ela deixa de repetir mecanicamente as ações determinadas pelo hábito, pela cultura e pela condição social e se torna “uma fonte de água que jorra para a vida eterna”. Ela ousa deixar o balde e correr à cidade para anunciar: “Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não seria ele o Messias?” Nasce aqui uma apóstola do Evangelho.
Como anuncia Paulo, por meio de Jesus Cristo estamos em paz com Deus e nos animamos na esperança. Esta esperança não engana, pois o amor de Deus já nos envolve e dinamiza mediante o Espírito Santo. E isso não porque já estejamos convertidos e isentos de pecado. Deus demonstra e garante para sempre seu amor porque se entregou por nós mesmo que sejamos pecadores. Eis a razão de nossa esperança. Eis o fundamento de onde parte a nossa missão.
No espírito da caminhada quaresmal, não podemos esquecer que esta fonte de água viva à qual Jesus faz referência é também uma alusão ao batismo. Enquanto encontro pessoal com Jesus de Nazaré nos caminhos da história e no seio da Igreja, o batismo nos devolve à própria originalidade e nos torna livres de tudo, fontes de liberdade para os demais, testemunhas alegres de um Deus que nos conhece porque nos ama, e nos ama não porque sejamos bons, mas porque ele é bom.
“Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto à fonte...”
Num lugar deserto, a água é escassa e adquire grande importância e sacramentaliza a vida, a hospitalidade e acolhida. Aquele poço tinha uma história de mais de 1000 anos, uma história eivada de conflitos, pretensões de exclusividade e de exclusões. Aliás, também hoje a água é fonte de conflitos. Mesmo que a ONU tenha declarado (em 08.06.2010) que a água (junto com o saneamento básico) seja um direito humano essencial, mais de 900 milhões de pessoas não têm hoje acesso à água potável.
Ao lado da falta de saneamento, a falta de acesso à água de boa qualidade é responsável direta pela morte 1,5 milhão de crianças com menos de cinco anos de idade somente na América Latina. É preciso que nos engajemos em primeira pessoa no combate ao desperdício e à poluição da água, assim como na revisão das prioridades de uso, colocando no centro o direito humano, de todos os animais e da própria terra (cf. CF 2011, n° 72). Também este é um sinal da fonte de água viva que jorra desde o nosso interior.
Hoje é o dia em que Jesus se aproxima e, sentado à beira do poço, volta a nós seu olhar e pede nossa colaboração. Ele marcou um encontro conosco, num poço qualquer, à beira de uma estrada. Ele é a rocha que se torna fonte de água abundante na qual somos batizados. Ele é a água acessível à nossa sede, o senhor que age como irmão, o semeador que nos convida à colheita, o profeta que desperta nossa profecia, o alimento que precisamos conhecer.
Como aquela anônima samaritana, Jesus peregrino, estamos demasiadamente seguros dos meios e doutrinas que recebemos da tradição e restringimo-lhes o acesso. Toca com tua mão, ou com o teu chicote de cordas, as pedras das nossas instituições e a crosta do nosso coração, libertando a água viva e livre que tentam aprisionar. E faz com que todos/as os/as que viemos a este encontro contigo experimentemos tua santa liberdade e nos tornemos testemunhas intrépidas de uma religião que não se compraz apenas na repetição de ritos e doutrinas. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf
sábado, 19 de março de 2011
Só a Solidariedade tem Gloria, Brilho e Credibilidade
No primeiro domingo da quaresima fomos convidados/as a vencer o pecado, a superar o medo frente à nossa própria finitude e impotência e a abrirmo-nos à Palavra que aponta para o infinito do nosso Desejo e para a limitação dos recursos do nosso Planeta. Neste segundo domingo somos levados/as a escutar o que Jesus nos diz mediante sua Palavra e suas ações. No centro do seu ensinamento está o desapego frente a qualquer superioridade ou privilégio, a solidária identificação com a pessoa humana comum, a comunhão de sonho e destino com a humanidade oprimida. E isso nada tem a ver com o desejo infantil de armar tendas nos píncaros do poder e nos shoping center’s, estas modernas e letais catedrais do consumo. Como Abraão, precisamos partir em busca de novos espaços de vida e de bênçãos para todas as famílias da terra.
“Que isso nunca te aconteça!”
Mateus começa sua narrativa registrando que o fato acontecera “seis dias depois”, e isso me parece importante. O que havia acontecido seis dias antes? Jesus perguntara aos discípulos o que o povo pensava sobre ele, e ouvira que em geral o identificavam como profeta. Interrogando os próprios discípulos, ouviu de Pedro uma resposta perfeitamente enquadrada no messianismo judaico, equidistante de qualquer sinal de humana vulnerabilidade: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!”
Jesus sentiu necessidade de corrigir este messianismo marcado pela idéia de poder e anunciou que em Jerusalém seria malvisto, preso, torturado e morto nas mãos das autoridades religiosas. Em nome dos discípulos Pedro reagira procurara dissuadir Jesus desse caminho, pois um Messias deveria manifestar o poder de Deus não poderia sofrer. Jesus indentificara nas palavras de Pedro uma tentação vinda do diabo e pedira que ele se afastasse e mudasse sua visão.
Na sequência, Jesus corrigiu atenta e demoradamente as expectativas de sucesso e honra que povoavam a mente e o coração dos discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,24-25). Mas parece que os discípulos, com Pedro à frente, não conseguiam – ou não queriam!? – compreender, nem sequer escutar...
“Este é o meu filho amado. Escutem o que ele diz!”
Fixemos agora nossa atenção na narração da transfiguração. Penso que o centro da mensagem está mais na dimensão auditiva che no aspecto visual. É verdade que a mudança no aspecto visual de Jesus – o brilho do rosto e das vestes – chamam a atenção dos discípulos e provoca entusiasmo e eles desejam prolongar no tempo esta experiência. Como sempre, experiências de poder e da glória tranquila, fugaz e mortal que as acompanham costumam embriagar e podem levar ao fanatismo.
Mateus nos faz saber que Jesus aparece acompanhado por Elias e Moisés e conversa com eles. Não faz referência ao conteúdo desta conversa, mas aí estão dois ícones da história do povo de Israel: Moisés faz lembrar o êxodo libertador e Elias recorda a profecia corajosa, radicada na experiência de um Deus que caminha com seu povo mas não se deixa prender em nenuma imagem. Liberdade e profecia parecem ser o conteúdo do diálogo, mas os discípulos estão mais interessados na glória e no explendor.
A nuvem paradoxalmente tenebrosa e luminosa que envolve os discípulos embriagados recorda o êxodo e, ao mesmo tempo, mostra que se trata de uma revelação importante. Se antes os discípulos estavam achando tudo muito bom e bonito, caem no chão e são tomados pelo medo quando são envolvidos pela nuvem. Parece que o temor é maior ainda quando ouvem a ordem: “Este é o meu filho amado, nele está o meu pleno agrado: escutai-o!” Não podemos esquecer a lição de um Deus crucificado por amor.
“Senhor, é bom ficarmos aqui!... Vou fazer aqui três tendas...”
Somos chamados a dar ouvidos a Jesus Cristo, a não renegar o messianismo que ele assume e propõe: o caminho do amor que serve e que dá a vida. Este é o caminho de Jesus de Nazaré e o caminho que ele propõem a todos os/as que querem ser seus discípulos/as. Ele não promete sucesso nem honra, mas pede esquecimento de si, amor sem fronteiras, profecia sem medo. Mas Jesus compreende nosso medo e nossa confusão. Aproxima-se e estende-nos a mão,: “Levantai-vos, não tenhais medo!”
É preciso ter precaução diante de algumas experiências religiosas. O intimismo e o espiritualismo que as envolvem podem ser perigosos, inclusive porque escondem uma inaceitável indiferença para com a sorte dos oprimidos e uma letal aliança com o poder das elites. A tentação de construir tendas e palácios em lugares inacessíveis aos simples humanos sempre rondou perigosamente a Igreja, e nem Pedro e seus sucessores são imunes a ela. É preciso descer da montanha e não esquecer a lição da solidariedade.
Mas a Campanha da Fraternidade nos recorda outra experiência que nos seduz perigosamente. Trata-se da sensação paradisíaca produzida pelo consumo insaciável de produtos sempre mais sofisticados e substituíveis. E não faltam pessoas que, embriagadas pelo falso brilho das mercadorias, propõem armar tendas nos shopings e paraísos turísticos, sem se preocupar com a montanha de lixo sobre a qual estão sentadas, com a acelerada diminuição da biodiversidade e com o iníquo e desigual acesso aos bens.
“Ele nos chamou a uma vocação santa.”
O caminho trilhado e proposto por Jesus Cristo, autenticamente humano e plenamente divino, é mais amor e serviço que sofrimento. Mas o amor não foge do sofrimento. Na prisão, Paulo experimenta isso na própria carne, mas o vive como graça. E pede que não nos envergonhemos da sua humanidade. É nesta humana capacidade de sofrer que se esconde a maior glória que podemos desejar. Uma vida testemunhada como amor e serviço traz em si a vitória sobre a morte e o brilho da imortalidade.
É isso que o velho Abraão, ouvinte da Palavra e pai da fé, nos mostra. Ele escuta e obedece um Deus que ele não vê e parte para uma terra que não sabe qual é nem onde fica. Totalmente aberto à Utopia e à inextinguível fecundidade da fé, Abraão parte confiando naquele que é fiel e guarda quem o teme, como diz o salmista. Ele é guiado pela confiança de que pó da estrada se mudará em terra plantada e o ventre seco de Sara abrigará uma vida promissora.
Eis nossa vocação! Somos chamados a ser filhos/as com o Filho e como o Filho: mais servos/as que senhores/as, mais irmãos/as que doutrinadores/as, mais próximos que administradores/as, mais caminhantes que doutores/as, mais ouvintes que locutores/as. São pessoas assim as que agradam e comprazem a Deus. Homens e mulheres assim não são multidões, mas são imprescindíveis. São sinais da humanidade nova e reconciliada que está em lenta e ininterrupta gestação.
“Levantem-se e não tenham medo!”
Neste segundo domingo da quaresma peçamos ao Senhor que abra nossos ouvidos e alimente a nossa fé com sua Palavra. Que ele nos ajude a superar a insaciável sede de sucesso, a destruidora fome de honra, a enganosa confiança no poder, a doentia prepotência do saber. Que ele nos ensine a caminhar ao lado das grandes testemunhas que viveram como profetas e testemunhas, servos/as e irmãos/as, inclusive aqueles que, mesmo não sendo cristãos, deram e dão o melhor de si pela vida do Planeta.
Como não lembrar aqui nosso inesquecível Dom Oscar Romero, de cujo martírio faremos memória no próximo dia 24? Com sua vida atormentada na busca da fidelidade ao Evangelho ele nos ensina a não cair na tentação de armar tendas nos espaços tranquilos dos templos enquanto os templos vivos de Deus são desfigurados. Ele nos ensina a descer da montanha e manter o rumo da caminhada ao lado dos pobres, mesmo que isso leve a duros enfrentamentos. Sua memória nos pede mais conversão que beatificação.
Deus Pai e Mãe, que te comprazes no amor concreto e generoso dos teus filhos e filhas: diante de ti depositamos os humildes dons da nossa vida, entre os quais a disposição de escutar e compreender sempre melhor a Palavra e o Caminho do teu Filho e nosso irmão. Esperamos ser acolhidos no amor que congrega e alimentados pela Palavra que renova as forças. Ajuda-nos a escutar e acolher o que teu Filho nos ensina com sua firme decisão de ser aliado e parceiro dos homens e mulheres nos seus sonhos e lutas, e de compartilhar os custos neles implicados. Não nos deixes cair na tentação de armar piedosas tendas longe das dores e dos clamores das tuas criaturas e faz com que retornemos desta Eucaristia revestidos da coragem dos profetas e da esperança dos sonhadores. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf
sexta-feira, 11 de março de 2011
A TENTAÇÃO É COLOCAR DEUS A SERVIÇO DOS NOSSOS INTERESSES.
A Quaresma nasceu como batequese batismal, com o objetivo era iniciar os novos cristãos nos mistérios essenciais da vida cristã. Na liturgia renovada pelo Concílio Vaticano II este objetivo foi reassumido, agora como aprofundamento dos aspectos mais importantes da vida cristã. Há quase 50 anos, a Igreja do Brasil promove a Campanha da Fraternidade, propondo traços e contornos concretos para a permanente necessidade de conversão. Neste domingo, somos lembrados de que simples pão é incapaz de saciar-nos em profundidade, pois nossa fome é também de beleza, de justiça, de comunhão agradecida e responsável com o destino do Planeta. Mas a Palavra de Deus nos adverte também que a tentação que nos espreita é esta: subordinar Deus e sua vontade aos nossos interesses e caprichos. E o resultado palpável é um Planeta feito aos pedaços, moribundo e mortífero.
“Vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus...”
A poetiza e mística mineira Adélia Prado diz suspirando: “Para minha sede, o oceano não passa de uma gota...” Os psicólogos dizem que somos criaturas de desejo, e os filósofos preferem dizer que somos seres finitos, inacabados, abertos a caminho. O mundo, com todas suas coisas e experiências concretas, não nos satisfaz. Desejamos mais, desejamos tudo, ansiamos pelo Tudo. Somos como que um nó no qual se cruzam muitos fios. Mesmmo que de forma incosciente, estamos em comunhão com tudo e com todos.
É disso que trata a parábala do Paraíso. Adão e Eva habitam um jardim e têm à sua disposição plantas bonitas aos olhos e gostosas ao paladar. São modelados com o pó da terra e compartilham da bondade e da beleza das criaturas. Mas experimentam também o limite de não poderem provar do fruto da árvore do bem e do mal. Mas eles não se conformam com esta condição, e desejam mais. E provam o amargo sabor do mal quando imaginam saciar este vazio com alguma coisa.
A satisfação plena dos desejos aparece como delícia para os olhos e caminho para a sabedoria. Mas, experiência nos ensina dolorosamente que não conseguimos mais que tomar consciência de nossa própria nudez: somos seres irremediavelmente limitados, imperfeitos e incapazes de alcançar a plenitude. Mas isso não nos deve intimidar, pois próprio Deus é carência e vem ao nosso encontro. Ele é apaixonado pelo Nada que somos, pela Abertura vazia e carente que nos move para o Outro e para o Futuro.
“Jesus foi conduzido ao deserto...”
O deserto é uma metáfora da condição humana. Ele não representa apenas algumas situações de impotência e de crise mas a inteira condição humana: uma imensidão informe, ameaçadora, tentadora, misteriosa, dependente da água, e, ao mesmo tempo, uma realidade portadora de inúmeras possibilidades e belezas. Como a Jesus, o Espírito nos conduz a este deserto, nossa realidade mais profunda, o exigente espaço das tentações/tentativas de fuga.
Pouco antes, Jesus havia dito que era preciso cumprir toda a justiça, assumir a condição humana com todas as consequências, inclusive a incapacidade de realizar o Desejo mais profundo. Ele havia experimentado sua condição de Filho querido, precioso para o Pai. Mas parece que também a ele custa assimilar o essencial do ser humano: sua carência e impotência, a fome, a falta de imagens palpáveis de Deus. Sua tentação é expressar sua divindade e sua humanidade como saciedade, poder e manipulação de Deus.
Trata-se de um enfrentamento profundo ao qual também nós somos conduzidos. Como Jesus, fazemos tentativas mais ou menos desesperadas de preencher nosso Vazio, de fugir da condição humana, de ser uma espécie de deus. Mas Deus é muito diferente! Ele é como Fogo que queima em forma de Desejo insaciável, Abismo que fascina e atemoriza, imenso Vazio que nos acolhe como somos, Caminho que nos leva adiante de nos mesmos sem prometer nenhum ponto de chegada.
“Não porás à prova o Senhor te Deus!”
Jesus de Nazaré, verdadeiro Deus e e Homem verdadeiro, nos abre o caminho da Salvação, da realização plena. Ele relativiza as tentativas e vence a tentação de renegar nossa vulnerabilidade essencial e de realizar a vontade de Deus pelas vias do poder. Ele experimenta que nossa Fome radical só pode ser saciada pela Palavra que sai da boca de Deus, pela Utopia para a qual acena reiteradamente. Ele ensina que Deus vem em nosso auxílio exatamente quando renunciamos a pô-lo à prova.
A tentação humana expressa na parábola de Adão e Eva é a pretensão de assemelhar-se a um deus que pouco tem a ver com aquele que se revelou em Jesus Cristo, ou seja: um ser que pretensamente pode tudo, sabe tudo, preside tudo e é indeferente a tudo. É a tentação de negar a condição humana, e isso acaba levando-nos à perversão das relações com as pessoas, com as demais criaturas e com o próprio Deus. O resultado é a fé no desenvolvimento, a adesão ao ritual do consumo e o culto ao dinheiro.
O Desejo que move as entranhas de Deus é outro: tornar-se humano, assumir nossa condição em todos os seus mistérios e limites, aproximar-se e ser um de nós. Em Jesus de Nazaré este Desejo assume contornos históricos, com suas marcas de indefinição e de busca. Nele nos são reveladas, a um só tempo, o Desejo divino e a Vocação humana. O ser humano é êxodo do fechado egito dos medos e interesses e, ao mesmo tempo, advento de uma realidade aberta e solidária.
“Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra...”
Deus e Homem não são nem estranhos, nem cocorrentes. Antes, são parceiros, parentes e companheiros. Em Jesus Cristo, a imagem segundo a qual somos criados/as, a vocação à qual somos chamados/as se mostra com clareza e concretude. Elm suas palavras e ações, lutas e buscas, louvores e clamores, distanciamentos e aproximações, ele expressa com clareza o que significa ser humano e como é Deus em si mesmo e para nós. E nós somos feitos semelhantes a esta imagem.
Desta semelhança de origem brota um idêntico modo de agir. A ação de Deus se rege pela criatividade e pelo cuidado. Para ele, o mundo não é um banco de recursos prontos para serem explorados pelos que podem, mas um jardim a ser cultivado e guardado responsavelmente. O núcleo do sonho de Deus para o mundo é a árvore da vida: dela todos as criaturas podem e devem se alimentar. As distorções e injustiças nascem da arrogância de quem quer decidir por si e para si mesmo o que é o bom e o que é ruim.
A questão central colocada pela liturgia de hoje é esta: quem define e orienta nossos projetos e ações, qual é o horizonte que dá sentido ao que fazemos? Somos nós mesmos, fechados em nossos medos e interesses individuais e grupais? O amor absoluto a si mesmo leva a relativizar tudo, vem do diabo, cristaliza os poderes e conduz à morte. O amor lúcido e profundo a Deus e à sua criaço leva à ruptura com os estreitos limites ideológicos, amplia a liberdade, vem de Deus e multiplica as forças da vida.
“Que me sustente um ânimo generoso...”
A reflexão da Campana da Fraternidade lembra que que o uso das criaturas para o nosso sustento e sobrevivência é imprescindível, pois o homem foi colocado como o zelador das coisas, mas tudo lhe ficou à disposição. “O problema está no uso indiscriminado das coisas, na gastança desmedida, no consumismo desenfreado das coisas, muitas vezes supérfluas. É necessário resgatar a sobriedade no consumo das coisas que nos são necessárias e evitar desperdícios” (Texto-Base, 85).
O mesmo Texto lembra que o atual paradigma de desenvolvimento, a humanidade consome 125% dos recursos que o Planeta pode efetivamente disponibilizar e ainda joga mais de 1 bilhão de pessoas na miséria. É impossível manter a atual escalada de consumo que se globaliza a passos largos. É preciso diminuir o consumo das elites para suprir as necessidades dos mais empobrecidos. Urge um novo paradigma civilizacional, baseado na solidariedade entre as pessoas e com o próprio Planeta (cf. 56-62).
Deus querido, Pai e Mãe de todas as criaturas. És altíssimo porque vieste para perto de nós e aqui quiseste permanecer. Em Jesus, teu filho e nosso irmão, revelaste quão profunda e vivificante é tua paternidade, que tem sabor de maternidade. Que teu Espírito nos conduza nas muitas travessias que nos esperam. Que ele nos ajude a encontrar na tua Palavra a orientação segura que nos impeça de transformar a religião numa ideologia que sustenta a exploração tanto dos seres humanos como da natureza. Que ele nos sustente na bela e exigente tarefa de gerar uma civilização baseada no consumo sóbrio e responsável e na solidariedade compassiva com todas as criaturas. E que ele nos liberte do medo da Vulnerabilidade, da terrível necessidade de sermos sempre o primeiro, o príncipe, o melhor, o superior. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf (13/03/11)
quinta-feira, 10 de março de 2011
Prevenção na 34ª Romaria da Terra
Na oportunidade, a Casa Fonte Colombo e a Pastoral da Aids marcaram presença no trabalho de prevenção a Aids através da distribuição de materiais e nas informações aos romeiros sobre o HIV/Aids. Também contou com a colaboração dos integrantes da Paróquia São Sebastião de Bagé.
segunda-feira, 7 de março de 2011
Exigência da Vida Moderna(quem aguenta tudo isso???)
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C.
Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir o diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água.
E depois uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).
Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também.
Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.
Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem.
O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber...
Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada.
Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia. UFA!!!
E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.
Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia. #@&*#!<> NÉ!!!
Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito. TÁ DIFICILLLLL!
As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia.
Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).
E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar das minhas amizades quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.
Ah! E o sexo!!!! Todos os dias, um dia sim, o outro também.
Dizer EU TE AMO, toda hora. ''Ainda pego quem inventou essa neura...que sac o!!!''
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Se tiver tem que brincar com ele, pelo menos meia hora todo dia, para ele não ficar deprimido...
Na minha conta são 29 horas por dia.
A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!!!
Tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes ao mesmo tempo.
Chame os amigos e seus pais, seu amor, o sogro, a sogra, os cunhados....
Beba o vinho, coma a maçã e dê a banana na boca da sua mulher. Não esqueça do “EU TE AMO”, (Vou achar logo quem inventou isso, me aguarde).
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora voce tá ferrado mesmo é se tiver criança pequena. Aí lascou de vez, porque o tempo que ia sobrar para você... já era. criança ocupa um tempo danado. Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro e correndo.
E já que vou, levo um jornal... Tchau....
Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.
Luís Fernando Veríssimo
sexta-feira, 4 de março de 2011
A Fé sem ação é sintidmento vazio e abrigo perigoso
É conhecida a resposta que Gandhi teria dado a um jornalista que lhe perguntara por quê não se tornava cristão: “Eu considero o Evangelho de Jesus Cristo um belo e verdadeiro caminho de liberdade, mas não vejo este testemunho de liberdade na vida dos cristãos”. Precisamos tomar consciência da distância que existe entre a nossa adesão formal ou intencional a Jesus Cristo e as nossas práticas e opções concretas. Gostamos demais do louvor, das aclamações, das mensagens belas e descafeinadas que circulam na internet, dos bons sentimentos, da escuta tranquila da Palara de Deus no ambiente harmônico dos templos... Mas a nossa fé deve aparecer nas práticas, ou então não é verdadeira.
“A pessoa é justificada pela fé...”
Para sublinhar a novidade e a gratuidade da vida possibilitada por Jesus Cristo, São Paulo gosta de repetir alguns princípios: todos os seres humanos estão sob a influência do dinamismo do pecado e não conseguem por si mesmos a plena realização de suas metas; Jesus Cristo concede a todos os homens e mulheres e de forma gratuita a possibilidade de uma vida realmente livre e solidária; todas as pessoas alcançam esta liberdade e realização mediante a fé que age pelo amor.
Dizer que somos salvos pela fé e não pelas obras significa afirmar que alcançamos a plena realização da nossa vocação no mundo abrindo-nos aos outros e ao futuro, e não fechando-nos no presente e nos interesses e vantagens individuais. A ação redentora de Jesus Cristo, prolongada no tempo e no espaço pelo Espírito enviado como graça e força a todas as criaturas, é fundamentalmente uma abertura real e ativa à Vida que se realiza em nós e no nosso tempo, mas que sempre nos ultrapassa.
Nesta perspectiva, a Palavra de Deus tem força de salvação porque, despertando-nos e colocando-nos em atitude de escuta, rompe com as forças de ensimesmamento e nos chama a fazer do outro que fala e interpela nosso centro de atenção e ação. E esta abertura não tem nada de passividade: é uma ação no sentido mais pleno e profundo da palavra. A própria Palavra de Deus não é substantivo nem adjetivo, mas verbo, ação. A fé que salva nada tem a ver com passividade!
“Prendei estas palavras como sinal às vossas mãos...”
O livro do Deuteronômio é uma espécie de longa catequese ou detalhada homilia que Moisés dirige ao povo hebreu antes da sua entrada na terra prometida. Em todo o livro predomina um clima de memória dos acontecimentos fundamentais do Egito e da travessia do deserto. Ao mesmo tempo, o livro do Deuteronômio oferece uma série de advertêmcias e orientações para o futuro próximo e remoto, quando as tribos tiverem conquistado a terra prometida e nela estabelecido moradia.
“Coloquem estas minhas palavras no seu coração e na sua alma...” É preciso que a memória da presença ativa e libertadora de Deus nos acontecimentos desça da cabeça ao coração e se estabeleça como princípio de vida, atinja a ‘alma’ da pessoa. A fé não pode se deter no simples sentimento de gratidão ou de confiança, por mais nobre que seja. A Palavra de Deus – clamor e promessa – precisa penetrar na medula do nosso ser e ser assimilada como princípio e horizonte de vida.
“Amarrem estas palavras na mão, como um sinal.” Da mente ao coração, do coração à alma, da alma às mãos. A fé no Deus que se revela aliado da humanidade e companheiro nas suas lutas é frutuosa na medida em que une num mesmo movimento o pensamento, o sentimento, as opções e as práticas concretas. “Cuidem de colocar em prática”, insiste Moisés. Como nos lembra magistralmente o Capítulo 11 da Carta aos Hebreus, a fé é sempre dinamismo histórico de resistência e de ação.
“Nem todo aquele que me diz ‘Senhor!’ ‘Senhor!’...”
Estamos no contexto das bem-aventuranças, no epílogo do “sermão da montanha” (cf. Mt 5,1-7,28). Depois de acenar para a felicidade desejada por todos e alcançada pelos pobres em espírito, pelos que sofrem, pelos mansos, pelos que têm fome e sede de justiça, pelos que fazem a paz e praticam a misericórdia, pelos que mantém a integridade e suportam as perseguições, Jesus propõe aos discípulos e discípulas uma fé mais radical que aquela mostrada pelos fariseus e doutores da lei.
E Jesus de Nazaré conclui esta famosa pregação recolhida por Mateus acentuando a dimensão prática, ativa e concreta da sua Boa Notícia. Sua Palavra é bela, e é tão saboroso quanto necessário meditá-la demoradamente. Mas é preciso evitar a tentação de ficar na superfície e na exterioridade, pois isso significa fazer o mal, como não socorrer as pessoas necessitadas (cf. Mt 25,41-46). O Evangelho sofreria uma espécie de piedoso sequestro se não levasse a uma ação renovada e consequente na sociedade.
É um engano imaginar que basta ter as palavras da bíblia ‘na ponta da língua’, anunciar o nome de Jesus como único e suficiente salvador, dirigir a ele orações constantes e fervorosas. Há até quem se apresente como bom e exemplar, provocando obras de efeito, supostos pequenos ou grandes milagres. Mas isso significa pouco e é perigoso se não vier sustentado pela prática de ‘toda justiça’, pela aproximação ativa e solidária dos últimos, pela tranformação até à raiz do próprio ser.
“Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores...” Estas palavras não se dirigem a pessoas que não praticam atos religiosos, mas exatamente àquelas que reduzem a fé a uma repetição de palavras, fórmulas, doutrinas e ritos. Faz o mal (é malfeitor) não simplesmente quem que se distancia da religião, mas quem, recorrendo até a piedosas desculpas, evita a aventura da fé e foge da prática da Palavra ouvida e meditada. A Palavra de Deus precisa ser luz que ilumina a caminhada (cf. Sl 119,105).
“É como um homem sem juízo...”
Somos chamados a ser pessoas sensatas e ajuizadas, a edificar a vida sobre fundamentos sólidos. A palavra ‘casa’ faz lembrar família (em hebraico usa-se o mesmo substantivo para dizer casa e família) e comunidade (a casa ou família de Deus). Pessoas com juízo não edificam a vida e a Igreja sobre simples palavras. Uma Igreja que queira ser fiel ao seu Fundador e significativa para o mundo não pode se limitar a hinos, doutrinas e decretos. A casa cairia e a ruína seria completa...
É pelos frutos que se conhece a qualidade da árvore. É pelas alianças que se conhecem os reais princípios de um partido. É pelas ações cotidianas que uma pessoa se dá a conhecer em profundidade. É pela qualidade do serviço aos pobres e injustiçados que se conhece a fé de uma comunidade eclesial. Ser sal da terra e luz do mundo implica em gastar-se e perder-se para que a vida não se corrompa, em ‘se desviver’, como dizem os irmãos e irmãs de língua espanhola.
Jesus Cristo não se reconhece nas pessoas que apenas anunciam seu nome e em seu nome fazem ações espetaculares. Não precisamos recorrer a Marx para enfatizar a necessidade da ação transformadora, até porque esta ação é política e econômica, mas vai muito além do trabalho e da ação revolucionária. Jesus Cristo é suficientemente claro e enfático para nos tirar da piedosa letargia das celebrações e da sedutora beleza dos castiçais, incensos, alfaias e cânticos. Tempestades tardam mas costumam vir...
“Pelo teu nome, me diriges e me guias.”
Na próxima segunda-feira (7 de março), celebramos a memória das santas Perpétua e Felicidade, mulheres norte-africanas martirizadas a mando do Império Romano, no ano 203. E, no dia seguinte, celebramos o Dia Internacional da Mulher, reverenciando milhares de mulheres que padeceram sob as garras do machismo, do patriarcalismo, do capitalismo e tantos outros ‘ismaos’, e de milhões de companheiras que ainda hoje lutam pela igualdade e pela diferença.
Com honestidade e um pouco de remorso pergunto: e qual é a condição das mulheres no cristianismo católico romano de hoje? Causam dor e asco as justificativas esfarrapadas que saem da boca e das penas de suntuosos hierarcas brancos, ocidentais, machos e celibatários para excluir as mulheres dos ministérios. Gritam “Senhor! Senhor!” nas praças e púlpitos, pedem ao Senhor da Messe que envie vocações porque a missão é demasiado grande, mas negam o ministério à metade do povo católico...
A ti, Jesus de Nazaré, Profeta da boa notícia e caminho para o Reino, voltamos nosso olhar e nossa prece. Dá-nos a coerência entre o que anunciamos e o que fazemos. Livra tuas Igrejas da passividade diante dos males que golpeiam teus filhos e filhas e do refúgio na doutrina e nos ritos. Cura tuas comunidades da incoerência que as leva a negar com a vida aquilo que anunciam com as palavras. E faz com que tua santa Palavra desça da cabeça ao coração e do coração às mãos. Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf